Por José Pedro Pinto (*)

Nas últimas duas décadas assistimos a uma verdadeira revolução nas sociedades: A Internet abriu portas a uma abrangência de serviços, novas formas de consumo, novas formas de interação social. Se noutros tempos a consecução de um negócio exigia uma deslocação de um ponto a outro do globo, hoje Lisboa e Hong Kong, por exemplo, estão à distância de uma rede wireless, a qualquer hora, em qualquer lugar.

Os últimos 10 anos são bom exemplo de uma revolução que transformou por completo o  planeta, que o tornou global, que alterou hábitos de centenas de milhões de pessoas. O comércio, claro,  não foge à regra. No início os sites agregadores foram uma curiosidade. Mas, mais que uma moda passageira, verificou-se que marcas como a Amazon ou o Ebay eram uma tendência que vinha para ficar e expandir horizontes. Também as páginas oficiais das marcas deixaram de ser apenas mecanismos institucionais de contacto com parceiros e clientes.

Um admirável mundo novo para o comércio

Vivemos uma época de consumo em larga escala. Se no ocidente o comércio é o cerne do seu modus vivendi, para largas dezenas de países o crescimento económico potenciou o aparecimento de uma classe média pujante e ansiosa por adquirir hábitos de consumo similares aos dos países mais desenvolvidos.

Basta somar 1 + 1. A uma sociedade digitalizada e à distância de um clique, soma-se o comércio como fonte basilar de produção de riqueza. Vivemos numa época de crescimento acentuado do e-Commerce. Já não é concebível que a distância ou o tempo limitem o acesso a um bem ou serviço. À tradicional deslocação aos espaços comerciais físicos (e, atenção, estes preservam a sua relevância e continuam a merecer especial atenção dos millennials, por exemplo), acresce a vontade de fazer compras à hora que se bem entender, onde bem se entender, da forma que se entender. Essa é mesmo a grande lição a retirar de tudo o que nos envolve: o ser humano procura moldar o seu ecossistema às necessidades e meios (nomeadamente tecnológicos).

O e-Commerce é nada mais que uma inevitabilidade de um processo social em mutação. Se a vida profissional e social de todos sofreu uma transformação importante, uma matéria tão cara à generalidade de todos nós, como o acesso a bens e serviços, não poderia ficar para trás. Encontramo-nos num momento que transcende quaisquer saudosismos de um passado que não volta mais. E o mundo empresarial sabe disso, ao adaptar-se aos novos tempos, ao criar um conjunto de mecanismos e aplicações que permitem que qualquer um de nós defina os termos e timings como adquire algo.

Desafios do e-Commerce

Um sistema tão inovador como o comércio online, e perante todas as premissas em que se estrutura, implica igualmente desafios. Matérias como a segurança nos pagamentos e o transporte e receção dos bens e serviços encontram-se entre as mais “temidas” por todos os que transacionam neste formato (e motivam que muitos prefiram manter-se 100% fiéis à via tradicional).

Também por isso os meios de pagamento estão a sofrer uma total revolução. No limite, as moedas, e mesmo os cartões em formato físico como os conhecemos, tenderão a acabar.

O contexto digital e o comércio online têm também vindo a desafiar os modelos de distribuição tradicionais. O futuro já chegou. A tecnologia digital atingiu um estado tal que, a breve trecho, não mais será necessário visitar um site para concluir uma compra. A identificação de um consumidor através do reconhecimento vocal ou facial permitir-lhe-á efetuar compras num espaço físico; a possibilidade de, em tempo real, através de um smartphone, marcar o test drive de um modelo que se viu na estrada e foi devidamente analisado por um programa online; ou mesmo comprar uma peça de roupa similar à que um amigo utiliza e que o ecrã do dispositivo registou, apenas com a ajuda de uma aplicação – tudo isso é algo já passível de ser feito. Esta evolução está enquadrada pelo Regime Geral de Proteção de Dados, garantindo a salvaguarda dos interesses dos consumidores.

Em suma, o desenvolvimento tecnológico criará condições para que o e-Commerce ganhe contornos bastantes diferentes dos que hoje verificamos. O que é extraordinário, pois este mesmo e-Commerce floresceu na última década a uma velocidade estonteante. E, mais fascinante, o comércio online não deixará de andar de mãos dadas com o comércio tradicional, cada vez mais adaptado e integrado na (r)evolução digital, um processo de maior humanização do e-Commerce.

(*) Chief Marketing & Sales Officer do Cetelem
Este artigo foi escrito no âmbito do estudo Observador Cetelem eCommerce 2018