Férias, Natal e Tempo na Internet

por Tito de Morais (*)

[caption]Tito de Morais[/caption]Desafiaram-me a escrever sobre a segurança das crianças online, "a propósito das férias de Natal que se avizinham e que são sempre sinónimo de mais tempo livre (o que muitas vezes é equivalente a mais tempo na Internet)".

Aceitei o desafio com agrado. É um tema sobre o qual sou interpelado regularmente por pais e educadores. É também uma questão abordada num estudo publicado recentemente e que não foi dada muita atenção na comunicação social portuguesa.

Segundo o estudo "Towards a safer use of the internet for children in the EU - a parents' perspective", a segunda principal restrição colocada pelos pais portugueses, cujos filhos usam a Internet, é a de não permitirem que estes estejam muito tempo online. Na União Europeia, apenas somos suplantados por búlgaros, espanhóis, italianos, holandeses e romenos.

Por outro lado, questionados sobre as actividades online permitidas, apenas 11,7% dos pais portugueses permite que os seus filhos estejam muito tempo online, pergunta a que apenas espanhóis, italianos e eslovenos respondem com valores inferiores.

Estes números não são de espantar. O mesmo estudo revela que, nos países da UE, os portugueses são os que se mostram mais preocupados que os filhos se possam isolar das outras pessoas por estarem demasiado tempo online.

Contudo, o nível de preocupação e as restrições impostas pelos pais poderá também estar relacionado com outros factores, nomeadamente a frequência da utilização da Internet pelos próprios pais.

A nível europeu, tirando os gregos, os portugueses são os que usam a Internet de uma forma menos intensiva. Apenas 9,9% diz que o faz várias vezes por dia - valores inferiores apenas registados em Espanha, Malta e Grécia - e só 22,4% diz que o faz todos os dias - valores inferiores só registados no Chipre e Grécia.

Segundo a perspectiva dos pais portugueses, de alguma forma, o mesmo acontece com os filhos. De facto, os seus filhos estão entre os que menos usam a Internet na UE. Apenas 67,7% afirma que os seus filhos usam a Internet. Só o Chipre, Grécia e Itália registam valores inferiores. Curioso ainda é o facto de 3,4% não saber se os seus filhos usam ou não a Internet, o valor mais alto registado nos 27 países da UE.

Resumindo, se os portugueses usam a Internet com pouca frequência, é fácil acharem que os seus filhos usam muito. Mesmo que eles, na realidade usem pouco, usarão certamente mais que os pais, o que na perspectiva destes, será decididamente um excesso.

Numa altura em que, o "sapatinho" de muitas crianças e jovens portugueses contém computadores, dispositivos de ligação à Internet, telemóveis, consolas e jogos, entre muitos outros gadgets tecnológicos, antevejo algumas preocupações nesta quadra festiva. Com tanta novidade e tempo livre à frente, é natural que os miúdos se entusiasmem e lhes dediquem mais tempo que o habitual, em detrimento de uma série de outras actividades.

Não me parece que tal seja problemático. Acho até natural que assim seja.

Importa, contudo, acompanhar e estar atento. Para que tal não se torne um problema, a prazo. Para o evitar, por ventura mais do que impor restrições, importa criar alternativas. Importa também ser-se utilizador. Assim, talvez seja mais fácil compreender que, a um maior tempo de utilização, não tem de corresponder, obrigatoriamente, um maior isolamento. Para além da abordagem regulamentar e da parental, importa também a educacional ao nível do ensino da gestão do tempo e, se necessário, a adopção de ajudas tecnológicas.

Consciente deste tipo de preocupação e das dificuldades de muitos pais, desde 2003 que tenho escrito sobre o assunto, nomeadamente nos artigos "As Crianças, os Jovens, Os Pais e os Novos Média", "Agarrados ao Ecrã?!", "Internet em Demasia?! Eis o Que Fazer…" (Parte I e Parte II), "Quanto Tempo é Muito Tempo?" e, mais recentemente, em "Controlo do Tempo de Utilização". Se esta é uma preocupação, dê uma espreitadela.

(*) Fundador do Projecto MiudosSegurosNa.Net