Por de Álvaro Primitivo (*)

Apesar de todo o ruído à volta do tema, parece relativamente consensual que a Inteligência Emocional e a Inteligência Artificial são complementares, até porque a primeira enfatiza a profundidade da experiência humana e a segunda destaca a automatização e resolução de problemas.

Até há bem pouco tempo existiam dúvidas sobre se a IA poderia interpretar ou exprimir emoções, mas estamos a viver uma era de profunda transformação nesta área, onde tudo evolui a um ritmo estonteante.

A evolução das redes neurais e da GenAI (capacidade de a IA aprender e gerar conteúdos baseados na análise e processamento das informações recolhidas), introduziu o conceito de AEI (Artificial Emotional Intelligence).

O impacto deste facto foi tal que obrigou o Parlamento Europeu a legislar e a redefinir o conceito de IA para: “a capacidade que uma máquina tem para reproduzir competências semelhantes às humanas como é o caso do raciocínio, a aprendizagem, o planeamento e a criatividade. A IA permite que os sistemas técnicos percebam o ambiente que os rodeia, lidem com o que percebem e resolvam problemas, agindo no sentido de alcançar um objetivo específico. O computador recebe dados, processa-os e responde.”

 Na medicina, já é possível elaborar diagnósticos detalhados e previsão de doenças baseadas na herança genética. Mas será a IA capaz de substituir a emoção ao toque? O dar a mão ao utente, demonstrar empatia ou até chorar em conjunto?

No jornalismo, a IA consegue processar, compilar e produzir comunicados muito mais rapidamente. Mas será capaz de substituir o repórter para reconhecer o local do crime ou ler sinais visuais de nervosismo no entrevistado?

Já é possível utilizar a IA no processo de seleção do consultor que melhor se adapta às características de um projeto, do ponto de vista emocional e não apenas técnico, o que era impensável até há bem pouco tempo.

Tudo isto é espetacular! Mas levanta questões do ponto de vista ético, como a discriminação e o preconceito, uma vez que a IA será sempre o resultado do que lhe indicaremos para ser.

Controlar o impacto social que esta tecnologia introduz será um desafio. O que irá acontecer à geração atual quando terminar os estudos? Como será a integração de um estagiário? Como promover a evolução dentro de determinadas profissões quando as funções básicas já estão cobertas pela IA? Vamos exigir competências avançadas a um recurso jovem?

Um recurso sénior será sempre essencial para diferenciar e entregar qualidade, mas para evoluir tem de existir espaço para pensar, aprender e errar no início de carreira.

Este é o grande desafio, criar um equilíbrio harmonioso onde as capacidades da inteligência humana sejam exponenciadas pela utilização eficiente da IA. Da mesma forma que aprimoramos a IA com reconhecimento emocional para uma experiência mais humana. Tudo isto com elevado sentido ético e de responsabilidade social.

Introduzir a IA nas escolas e empresas não poderá descurar o pensamento critico essencial para a inovação e singularidade que potenciou a evolução da Humanidade durante a história.

É aqui que evoluímos do conceito de Inteligência Emocional para Sabedoria Emocional (Emotional Wisdom), onde se torna essencial complementar a profundidade do conhecimento humano com a utilização da IA para acelerar e exponenciar produtividade.

Quem não evoluir nesta competência e não se atualizar já está a perder competitividade.

Será sempre mais fácil lidar com máquinas do que com pessoas, mas temos a certeza de que nada substitui o poder do contacto pessoal. A energia daquele abraço que não falha, mesmo quando falha a energia elétrica!

(*) Operations Director da Anturio