Por António Bob Santos (*)



[caption]António Bob Santos[/caption]

Após um período de convergência com a União Europeia (UE) em termos de capacidade de inovação (de 22º para 15º lugar, entre 2006-2011), o impacto das medidas de austeridade fez-se sentir de forma generalizada nas áreas da inovação e da ciência, levando a que Portugal caísse três lugares entre 2011-2014 na UE27 (15º para 18º lugar).

Reparar os danos causados no sistema de inovação e retomar a trajetória de convergência de Portugal com a UE vai demorar anos, dado que retomar a formação avançada de recursos humanos, a requalificação da população adulta, a atração dos trabalhadores qualificados que foram incentivados a abandonar o país, a recuperação do atraso provocado pela indefinição da política de clusters e da Agenda Digital ou o retomar das políticas de alteração do perfil de especialização da economia, serão tarefas que apenas terão impacto na economia a médio-longo prazo.


Acelerar esta recuperação é fundamental, dado que, a prazo, existe uma correlação significativa entre os países que ativamente estimulam a inovação e as taxas de crescimento económico (e só com crescimento é possível criar emprego de forma real). É neste sentido que os Estados, neste caso Portugal, têm de ter como interesse maior e desígnio nacional aumentar a sua capacidade de inovação.


Contudo, as políticas de inovação a definir em Portugal terão de considerar o carácter cada vez mais aberto e global do processo de inovação, derivadas das profundas alterações da economia mundial das últimas décadas (generalização das TIC na sociedade e na estrutura produtiva mundial, mobilidade dos trabalhadores a nível global, externalização da I&D por parte das empresas multinacionais, crescente mobilidade do conhecimento e da tecnologia, etc.). A nova geração de políticas de inovação terá de ser em consideração esta realidade.


As boas notícias é que a maior parte das políticas necessárias não necessitam de significativos recursos financeiros adicionais, podendo ser desenvolvidas através da reorientação e da coordenação de outras políticas públicas (e de iniciativas privadas) já existentes, bem como através de uma articulação mais eficaz da política externa (diplomacia económica) para a área da inovação.


A atual diplomacia económica necessita de ser afinada para uma diplomacia de inovação (innovation diplomacy), promovendo Portugal como destino de investimento na área da ciência, das tecnologias e da inovação, mas também tendo os mercados globais como potenciais destinos da tecnologia e inovação desenvolvida em Portugal. Neste último aspeto, temos bons exemplos a promover, como nos sistemas de pagamento, na logística integrada, nas tecnologias educativas, no software, nas energias renováveis, na mobilidade sustentável, no governo eletrónico, nos têxteis técnicos ou mesmo na aeronáutica e aeroespacial.


Para uma diplomacia de inovação, a representação externa de Portugal pode ser importante a vários níveis - embaixadas, consulados, representações permanentes na UE, na OCDE e noutras entidades, contactos privilegiados com a diáspora - sendo o elo de ligação-chave com os mercados globais para aumentar a capacidade de inovação em Portugal. Por exemplo:



  • • No apoio ativo à inserção das empresas, das entidades de investigação e dos clusters nacionais nas redes globais de conhecimento e de inovação, sendo fundamental o papel dos delegados nacionais, dos técnicos e de outros portugueses que estão atualmente em organismos internacionais, quer ao nível técnico quer de “esclarecimento estratégico”;
  • • Na captação de capital de risco e dos fundos soberanos internacionais para projetos de inovação e de I&D que envolvam entidades nacionais;
  • • Na atração de recursos humanos qualificados para áreas atualmente em défice em Portugal (como nas TIC);
  • • Na criação de condições para atrair “talento” e jovens empreendedores internacionais para desenvolver projetos empresariais em Portugal;
  • • Na promoção externa das tecnologias e conhecimento gerado em Portugal, estimulando o seu potencial de valorização nos mercados internacionais;
  • • Na internacionalização das start-ups e spin-offs nacionais, através da articulação ativa com os principais centros mundiais de incubação e fundos de investimento;
  • • Na recolha de informação, de boas-práticas e de oportunidades de desenvolvimento tecnológicos a nível global, de forma a criar oportunidades de investimento para as entidades nacionais.
São apenas alguns exemplos de como a política externa pode exercer uma ativa diplomacia para a inovação, estimulando em duplo sentido os fluxos de conhecimento e de inovação entre Portugal e o resto do mundo. Há, contudo, um fator fundamental para que se possa desenvolver a diplomacia para a inovação – a clarividência política da importância da inovação para o progresso e o crescimento. Esperemos, assim, por 2016, para retomar o processo de construção de um Innovative Portugal.

(*) Doutorando em Economia e Especialista em Políticas de Inovação