Por Pedro Cruz (*)

Muito se tem ouvido falar nos últimos tempos em organizações Agile e em transformações a ocorrer em todo o tipo de organizações no sentido de as tornar mais Agile. O mundo VUCA (do inglês Volatile, Uncertain, Complex, Ambiguous) é sentido e vivido por todos nós de uma forma cada vez mais intensa, quer nos negócios, quer na nossa vida pessoal. O melhor exemplo para a volatilidade do mundo são todas as alterações decorrentes da pandemia em curso. Os negócios têm necessidade de se adaptar constantemente a novas regras e regulamentos, às alterações nos seus mercados, ao aparecimento súbito de novos modelos de negócio, etc.

O tema do Agile aparece neste contexto como uma solução apropriada para lidar com um mundo em constante mudança. Mas, afinal o que é uma organização Agile? De uma forma muito simplista, uma organização é Agile se consegue identificar ou até antecipar mudanças que afetam a sua área de negócio, e com base nesse conhecimento, reagir rapidamente e de uma forma eficaz, tirando o melhor partido dessas mudanças.

Na área de desenvolvimento de software a aplicação de metodologias Agile está já fortemente implementada, por exemplo, pelo uso de metodologias como Scrum ou Extreme Programming. As dúvidas começam a surgir quando se pensa em como aplicar estas metodologias de trabalho nas restantes áreas das organizações. A primeira reação é, por norma, de que “isto só é aplicável ao desenvolvimento de software…o nosso negócio é diferente”. No entanto, isso não corresponde à verdade.

São vários os bons exemplos de projetos de desenvolvimento Agile de hardware, que vão desde o desenvolvimento de automóveis ao de aviões. Um fator muito importante para o sucesso destes projetos passa por existir uma arquitetura previamente definida para o produto em desenvolvimento que seja ao mesmo tempo robusta e flexível, e que permita dividir o produto em módulos para serem trabalhados em paralelo, uma vez conhecidos os constrangimentos de cada um.

Uma das áreas onde se começa a sentir uma necessidade cada vez maior de se trabalhar de uma forma Agile é no desenvolvimento de produtos hardware, como por exemplo, caldeiras de aquecimento a gás e bombas de calor. A necessidade de chegar frequentemente ao mercado com inovações tecnológicas implica ciclos de desenvolvimento cada vez mais curtos. No entanto, existe nestas áreas alguma resistência à adoção de metodologias de trabalho Agile.

Quando se comparam os processos de desenvolvimento de software e produtos hardware, normalmente pensa-se nos ciclos mais longos do desenvolvimento dos produtos e nos constrangimentos impostos pela necessidade de ferramentas e processos de fabrico dos componentes dos produtos, que são “aparentemente” mais difíceis de alterar depois de definidos, do que no caso do desenvolvimento de software.

Um dos principais motivos para este tipo de resistência tem a ver com alguma confusão existente, nomeadamente entre os conceitos de Agile e de Scrum. Vejamos, de forma simplista, aquilo que os diferencia: o Agile consiste numa filosofia de trabalho assente num conjunto de valores e princípios que quando postos em prática dotam a organização de formas de resposta mais eficazes ao mundo VUCA onde se insere. Por sua vez, o Scrum, é uma metodologia de trabalho (framework) que quando utilizada ajuda a colocar em prática os valores e os princípios Agile. Portanto, uma organização pode ser Agile sem ter que necessariamente trabalhar em Scrum.

É fundamental que cada equipa ou organização perceba o “porquê?” - o que pretende atingir ao se tornar mais Agile? -, com base nessa reflexão e na análise dos seus processos internos deve então procurar as metodologias e práticas mais adequadas para aplicar os valores e os princípios Agile. De facto, uma equipa consegue ser tão mais Agile quanto menores forem as dependências externas para a execução do seu trabalho. Assim, é muito importante estarem bem definidos quais os graus de liberdade que a equipa tem para desenvolver as suas soluções, garantindo que dispõe de todas as competências necessárias para atingir os seus objetivos.

A partir daqui, é certo que a equipa sentirá as vantagens resultantes da aplicação de metodologias Agile, entre as quais podemos destacar:

  1. a transparência criada no trabalho planeado, no progresso da sua realização e nos resultados obtidos;
  2. a flexibilidade e autonomia da equipa na reação aos problemas;
  3. a forma como se consegue reagir às alterações nos planos e nos requisitos dos clientes, incorporando as mudanças no planeamento do próximo Sprint (período de trabalho de algumas semanas onde a equipa executa o trabalho que planeou), mas conseguindo simultaneamente manter a estabilidade e o foco no trabalho realizado pela equipa durante cada Sprint;
  4. a motivação resultante da celebração frequente do alcançar dos objetivos, quando os resultados são apresentados aos clientes e a todas as partes envolvidas no projeto

Estas são boas motivações para as equipas procurarem formas de trabalhar que as tornem mais Agile. Como sugestão, experimentem formas diferentes de trabalhar, testem, vejam porque não funciona e adaptem a abordagem às necessidades da equipa. Só estes passos já estão a semear na equipa o método de trabalho Agile… depois é só continuar!

(*) Agile Master Bosch Portugal

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