
Por Miguel Oliveira (*)
Nos últimos anos, temos vindo a assistir a ciclos tecnológicos que despertaram entusiasmo e receios em partes iguais. Primeiro vieram as redes sociais, depois o blockchain e o metaverso, e agora, inevitavelmente, chegou a Inteligência Artificial. Em todos estes momentos existiu uma força comum, emocional mais do que racional, que impulsionou muitas empresas a tomarem decisões rápidas e, por vezes, precipitadas: o medo de "ficar de fora".
Este fenómeno, conhecido como FOMO (Fear of Missing Out), pode levar empresas a apostar em novas tecnologias sem que exista uma estratégia clara ou um entendimento profundo das suas implicações. Tal como aconteceu anteriormente com perfis de redes sociais criados apenas porque sim, ou com NFTs lançados sem uma utilidade concreta, vemos agora organizações a desenvolver soluções de IA simplesmente porque sentem necessidade urgente de participar nesta vaga tecnológica.
Contudo, talvez o que torna a IA particularmente desafiante não seja apenas o ritmo acelerado da sua adoção, mas o impacto significativo que pode ter na operação e experiência dos clientes. A pressa pode gerar iniciativas fragmentadas, mas não necessariamente uma estratégia coesa e sustentável.
Uma abordagem mais refletida pode ser benéfica. É importante reconhecer com honestidade onde existem problemas reais e que tipo de soluções seriam mais eficazes. Não se trata apenas de evitar "ficar para trás", mas sim de compreender profundamente onde a IA pode efetivamente trazer valor: processos internos bloqueados por informação não estruturada, fricções recorrentes na experiência do cliente ou tarefas repetitivas que consomem tempo precioso das equipas, entre outras situações concretas.
Uma reflexão estratégica envolve coragem para fazer escolhas conscientes. Nem todas as iniciativas que envolvem IA precisam ser imediatamente adotadas. Decidir focar em poucas áreas críticas pode ser tão importante quanto avançar rapidamente. A capacidade de dizer "não" a várias ideias para poder dizer "sim" às que realmente contribuem para o crescimento e eficácia do negócio poderá fazer a diferença.
Adicionalmente, é importante garantir coerência na implementação. Uma funcionalidade isolada pode ter pouco impacto se não estiver alinhada com outras iniciativas estratégicas. A eficácia surge quando existe integração clara entre projetos, permitindo que cada passo reforce o seguinte e produza benefícios cumulativos.
O futuro das empresas num contexto onde a IA ganha protagonismo não depende simplesmente da rapidez com que adotam novas tecnologias, mas sim da clareza e reflexão que acompanham as suas decisões. A IA, apesar do seu enorme potencial, permanece uma ferramenta cuja eficácia depende essencialmente da estratégia definida por quem a utiliza.
Talvez a questão não seja apenas "estar presente" na onda tecnológica atual, mas garantir que as decisões tomadas sejam fruto de uma reflexão cuidada e estratégica. É esta reflexão, mais do que a pressa, que pode fazer realmente a diferença no longo prazo.
(*) Coordenador do Programa PsicologIA na Transformação Social da Ordem dos Psicólogos Portugueses
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