Por Luís Monção (*)
A Indústria 4.0, também conhecida como a indústria inteligente, representa uma transformação inevitável, que vai ditar o futuro da competitividade global. Ao integrar tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA) e Big Data, assistimos ao surgimento de fábricas inteligentes, sistemas conectados e processos otimizados que já estão, verdadeiramente, a revolucionar o tecido industrial. Mas, mesmo com esses desenvolvimentos, ainda existem obstáculos e implicações que não devem ser descurados e que merecem uma análise mais crítica, especialmente no contexto atual.
Os benefícios da indústria inteligente são inegáveis, mas será mesmo esta uma revolução para todos? Desde a otimização dos processos produtivos à personalização em massa, o impacto positivo na eficiência e sustentabilidade das operações é realmente profundo e transformador. Contudo, quem é que está mesmo preparado para dar o passo seguinte para essa transformação? Para grandes empresas multinacionais, que contam com vastos recursos para investirem na inovação, a adoção de tecnologias de ponta é, de facto, uma realidade. Mas para as empresas de menor dimensão (PMEs) o cenário poderá ser bastante diferente.
Enquanto os gigantes da indústria já estão a navegar neste novo paradigma, muitas PMEs ainda se deparam com os elevados custos para o arranque da implementação de infraestruturas inteligentes. A modernização é, claro, uma necessidade, mas as barreiras financeiras podem asfixiar a capacidade de competição das empresas de menor dimensão. Neste aspeto, acredito que ainda faltem as políticas de apoio e incentivos claros que permitam que todos possam participar nesta revolução. Não se trata apenas de inovação tecnológica, mas de assegurar que seja inclusiva e acessível.
A transformação do mercado de trabalho é, também, um ponto que merece reflexão. É verdade que a automação e a IA estão a criar novas oportunidades, mas também uma maior pressão. Isto porque a necessidade de se contar com uma mão de obra qualificada é um fator determinante para o sucesso da indústria inteligente. Porém, a escassez de profissionais preparados é uma ameaça que pode desacelerar a adoção dessas novas e promissoras tecnologias. No mundo atual em que vivemos, a requalificação de trabalhadores – upskilling e reskilling – deverá ser uma prioridade.
Mais do que uma questão de progresso tecnológico, a transição para a Indústria 4.0 também deve ser vista como uma questão social. Como serão distribuídas as oportunidades? Que medidas serão tomadas para garantir que a automação não amplia as desigualdades a nível de empregabilidade?
Por fim, sabemos também que, à medida que a conectividade aumenta, também cresce o risco de assistirmos ao desenvolvimento de ciberataques. As fábricas inteligentes são mais produtivas, mas também são mais vulneráveis a este tipo de ataques. Sem dúvida que a segurança da infraestrutura digital deveria ser uma prioridade inegociável para qualquer empresa que embarca nesta jornada de transformação, mas o que vemos muitas vezes são sistemas ainda impreparados para lidar com as crescentes ameaças. Recentes incidentes globais de ataques em empresas industriais evidenciam que a segurança digital não pode ser uma reflexão tardia.
A Indústria 4.0 precisa de ser acompanhada pelo fortalecimento das políticas de cibersegurança e uma abordagem que seja, acima de tudo, preventiva. Hoje em dia já não é possível falar de inovação sem falar de proteção.
Embora a indústria inteligente prometa avanços, é fundamental que essa narrativa seja equilibrada com uma compreensão real dos desafios que as empresas enfrentam. Desde o custo de implementação, passando pela requalificação de trabalhadores e a cibersegurança, nada deve ser descurado para que essa revolução seja verdadeiramente inclusiva e segura. Não basta querer abraçar a inovação; é sim necessário preparar-se para os obstáculos que a mesma nos traz.
Não há qualquer dúvida de que a Indústria 4.0 é o futuro, mas o seu sucesso vai depender de decisões conscientes, tanto no campo das políticas públicas como na gestão empresarial.
(*) Diretor de Indústria e Consumo da Minsait, uma empresa da Indra, em Portugal
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