Por Filipa Fixe (*)
Se, por um lado, o nosso país é, de facto, uma excelente montra tecnológica, com as características certas para ser um país muito atrativo para o desenvolvimento de projetos pioneiros na integração da tecnologia no setor hospitalar. A sua dimensão reduzida, por sua vez, incentiva também a que o risco de desenvolvimento de pilotos, do ponto de vista económico, seja também reduzido.
Por outro, o facto dos portugueses, dos profissionais de saúde e dos administradores hospitalares serem apaixonados por tecnologia, torna o processo muito mais simples, uma vez que estes são sempre muito mais recetivos a testar novas tecnologias no seu dia a dia. Exemplo disso, é o facto dos hospitais, que investem em novas tecnologias, serem mais seguros para doentes e profissionais de saúde e conseguirem, ao mesmo tempo, disponibilizar os mecanismos necessários para estarem mais próximos dos seus doentes.
Neste sentido, Portugal é um país com excelentes condições para pilotar novas soluções. A nossa dimensão, adesão e aptidão tecnológica são sempre ótimas referências para depois exportar para outras regiões. No entanto, é importante referir que, para que isto se desenrole com sucesso, o ecossistema de saúde tem de ser envolvido como um todo, desde o início da cadeia. Ou seja, o pagador, por exemplo, ao ser envolvido, desde o início, e existindo uma partilha eficaz de experiências entre os vários stakeholders, vai concluir com relativa facilidade que são esperadas poupanças imediatas, mas que também se encontra previsto um impacto muito significativo na qualidade dos cuidados a serem prestados bem como, na qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos.
Mas, estará Portugal verdadeiramente preparado para integrar tecnologia na área da saúde? De acordo com o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal assume uma posição muito interessante no que respeita a estatísticas relacionadas com a adoção de tecnologia e fundamentalmente, no que toca à implementação de medidas focadas na transformação digital, o que leva a crer que Portugal tem sim muito potencial para se tornar um país altamente digitalizado no setor da Saúde e não só. A título de exemplo, em 2019, a informação de Saúde disponibilizada online situava-se nos 50,7% vs. 46,3% nos restantes países da OCDE. No que diz respeito à utilização de serviços e Governo, a percentagem é 46% vs. 45,6% nos restantes países da OCDE.
Perante esta realidade, Portugal é um país pioneiro e um modelo de sucesso em muitas iniciativas relacionadas com a transformação digital na área da saúde. A adoção massiva do Processo Clínico Eletrónico é um excelente exemplo disso, podendo ser considerado, nos dias de hoje, como uma das fontes agregadoras de informação clínica mais relevante no contexto da saúde digital.
Por outro lado, a rápida adoção da prescrição médica eletrónica de medicamentos a nível nacional é um outro exemplo de colaboração entre entidades públicas e privadas para atingir um objetivo comum, que tem benefícios clínicos com um claro impacto na estrutura de custos para o país, sendo considerada uma referência Europeia.
Neste sentido, acredito que Portugal e, fundamentalmente, os vários stakeholders do ecossistema da saúde detêm a motivação certa para contribuir para um país extremamente competitivo na digitalização do setor da saúde.
Quero com isto dizer que Portugal tem sim de estar preparado para a integração da tecnologia na área da saúde e todos os atores têm de estar focados na interoperabilidade entre sistemas, o que constitui uma necessidade incontornável num ecossistema onde coexistem múltiplos sistemas, quer desenvolvidos pelo próprio SNS, quer por outros parceiros do setor privado. É fulcral, portanto, existir vontade política para tal.
(*) Executive Board Member- Glintt
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