A Inovação, em sentido lato, ainda é percepcionada numa lógica de custo, mas é importante que as empresas se capacitem que se trata de um investimento com retorno assegurado. Actualmente, a existência de programas de financiamento e incentivo às actividades de I&D permite recuperar parte significativa desse investimento.



As sugestões são feitas por Nuno Nazaré, da Alma Consulting, que defende que a modernização e qualificação do país só será possível com uma aposta efectiva em actividades de valor acrescentado, mais especificamente em IDi - Investigação, Desenvolvimento e Inovação.



O innovation manager participou recentemente no seminário "O Futuro das TIC em Portugal" e o TeK aproveitou o tema para conhecer a sua opinião sobre a actual situação do sector.

[caption]Nuno Nazaré[/caption]

TeK: Que balanço se pode fazer do panorama actual da inovação nas TIC em Portugal? As empresas portuguesas já são inovadoras quanto baste?

Nuno Nazaré:
O sector das TIC em Portugal apresenta uma dinâmica única, que aliás se comprova por alguns casos de sucesso, não tanto ao nível de uma presença forte e assídua no plano internacional, mas sobretudo ao nível de produtos e soluções inovadoras, suportados numa estratégia sólida ao nível dos principais stakeholders. É de referir neste aspecto, o apoio do Estado, na implementação de uma estratégia sustentada e a prazo, que tem criado condições para fazer crescer uma Economia sustentada nas tecnologias.

É curioso verificar que no sector das TIC, Portugal apresenta exemplos do mais inovador que existe no plano internacional: a Via Verde, o Multibanco, o Cartão do Cidadão, o Passaporte Electrónico, as Lojas do Cidadão e por aí fora, são exemplos de um Portugal avançado que rivalizam com as melhores práticas internacionais.

Mesmo ao nível de empresas mais pequenas, e não querendo citar nomes, penso ser este o Sector (em conjunto, com o sector energético e o sector da biotecnologia) onde se evidencia mais o empreendedorismo nacional, criando valor acrescentado para a nossa Economia.
Em conclusão, penso que o Sector das TIC se recomenda, e pode dar um exemplo a outros sectores que primem pelo conhecimento, pela internacionalização e pela inovação nos produtos que desenvolvem/comercializam.



TeK: O que mudou com o Plano Tecnológico? Que mais-valias lhe podem ser apontadas e pelo contrário, que aspectos falta melhorar?

N.M.:
O Plano Tecnológico tem sido, por excelência, um instrumento de fomento do uso das Tecnologias de Informação na sociedade. Tem cumprido um papel eficaz na criação de condições para a modernização tecnológica do país e na educação "tecnológica" da nossa sociedade. Este é o ponto fundamental. Não lhe apontaria críticas de fundo, dado não pretender ser directamente um instrumento "alavancador" do Sector TIC, mas antes um meio para fazer crescer e consciencializar a sociedade para as boas práticas proporcionadas pelas TIC, com um foco muito grande na Educação.

Aliás, num cenário de crise e de alguma crispação no seio da sociedade nacional, creio ser este um dos melhores exemplos dados pela nossa Governação nos últimos anos.



TeK: Concorda que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) constituem hoje em dia um dos principais motores da retoma da economia portuguesa e uma prioridade estratégica para o país?

N.N.:
É quase um corolário do que venho a afirmar anteriormente. É, indubitavelmente, uma prioridade estratégica para o País. Reparem que, analisando os dados publicados pelo QREN, o actual Quadro Comunitário de Apoio, mais de 200 empresas TIC têm projectos aprovados nos principais instrumentos de apoio à I&D (Núcleos de I&D, Projectos Individuais e em Consórcio).

Ora, este número representa cerca de 40 por cento dos projectos apoiados pelo QREN na área do I&D, o que demonstra, quer a importância, quer a dinâmica do Sector. E se tivermos em conta o legado do Sector TIC nos últimos 20 anos, é crível que este apoio possa reforçar a importância relativa do sector TIC no tecido económico e induzir o crescimento do emprego qualificado.

