Por Albertina Soares (*)
Todos conhecemos a expressão do Doc. Emmett Brown quando, no “Regresso ao Futuro”, assinalou que não precisaríamos de estradas no futuro. Se aquilo que foi vaticinado pelo criador da trilogia, Robert Lee Zemeckis, não sucedeu tão rapidamente, facto é que o setor automóvel caminha de facto para a nuvem. Mas não (pelo menos a curto prazo) com carros voadores: falamos de cloud e data e do seu impacto no setor e, no final do dia, na vida das pessoas e dos utilizadores.
O futuro da mobilidade e da indústria efetivamente avança para um novo paradigma e desígnio, em que as fábricas de veículos estão a (co)transformar-se em verdadeiras produtoras de dados, ou seja, a força e o expertise nacional junta-se à próxima geração de inovadores e engenheiros, tudo para convencer (e entusiasmar) também a próxima geração de clientes com a melhoria constante da funcionalidade digital, a experiência e, claro, sustentabilidade ambiental, um pré-requisito não só global - como o Acordo de Paris sobre o Clima -, como é ponto de partida na aquisição automóvel do futuro.
A mudança para veículos conectados, inteligentes e, eventualmente, autónomos trará mudanças abrangentes para a indústria automóvel, não só de experiência como de novas fontes de receita, em que o produto principal é o automóvel, mas o ator central é a tecnologia. Uma mudança de paradigma que, mais uma vez, Portugal tem especial – e orgulhosa – participação ativa, através da instalação do hub tecnológico do Grupo alemão, Volkswagen Digital Solutions no país, fruto do talento e do ecossistema de inovação que se move e solidifica em Portugal.
Chegando à reta final do ano, e com mais de 450 talentos ao serviço da revolução do setor, existem expressivos avanços que estão a ser dinamizados pelas três tech units da Volkswagen Digital Solutions – CODE, o Core Operations + Development, o MAN Digital Hub e o SDC, um Software Development Center. Estrangeirismos e pressupostos técnicos à parte - pois as nossas equipas contam com cerca de 30 nacionalidades - importa perceber o que efetivamente estamos a trabalhar para um mundo mais sustentável em termos de mobilidade e que nos coloca na(s) nuvem(s) para integrar os novos desígnios do setor.
Exemplo de um produto que continua a revolucionar a excelência de jornada dos condutores-utilizadores (sim, já não somos apenas condutores!) é o Pre-Delivery Enrolment, uma tecnologia desenvolvida pela nossa tech unit CODE que permite um registo e plena integração de um cliente quando adquire o seu automóvel, assegurando que este retire o máximo partido das funcionalidades do seu veículo como as remotas - i.e. segurança (abrir e fechar portas) e eficiência (ligar antecipadamente o ar condicionado - ou mesmo burocráticas, em que uma experiência 100% digital evita papeladas e processos desnecessários e presenciais. O Pre-Delivery Enrolment surgiu em inícios de 2019, e já conta com presença em +35 países do mercado EMEA, onde é utilizado pelos vendedores do grupo, distribuídos por, sensivelmente, 2.800 stands da Volkswagen e já somou cerca de 150.000 convites enviados aos clientes, reduzindo em média 50% do tempo (~7min.) necessário para ficar com a aplicação sincronizada ao sistema de infotainement. Com esta solução todos agradecem: a pressão habitual dos nossos profissionais, o Ambiente e os nossos clientes que já não precisam de ser geeks ou aficionados para conseguirem utilizar todo o potencial do seu novo veículo.
Outro produto inovador, desenvolvido no MAN Digital Hub em Lisboa, é o Perform, uma plataforma digital que providencia a gestores de frota uma visão detalhada da atuação de motoristas e veículos com base em dados de telemetria capturados diretamente do veículo, possibilitando então uma melhor avaliação de desempenho, e identificação de potenciais pontos de desenvolvimento que tragam, não só, redução de custos com o combustível, como também da emissão de CO2, e aumento da eficiência e segurança na condução, optimizando consequentemente a utilização e vida útil do veículo. Os relatórios apresentam valores agregados para o período selecionado, e classificações de 0 a 100% para aspetos de maior relevância como, por exemplo, a eficiência no uso dos travões. Tais informações podem ser utilizadas para comparação e reconhecimento dos melhores motoristas por parte das empresas que utilizam a aplicação, tendo um grande impacto num mercado com falta de condutores de camiões que contam, cada vez mais, com uma profunda assistência nos desafios da sua profissão.
Todos estes avanços e tendências permitem-nos passar (não há muitos anos) de “smart followers” para “smart provokers”, nascendo em Portugal uma nova geração de criadores de soluções que ditam tendências e caminhos na digitalização. É caso para dizer que a digitalização da Indústria automóvel em Portugal está mesmo na(s) nuvem(s).
(*) Engineering Manager da Volkswagen Digital Solutions
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