Pela direcção da APDC *

Iniciar um novo ciclo

No próximo ano, viveremos dias de grande incerteza, à medida que a crise que começou no sistema financeiro for alastrando à economia real. A recessão económica mundial é já uma certeza, sendo impossível determinar qual será seu impacto real. E muitos defendem já que desta crise sem paralelo poderá mesmo surgir uma nova ordem económica mundial. É neste cenário que terão que actuar em 2009 as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), contando para além desta profunda mudança estrutural, com os desafios próprios e de grande dimensão de um sector em evolução tecnológica acelerada e, porventura, disruptiva.

2009 será, sem quaisquer dúvidas, o ano do arranque efectivo das Redes de Nova Geração (RNG) em Portugal. Esta será a nova infra-estrutura para o País, cujo impacto se irá sentir durante décadas, já que será o novo padrão de comunicação expectável para as próximas décadas. O que significa uma verdadeira revolução nas comunicações. As RNG terão de ser o tema fundamental da agenda não só de 2009 mas também dos próximos anos. O investimento neste âmbito tem de ser encarado como prioridade nacional, havendo já o compromisso e o empenho activo do Governo nesse sentido. E as decisões que se tomem agora terão um impacto fortíssimo durante anos ou mesmo décadas.

Definido o necessário quadro regulatório, há que avançar rapidamente no terreno. Um roll-out acelerado poderá trazer vantagens significativas no médio prazo para a economia portuguesa e poderá mudar a posição relativa do nosso País não só no contexto europeu como mundial. Um País coberto de fibra óptica tem condições únicas de crescimento e sustentabilidade, o que reforça o sentido de urgência desse investimento. Portugal em fibra óptica tem que ser um tema maior de política pública, ao nível local, regional e nacional.

As RNG vão representar uma revolução nas comunicações, sendo para os operadores, a possibilidade de terem uma nova arquitectura de rede, tudo baseado em IP, mais eficiência e menores custos, mais competitividade, novos serviços inovadores. Para a economia, representará uma maior competitividade, possibilidade de teletrabalho, telepresença, mais colaboração. E para os consumidores, traduzir-se-á em novos serviços, mais escolha, mais vida em rede, mais trabalho remoto e “on the move”, melhor acesso e produção de informação/conteúdos, nomeadamente vídeo.

Este é um tema incontornável da agenda do investimento das TIC para o próximo ano, numa altura em que o sector precisa de apostar em força em maiores velocidades de acesso e mais serviços ao consumidor para garantir o crescimento das receitas num mercado já massificado. Há que procurar novas áreas de negócio que compensem a estagnação nos segmentos tradicionais.

Tema incontornável é também o do combate às alterações climáticas. Como ficou bem demonstrado pelo “Smart Portugal 2020”, no que foi o primeiro caso, a nível mundial, de aplicação das metodologias e dos conceitos desenvolvidos pelo “Smart 2020” a uma realidade nacional, há nesta área um enorme potencial de negócio para as TIC. Com o estudo, a APDC pretendeu demonstrar que não há dúvidas de que as oportunidades de negócio que surgirão com as medidas de combate às alterações climáticas serão inúmeras. Quantificou-se o potencial impacto do sector na redução das emissões produzidas pela economia nacional até 2020 e identificaram-se as novas oportunidades de negócio. Esta é, a par das RNG, uma prioridade da actual Direcção da APDC, dada a sua importância estratégica não só para o sector como para a sociedade portuguesa e o próprio posicionamento do País.

A APDC pretende levar as TIC a assumir um papel de liderança nas alterações climáticas em Portugal. É que, sendo os compromissos europeus de redução de gases com efeito de estufa muito ambiciosos, será impossível alcançá-los sem as TIC e a sua capacidade de inovar. Fizemos um verdadeiro “call for action” ao mercado, mobilizando-o para uma nova agenda de oportunidades, onde as parcerias entre sectores surgem como fundamentais para garantir a sustentabilidade ambiental, definindo-se oportunidades de negócio que representem soluções “win-win-win”, trazendo benefícios economicamente quantificáveis para todos os envolvidos. Soluções que, ao mesmo tempo, beneficiarão a sociedade portuguesa, ao reduzir significativamente as emissões de gases de efeito de estufa.

A Associação vai continuar em 2009 a promover um intenso debate à volta destes dois temas estratégicos para as TIC portuguesas e para o próprio País. Porque queremos acelerar o futuro no domínio das RNG e das Alterações Climáticas. E porque as alturas de crise, como a que atravessamos, são sempre momentos de reinvenção de negócios e de inovação. Especialmente num sector que, ao longo de 2008, já conheceu dias de forte reforço da concorrência, especialmente ao nível dos serviços, delineando-se no mercado quatro grandes operadores globais de comunicações, a par de mais alguns projectos vocacionados para nichos de negócio.

Mas não nos podemos esquecer também das determinações de Bruxelas no sentido de trazer mais concorrência às comunicações electrónicas, com destaque para a implementação do novo pacote legislativo, a Revisão 2006, que vai de novo alterar o quadro regulatório europeu, com impacte directo no mercado, ainda por avaliar. Como aliás já aconteceu ao longo de 2008, com as determinações de Bruxelas, nomeadamente ao nível das comunicações móveis.

Destaque ainda para a actuação do regulador nacional das comunicações, a Anacom, que tem vindo a avançar com determinações também para promover a concorrência do mercado. 2009 poderá ser, finalmente, o ano da introdução da Televisão Digital Terrestre, pelo menos no que respeita ao arranque da plataforma de transmissão dos canais em sinal aberto, já que quanto à plataforma paga o processo conheceu recentemente um novo recuo, aguardando-se agora a decisão judicial. Será ainda atribuído o quinto canal gratuito, no âmbito do processo da TDT. E deverá ser lançado o concurso para a prestação do serviço universal de comunicações.

Tal como 2008, o próximo ano será sem dúvida um ano de grande animação nas TIC, com concorrência acrescida, diluição crescente das fronteiras entre os negócios, posicionamento cada vez mais global e ofertas convergentes. A necessidade de reforço dos investimentos nas redes é uma evidência e há que ultrapassar os constrangimentos e o impacte negativo da crise económica mundial que deverá atingir o seu auge ao longo de 2009 num sector que é cada vez mais transversal e estruturante para os cidadãos, a sociedade e o País. Inovar é a palavra-chave e há que avançar com uma verdadeira mudança cultura, com mais aceitação do risco e do que é novo. Para que o sector entre no novo ciclo.

* APDC - Associação Portuguesa para o DEsenvolvimento das Comunicações

Veja também os desejos de outras associações convidadas a comentar o ano de 2009 pelo TeK, em 6 Desejos para 2009: A lista de desejos das associações do sector.