Conselhos para enfrentar a perda de dados

Nicholas Green (*)

No momento da descoberta da perda de dados, os nossos clientes e, por vezes, parceiros, realizam tentativas de restabelecimento que podem tornar a eventual recuperação de dados mais difícil ou, em alguns casos, impossível.

A perda de dados por falhas nos discos rígidos (e nas configurações dos mesmos) é, de longe, o caso mais frequente que tratamos. Há algumas sugestões que damos aos nossos clientes para evitar casos de maior complexidade que geram muitas das perdas de dados e que podem ser usadas como forma de prevenção para todos os utilizadores que não queiram ser confrontados com situações de perda de dados.

[caption]Jaime Quesado[/caption]

Perda lógica

Uma causa para problemas pode ser um excesso de confiança na ferramenta de verificação do disco da Microsoft, CHKDSK. Embora seja uma ferramenta competente, o CHKDSK assume muitos pressupostos quanto à detecção de um aparelho no Windows e frequentemente rectifica de forma automática situações mesmo sem necessidade. Por exemplo, se um computador bloquear enquanto o MFT está a ser actualizado, o CHKDSK pode truncar o MFT onde ocorreu o problema, potencialmente gerando uma perda de dados.

Outras ferramentas comummente utilizadas são o Norton Utilities e o Partition Magic e estes mudam os dados de sítio no disco durante o seu funcionamento normal. Se estas aplicações forem interrompidas ou falharem por qualquer razão, os dados ficam a flutuar pelo disco e a necessitar de uma importante reconstrução.

Também se deve ter cuidado ao utilizar o Norton Ghost. Várias situações de erro do utilizador vieram ao nosso conhecimento nas quais a ferramenta é executada ao contrário: no disco errado.

Perda física

Sinais e ruídos anormais são característicos de uma falha física. Se algum destes sintomas for detectado, o disco deve ser encerrado imediatamente de modo a não causar danos às placas no mesmo.

A precisão mecânica dos actuais discos rígidos torna a substituição da montagem principal praticamente impossível sem as ferramentas adequadas. A remoção de placas é perigosa e pode afectar o modo como o disco lê os sectores. Se apenas um componente ficar desalinhado, o disco não encontrará os sectores requeridos. Se a electrónica do disco rígido não encontrar os sectores solicitados pelo controlador, poderá tentar incessantemente encontrar estes sectores ou encerrará a unidade.
Aconselhamos fortemente que não se tente realizar uma remoção da placa.

A precisão mecânica é apenas um dos lados da tecnologia dos discos rígidos - a electrónica é igualmente finita. Trocar placas de circuitos entre discos costumava ser, no passado, um modo rápido de contornar uma placa de circuitos falhada. Agora, a electrónica é muito mais complicada e, como tal, as diferentes revisões de uma placa de circuitos raramente são compatíveis. As inovações dos últimos 25 anos fizeram da troca de placas de circuitos uma solução do passado e assistimos a muitos casos em que uma incorrecta tentativa para o fazer levou a graves corrupções de dados.

Os discos rígidos de hoje são concebidos a partir de componentes primários básicos, como a função, em redor dos quais os restantes componentes são construídos. Por exemplo, as melhorias de pesquisa e desenvolvimento na placa e no meio magnético requerem melhorias de pesquisa e desenvolvimento no design principal. Estas concepções requerem que a electrónica seja "feita à medida" para esse disco. Os discos rígidos são afinados para as propriedade dos meios de armazenamentos e cabeças de leitura/escrita - do mesmo modo que um rádio é sintonizado para uma determinada frequência de rádio; os discos rígidos são sintonizados para complementar sinais de dados lidos a partir do meio de armazenamento.

Os fabricantes de discos rígidos fazem grandes lotes de discos de modo a que haja semelhanças entre os modelos. Contudo, o Código de Revisão (software apenas de leitura própria do disco rígido utilizado na electrónica) é frequentemente alterado no mesmo modelo e lote. A inovação de disco rígido requer que os discos estejam em constante melhoria. Tudo isto requer uma extensa formação em electrónica e ciência informática para se ser capaz de trabalhar com estes aparelhos de armazenamento, já para não mencionar o desafio de encontrar as peças mecânicas correctas.


Sistemas RAID

Os controladores RAID adicionam mais um nível de complexidade e de eventual perda de dados às ferramentas automáticas reconstruídas. Todos os controladores RAID possuem firmware que contém funções para desempenhar diferentes tipos de reconstruções RAID se um disco falhar ou se a paridade se tornar inconsistente. Estas reconstruções podem ser muito perigosas e podem fazer com que os dados não sejam recuperáveis após terem corrido.

Um controlador defeituoso pode, por vezes, ser substituído por outro exactamente do mesmo tipo sem causar danos, contudo qualquer reconstrução subsequente, independentemente do fabricante ou modelo do controlador, pode provocar importantes perdas de dados, conforme descrito anteriormente.

De longe, o pior tipo de ferramenta RAID é um formato de nível inferior ou baixo. Alguns centros de assistência técnica de fabricantes de RAID sugerem este tipo de reconstrução por defeito para criar um novo banco de dados, mas uma vez executada a ferramenta, habitualmente, não há possibilidade de recuperação porque cada byte em cada disco é apagado.

Normalmente há uma alternativa a um formato de nível baixo ou banco de dados que é igualmente bom para a reconfiguração de um RAID e que faz com que a recuperação de dados continue a ser uma opção caso haja uma necessidade posterior dos dados originais.

O melhor conselho é ser-se extremamente cuidadoso quando ocorre uma falha RAID e não fazer mais que uma simples reconstrução de um disco com falha. Se a reconstrução inicial falhar, novas tentativas de reconstrução, reconfiguração, forçar o alinhamento de discos, etc. apenas irão provocar mais perdas de dados.

(*) Director da Kroll Ontrack Espanha e Portugal