O sector de outsourcing com recurso às tecnologias de informação emprega actualmente mais de 10 mil profissionais em Portugal e gera cerca de 1.000 milhões de euros por ano, o que representa cerca de 0,66% do PIB. Os números são da Associação Portugal Outsourcing que esta semana promover uma conferência em Lisboa onde voltou a defender a importância da internacionalização e a necessidade de criar um cluster forte de empresas do sector.

O TeK aproveitou a oportunidade e colocou algumas perguntas a José Galamba de Oliveira, presidente da Associação, que explicou as expectativas que existem com as medidas impostas pelo acordo da Troika e oportunidade que a actual crise económica pode representar para as empresas, mesmo na área da Administração Pública, embora admita que a contenção financeira a que os clientes estão sujeitos possa levar a uma redução das margens no sector.

TeK: A criação de um cluster português de Outsourcing já é apontada há algum tempo como uma das soluções para o maior desenvolvimento do sector. Porque não avança? Há falta de cooperação entre as empresas desta área?
José Galamba de Oliveira:
A criação de um cluster português de Outsourcing tem efectivamente vindo a ser apontada há algum tempo como uma das soluções para o maior desenvolvimento do sector, sendo esse, naturalmente, um dos principais objectivos da actividade da Portugal Outsourcing pelos ganhos evidentes que naturalmente proporcionaria para o sector e para o país. O alcançar desta mesma solução, embora não tendo avançado ainda de forma consistente, tem vindo a fazer parte da actividade da Associação. Criada há apenas dois anos e meio atrás, quando não existia anda uma entidade que reunisse os principais players do nosso país em torno de metas comuns, temos vindo a observar na Portugal Outsourcing uma forte cooperação entre as principais empresas do sector, nossos associados. Estes factos, à parte da necessidade crescente de aumentar o volume de exportações dos nossos serviços, irão conduzir, a curto prazo, à criação deste mesmo cluster.




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TeK: A associação tem referido a necessidade de reformas a nível da Justiça, Trabalho e Fiscalidade como condições para o desenvolvimento do sector. Acreditam que este novo Governo que hoje toma posse poderá ser mais sensível a estes argumentos? E as medidas impostas pela Troika já respondem de alguma forma a alguns destes requisitos?
J.G.O:
As medidas impostas pela Troika nas áreas mencionadas respondem efectivamente a alguns destes requisitos, pelo que a Portugal Outsourcing espera que este novo Governo trabalhe em torno destas questões por forma a agilizá-las e, consequentemente, aumentar a possibilidade do desenvolvimento do sector fruto das reformas a efectuar naquelas áreas que, actualmente, impõem condicionalismos concretos: Justiça, Trabalho e Fiscalidade.

TeK: Em termos de internacionalização do sector, que mudanças sentiram no último ano? Há casos positivos a apontar?
J.G.O:
Ao longo do último ano pudemos observar não só o aumento das exportações de serviços dos players portugueses como da actividade exportadora instalada em Portugal pelas empresas multinacionais que apostaram no nosso país, pelo que há, efectivamente, um conjunto de casos concretos que demonstram que a internacionalização do sector é uma tendência viva.

TeK: Este ano a Gartner colocou Portugal na lista de 11 países desenvolvidos a serem ponderados para "a realização de outsourcing de Tecnologias de Informação e processos. Já estão a sentir efeitos positivos desta classificação?

J.G.O:
Sem dúvida que este reconhecimento foi um marco muito relevante para o nosso sector, considerando-se que Portugal não ocupava qualquer lugar no radar internacional dos países prestadores de serviços de outsourcing até finais de 2010. A importância deste tipo de rankings, dos analistas globais de referência, faz-se evidentemente notar quando contactamos com entidades globais que se relacionam directamente com este tipo de serviços – analistas, advisors, advogados, banca de investimento – , e com clientes internacionais, pela forma como passaram a olhar e a querer saber mais sobre o nosso país. No entanto, não só estes processos levam tempo a consolidar-se como a crise económica que o nosso país atravessa é lesiva de um maior desenvolvimento do sector, pelo que acreditamos que mais efeitos positivos virão à medida que Portugal consiga dar mostras da sua capacidade de fazer face à situação actual e continuem os players do sector a desempenhar a sua actividade exportadora com os níveis de excelência que actualmente lhes são reconhecidos.

TeK: A actual conjuntura traz novos desafios a todas as áreas económicas, mas também ao outsourcing. Vêem a situação como uma oportunidade das empresas optimizarem custos transferindo funções para “fora de casa” ou parece-lhe que nos próximos três anos se pode sentir uma retracção na facturação das empresas desta área?

J.G.O:
A Portugal Outsourcing vê a actual conjuntura como uma clara oportunidade, fruto do valor acrescentado dos serviços de outsourcing ao nível da redução de custos e da optimização dos processos das empresas e do aumento da eficiência nas empresas, focos principais e bastante actuais da grande maioria dos clientes do sector. No entanto, parece-nos ao mesmo tempo claro que a actual conjuntura afecta o mercado do outsourcing, provocando uma redução do investimento por parte dos clientes, o que conduz a uma redução generalizada dos preços, não atingindo os prestadores margens idênticas às praticadas antes de se sentirem os efeitos da crise.

TeK: Com os cortes previstos na Administração Pública, reduz-se o potencial que tinha sido identificado nesta área como possível impulsionador do sector de outsourcing?

J.G.O:
O histórico que conhecemos de outros países que se assumiram como principais players globais do sector do outsourcing, nos quais a opção por estes serviços pelas Administrações Públicas respectivas conduziram a consideráveis reduções de custos públicos, levam-nos a acreditar que o potencial identificado nesta área se mantém como possível impulsionador do sector. Para tal acontecer, será no entanto necessário não só levar adiante o conjunto de reformas referidas anteriormente como quebrarem-se uma série de condicionalismos de cariz cultural que ainda existem em Portugal, o que nos tem levado a manter conversas com as entidades governamentais no sentido da clarificação dos modelos possíveis da nossa oferta de serviços.