Por Miguel Pontes (*) 

A transformação digital alterou o modo como os consumidores interagem com produtos e serviços e desafiou as empresas a repensar os seus modelos de trabalho, incluindo no setor bancário tradicional. Com a expansão dos serviços de comércio eletrónico, há uma necessidade urgente dos bancos tradicionais desenvolverem soluções melhores e mais centradas no cliente, a fim de criar uma experiência digital inovadora.

O “Buy Now Pay Later” (BNPL) - um serviço que permite aos clientes fazer compras e pagar por elas posteriormente (oferecendo novas alternativas de crédito) - é um ótimo exemplo de como o setor bancário está em rápida evolução. O maior desafio para os bancos tradicionais passa pela capacidade de acompanhar estas mudanças para evitar a perda de clientes, especialmente entre os Millennials e a nova geração de consumidores, que preferem soluções confortáveis e digitais.

O modelo BNPL é um processo intuitivo e também muito apelativo para os consumidores. Facilita os pagamentos, porque o cliente pode dividi-los e não requer pedidos de crédito, como os cartões de crédito, ou outras burocracias. Por outro lado, são uma alternativa mais barata. Para retalhistas e fornecedores, é ainda mais simples: os clientes gastam mais e continuam a comprar.

Podemos dizer que a pandemia da COVID-19 influenciou positivamente o crescimento do BNPL. Enquanto as empresas lutavam para aumentar as vendas durante a crise económica e tentavam oferecer novas soluções para estimular o consumo digital, o modelo Buy Now Pay Later foi usado para permitir rapidamente alianças de marcas dentro dos mercados (tal como a Klarna tem na respetiva aplicação), mas especialmente ao oferecer APRs mais baixas do que a dos cartões de crédito normais.

Com o BNPL, assistimos a um aumento na taxa de conversão, mas também a um maior gasto por compra. As investigações mostram que os esquemas de BNPL estão a crescer a uma taxa de 39% anualmente no Reino Unido e irão duplicar a influência no mercado até 2023. As estatísticas também revelam que 71% dos consumidores têm comprado mais produtos online desde o início da pandemia.

Uma revolução para a jornada do cliente

O BNPL dá aos clientes a oportunidade de continuar a comprar, apesar de terem crédito no momento da compra, pelo que esta solução tem uma grande influência no processo de tomada de decisão, já dá aos clientes uma janela temporal que estes antes não tinham. Esta possibilidade pode até encorajar o cliente a comprar mais, uma vez que só precisará de pagar várias semanas ou meses depois. Adicionalmente, as fintechs BNPL estão dotadas de uma estratégia de marketing digital altamente eficaz e personalizam toda a experiência do cliente, oferecendo vantagens como wishlists, alertas, descontos, entre outras.

O BNPL representa, de facto, uma revolução para a jornada do cliente e pode ir além do crédito fácil. Este modelo também oferece uma plataforma para gastos do consumidor que é mais justa do que os cartões de crédito. De acordo com a Forbes, os consumidores farão cerca de 882 mil milhões de euros em compras no retalho com recurso a programas BNPL, este ano. O BNPL tem uma estratégia dupla muito bem definida, pois pode captar, no mercado aberto, os segmentos mais experientes e mais jovens que hoje em dia não querem ter cartão de crédito, e uma população mais velha que, através do BNPL e dos seus métodos de pagamento flexíveis, pode facilmente pagar as suas compras posteriormente, sem a necessidade de um histórico de crédito.

A necessidade de regulamentação

Mas também há uma desvantagem: o facto deste modelo ainda não se apresentar regulamentado incentiva o aumento do endividamento do consumidor, principalmente por alguma falta de clareza que possa existir acerca das condições associadas aos produtos. Para credores de curto prazo, por exemplo, a maior desvantagem é que não podem avaliar a dimensão da dívida que os consumidores contraem.

Os bancos regulamentados também estão preocupados com a forma como o BNPL pode desviar receitas de outras fontes, como os cartões de crédito. Os críticos desta solução acreditam que os modelos financeiros não regulamentados estimulam os gastos insustentáveis ​​das pessoas, que compram muito mais do que aquilo que podem pagar. Os especialistas também referem que estes serviços não dão tempo suficiente para que os compradores se familiarizem com o processo, o que pode aumentar o número de devedores.

Um analista financeiro da Goodbody mencionou que a abordagem dos reguladores será um fator crítico para o crescimento do mercado. Um sistema financeiro não regulamentado tem mais hipóteses de ver o seu fim porque não oferece garantias suficientes aos fornecedores, consumidores e outras instituições. Mais importante ainda, uma regulamentação justa permitirá que vários milhões de pessoas tenham acesso a um método confortável de pagamento - quer por meio de e-commerce, quer em loja - sem a necessidade de ter uma conta bancária ‘recheada’ ou um cartão. Na LATAM, por exemplo, há serviços - como os da Kueski Pay ou da Wipei - que dispensam essa necessidade.

Os bancos estão agora cientes deste novo fluxo de receitas criado pelo BNPL e, se estiverem interessados ​​o suficiente, poderão ganhar um grande produto de venda que funcionará como um complemento à oferta atual.

(*) Head of Business Strategy da LOQR com a responsabilidade de desenhar o percurso de expansão internacional da startup

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