Por Ricardo Pintão (*)

Desafiante. É esta, talvez, a melhor forma de colocarmos a questão relacionada com a cibersegurança num tempo de crescente evolução tecnológica onde Inteligência Artificial, o 6G ou a Internet das Coisas dominam os nossos dias. Entre a conjuntura geopolítica e as redes de criminalidade organizada, cada vez mais sofisticadas, as empresas são hoje confrontadas com ataques cibernéticos constantes e cada vez mais complexos.

Pese embora as grandes empresas tenham já capital humano e financeiro destinado a fazer face a ameaças cibernéticas, estando os vários agentes que participam em determinados setores obrigados a reportar incidentes ao Centro Nacional de Cibersegurança e a implementar um conjunto de apertadas medidas de segurança. Para as pequenas e médias empresas, este é um desafio absolutamente colossal que coloca em causa a sua capacidade de ação e de desenvolvimento, agravada pelos seus recursos inferiores. Temos assistido, assim, a uma série de ataques perpetrados contra todo o tipo de atores, nos vários setores, e que envolvem frequentemente ciberataques, burlas informáticas ou outro tipo de engenhos de natureza penal que colocam em causa a sua livre iniciativa económica. De acordo com o mais recente relatório do Gabinete do Cibercrime do Ministério Público, entre janeiro e junho de 2023 foram recebidas 1363 denúncias e 292 foram encaminhadas para inquérito relacionadas com práticas relacionadas com este tipo de criminalidade.

Considerando o anterior e sendo a ameaça é atual, devem as empresas antecipar os desenvolvimentos tecnológicos, em particular, no que toca aos avanços ao nível da computação quântica e das suas potencialidades absolutamente disruptivas.  Enquanto os computadores clássicos utilizam “bits” binários para efetuar cálculos, os computadores quânticos utilizam “bits” quânticos (“qubits”). Essencialmente, enquanto os “bits” só podem ter dois valores (0 ou 1), os “qubits” podem existir simultaneamente como 0s, 1s, ou ambos 0 e 1. Os “qubits” oferecem diferentes possibilidades através da exploração de efeitos quânticos, tais como a sobreposição e o emaranhamento. Ao utilizar os “qubits” para executar determinados algoritmos, os computadores quânticos reduzem significativamente o número de cálculos necessários em comparação com os computadores clássicos para resolver problemas específicos, abrindo uma série de novas possibilidades no desenvolvimento de algoritmos e à desencriptação muito rápida, colocando, em causa a eficácia do atual sistema de cibersegurança.

Aos dias de hoje, são as empresas norte americanas e chinesas que estão na vanguarda do desenvolvimento de um computador quântico que seja absolutamente estável e funcional, uma vez que até então ainda não foi atingido o seu pleno funcionamento. Em qualquer caso, no momento em que a computação quântica seja uma realidade suficientemente alargada, por certo que terá profundas implicações para a criptografia e também, assim, para a cibersegurança. Os métodos tradicionais de cifragem, baseiam-se na dificuldade de processar grandes números, uma tarefa que os computadores quânticos poderiam realizar de forma exponencialmente mais rápida. Esta capacidade ameaça as normas de encriptação atuais (medida se cibersegurança comumente utilizada), exigindo o desenvolvimento de criptografia resistente ao quantum. Por outro lado, a computação quântica introduz técnicas criptográficas avançadas, como a distribuição quântica de chaves, que oferece uma encriptação teoricamente inquebrável. Esta distribuição utiliza propriedades quânticas como o “emaranhamento” e a “sobreposição” para detetar qualquer tentativa de interceção, garantindo assim uma segurança absoluta na transmissão de dados. Os computadores quânticos também têm subjacente a virtualidade de melhorarem a cibersegurança, ao procederem à análise de vastos conjuntos de dados para identificar padrões e potenciais ameaças de forma bastante mais eficiente do que os computadores clássicos. Esta capacidade de processar e analisar rapidamente grandes quantidades de dados pode melhorar significativamente a deteção e a resposta a ameaças em tempo real, tornando os sistemas de cibersegurança mais robustos e reativos.

Neste contexto, e face aos rápidos desenvolvimentos tecnológicos, devem as empresas iniciar um processo de preparação atempado que lhes permita antecipar estas novas tendências de proteção e de vulnerabilidade do ponto de vista cibernético. A este respeito, chamamos a atenção que existem já inúmeros diplomas ao nível da Segurança da Informação, Proteção de Dados e da Propriedade Intelectual que podem colocar desafios às empresas, caso não antecipem os desafios colocados pela computação quântica ao nível da cibersegurança. Estamos a testemunhar uma verdadeira revolução quântica em curso, e é cada vez mais premente que as empresas estejam preparadas para os desafios que se avizinham, numa realidade tanto mais complexa e interconectada.

(*) Associado de TMC da CMS Portugal.