Por Susana Soares (*)
A blockchain deixou de ser um assunto marginal, quando o valor da Bitcoin subiu de 750 dólares em Janeiro para pouco menos de 20.000 dólares a 17 de Dezembro. No frenesim negocial que se seguiu, as pessoas passaram, sem surpresas, a ver as criptomoedas de uma forma imediatista e os efeitos mais alargados da tecnologia blockchain ficaram em grande medida submersos. No entanto, é longe do mundo das criptomoedas que está a ter lugar algum do trabalho mais interessante.
O alcance e a ambição dos projectos blockchain que foram anunciados publicamente é incrível. O Dubai, por exemplo, declarou a intenção de ser o primeiro estado mundial movido a blockchain, com iniciativas integradas que cobrem áreas como a navegação, o registo de empresas, os registos de saúde e até impedir que os chamados “diamantes de sangue” sejam comercializados, ajudando a combater a sua utilização no financiamento de actividades criminosas.
No Reino Unido, o governo está a investigar o uso da blockchain para pagamentos de assistência social numa iniciativa chamada Govcoin. No retalho, a OpenBazaar quer construir um mercado descentralizado em que os bens podem ser negociados directamente entre produtores e consumidores. A Kodak anunciou o desenvolvimento de um sistema que rastreia pagamentos de propriedade intelectual devidos aos fotógrafos e uma iniciativa similar para músicos chamada Ujomusic está em curso. Nos cuidados de saúde, a start-up Gem pretende colocar os dados sobre surtos de doenças numa blockchain para melhorar a resposta e o auxílio em caso de desastres.
Os clientes da Fujitsu também têm alguns desenvolvimentos fascinantes em curso. A Bosch, por exemplo, está a estudar o uso da blockchain para melhorar a confiança e a segurança das leituras dos odómetros dos carros. As fraudes na quilometragem dos carros é um problema significativo a nível mundial, mas com a solução da Bosch os automóveis passariam a enviar regularmente leituras de odómetro para uma base de dados descentralizada e segura, disponível a nível mundial, sendo a autenticidade da informação verificada por um certificado. E a Airbus está a ponderar usar uma blockchain como base de dados de fornecedores partilhada para rastrear a qualidade e a conformidade dos produtos em toda a cadeia de fornecimento, de modo a melhorar os processos de aquisição e ajudar a distribuir os rendimentos de forma justa e transparente.
Estes são apenas alguns exemplo, a partir dos quais torna-se evidente que já fomos muito para lá da utilização da blockchain apenas para moedas. E do mesmo modo que a blockchain é muito mais do que apenas a Bitcoin, a tecnologia blockchain que lhe está subjacente também não é monolítica. Como as empresas já tiveram tempo para pensar e investigar o conceito da blockchain, agora temos uma compreensão mais clara das suas vantagens e de como podem ser efectuadas melhorias.
Aconteça o que acontecer a seguir no mundo altamente volátil das valorizações de criptomoedas, o impacto de DLTs como a blockchain e a Tangle vai ser enorme. O âmbito para a reengenharia de cadeias de valor completas, como acontece em iniciativas como a OpenBazaar, não só é possível como provável. Os serviços que actualmente são executados através de intermediários, por exemplo, o registo de venda de propriedades efectuado através de empresas jurídicas, será invisível, automático e grátis. A possibilidade de incorporar contratos inteligentes e pagamentos automáticos na Internet das Coisas abre a porta a novas formas de trabalhar que ainda nem imaginámos. Apesar de a corrida ao ouro inicial já ter eventualmente terminado, a extraordinária promessa das DLTs só agora começa a tornar-se clara.
(*) Directora de Marketing, Fujitsu Portugal
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