Como exemplos, refiro a criação e consolidação de centros de excelência dedicados à I&D em Portugal, no âmbito das TIC. A atracção de investimento externo nesta área é um facto, como também o facto de Portugal ser olhado como um test-bed pelos maiores fabricantes mundiais, para a validação de alguns desenvolvimentos tecnológicos nas áreas da comunicação.



TeK: O desenvolvimento das Redes de Nova Geração (RNG) poderá assumir esse papel?

N.N.:
Conforme referi anteriormente, é minha convicção de que o Sector das TIC é um dos três sectores prioritários, face ao actual enquadramento macroeconómico a nível europeu e global, para o crescimento da Economia nacional a médio e longo prazo.

A aposta nas Redes de Nova Geração poderá impulsionar e fazer crescer um Sector já significativo (em termos de nº trabalhadores, Volume de Negócios e VAB), podendo Portugal assumir ainda um papel pioneiro nos mercados mais avançados da UE.

O potencial trazido pelas Redes de Nova Geração não pode ser visto isoladamente pelos Operadores. Num contexto, em que o ARPU (Average Revenue per User) diminui radicalmente, e em que os investimentos em infra-estruturas sofrerão um corte inevitável, as potencialidades das RNG só farão sentido se existir, do lado da Indústria de Conteúdos (e em menor escala, do lado da indústria de hardware), serviços e soluções que criem a necessidade de utilização por parte do público-alvo. Falo aqui de soluções de entertainment, home automation, serviços empresariais, telecontagem, serviços administrativos, domótica, e muitas outras poderiam ser elencadas.

O grande desafio passa pois por criar uma simbiose entre os pesos pesados do sector, nomeadamente os Operadores TELCO, e um conjunto grande de empresas PME, que forneçam soluções para uma efectiva adopção das RNG.



TeK: Que importância pode assumir a aposta na inovação num contexto económico como o que vivemos?

N.N.:
É um lugar-comum falar na Inovação como motor de crescimento, e por inerência, como forma de enfrentar a crise. É imediato pensarmos em inovação de produto, mas se a esta não estiver aliada uma inovação nas práticas de gestão, dificilmente as empresas portuguesas poderão crescer e consolidar a sua presença nos mercados.

Na minha actividade profissional, lido diariamente com empresas inovadoras e consigo retirar duas ilações imediatas: primeiro, estas empresas estão mais protegidas da crise e os seus indicadores económicos e financeiros assim o revelam. Segundo, noto nestas empresas uma capacidade de empreendedorismo e uma preocupação por factores intangíveis como a política de marketing e política comercial, que as levam a ter uma posição de relevo em mercados tradicionalmente difíceis, como por exemplo, os do Norte da Europa.



TeK: Como podem as empresas responder à necessidade de melhorar processos através da tecnologia e rentabilizar o investimento nesta área?

N.N.:
O recurso à tecnologia é fundamental, para qualquer sector de actividade. Há dias falava com um responsável de Inovação de um sector da indústria tradicional, que me mencionava ter conseguido valorizar a sua oferta num grande mercado asiático, pelo facto de privilegiar o uso das tecnologias de informação na sua política de desenvolvimento de produto e de disseminação.

Para estas empresas, existem alguns apoios estatais, quer através de subsídios à actividade de desenvolvimento (QREN), quer através de incentivos fiscais disponibilizados às empresas que desenvolvam produtos ou soluções tecnologicamente inovadoras. Aliás, este último instrumento (SIFIDE) é o mais generoso, dentro dos seus congéneres europeus, o que tem, aliás, levado a que algumas empresas internacionais coloquem Portugal no seu radar, para o desenvolvimento tecnológico de soluções de valor acrescentado, rentabilizando o seu esforço de investimento.