Por Nuno Abrantes (*)
A Inteligência Artificial é a nova eletricidade. Transformará todos os setores e criará um enorme valor económico, referiu Andrew Ng, referência em machine learning e Inteligência Artificial (IA), no início de 2017. Recorro a esta metáfora para enaltecer estas duas grandes invenções que estão a impactar, de forma semelhante, o mundo. A eletricidade passou a fazer parte das nossas vidas a partir da segunda metade do século XIX, que, ao transformar a indústria e a sociedade, tornou-se uma força motriz da Segunda Revolução Industrial. No entanto, inicialmente, provocou uma onda de ceticismo quanto à sua utilidade e segurança, até conseguirem compreender, por fim, os seus benefícios e como podia ser utilizada para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Através desta breve descrição, consigo identificar e correlacionar uma série de acontecimentos com o que estamos a vivenciar atualmente. Também a IA tem vindo a espoletar a curiosidade dos utilizadores – de acordo com a Google, este tema registou o recorde de pesquisas online em 2022, tanto em Portugal, como no resto do mundo. No entanto, e à semelhança do que aconteceu com a eletricidade, que transformou o setor financeiro, através do desenvolvimento dos sistemas de pagamento eletrónico, também a democratização do acesso à IA irá permitir alcançar grandes feitos. Mas, na prática, o que irá mudar?
Temos assistido, nos últimos anos, a uma maior procura por métodos de pagamentos que vão além do tradicional numerário ou cartão físico, como é o caso da tecnologia contactless – que permite fazer transações apenas por aproximação ao terminal de pagamento automático – e do Buy Now Pay Later – uma tendência de comprar online a prestações, que está a marcar terreno no mercado financeiro. À medida que estas e outras tecnologias têm evoluído, também a segurança deve evoluir. É aqui que a IA desempenha (e continuará a desempenhar) um papel crucial. A IA permite processar grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões e potenciais atividades fraudulentas. Através do uso de algoritmos de machine learning e com base na análise de informações provenientes de diversas fontes, esta ferramenta pode identificar novos tipos de fraude que antes passavam despercebidos, protegendo não só os negócios, como os próprios consumidores.
Mas a utilização da IA vai além da segurança, permitindo simplificar o processamento de pagamentos, na medida em que consegue automatizar tarefas repetitivas, como a recolha e análise de dados ou a elaboração de relatórios, reduzindo possíveis erros e permitindo que os profissionais do setor se concentrem em tarefas mais estratégicas para o negócio. Ao encarregar a IA da análise destas informações, os negócios poderão também retirar insights importantes que permitam desenvolver estratégias de marketing direcionadas e, principalmente, personalizar e otimizar as ofertas de acordo com as necessidades de cada consumidor. Paralelamente, a IA pode também ajudar os negócios a tornar as suas operações mais eficientes, uma vez que, através da criação de assistentes virtuais e chatbots, poderão fornecer um apoio altamente personalizado e eficiente aos consumidores durante o processo de pagamento, seja para sugerir produtos e serviços ou auxiliar na resolução de problemas relacionados com pagamentos – a título de exemplo, no início deste ano, o Governo e a Agência para a Modernização Administrativa, lançaram no portal do ePortugal uma assistente virtual que utiliza a mesma tecnologia do ChatGPT para ajudar os cidadãos sobre como utilizar e aceder à Chave Móvel Digital.
De referir que a IA poderá também desempenhar um papel importante nos pagamentos internacionais e na conversão de moedas, uma vez que irá ajudar a reduzir a complexidade e os custos associados às transações internacionais, fornecendo taxas de câmbio em tempo real e identificando as melhores opções de pagamento para cada transação. Por fim (apesar de ainda só estarmos no início), importa destacar que com o avanço da IA, os pagamentos por voz e reconhecimento biométrico, tanto facial, como por impressões digitais, tornar-se-ão mais comuns. A IA irá permitir autenticar e verificar a identidade do utilizador com precisão e segurança, tornando os pagamentos mais convenientes e sem ser necessário colocar códigos de acesso ou cartões físicos.
Por estes, e tantos outros motivos, acredito que, efetivamente, a eletricidade mudou o mundo, mas que a IA não ficará de todo atrás. A utilização da IA, de forma responsável, irá permitir não só acelerar a evolução e inovação dos pagamentos, tornando-os mais convenientes, seguros e personalizados, como revolucionar todo o nosso quotidiano, seja na forma como vivemos, trabalhamos ou transacionamos.
(*) CIO da UNICRE
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