Por Francisco Jaime Quesado (*)

Esta crise veio trazer de novo a aposta no Interior para a agenda estratégica do país. As restrições colocadas em sede de realização de viagens e as condições de acolhimento que o interior propicia estão a relançar a aposta em novos conceitos um pouco por todo o país. O interior representa de facto uma nova oportunidade de relançamento da economia e de adaptação a uma nova filosofia de vida que esta pandemia veio trazer. Mas significa também a necessidade de ter uma visão clara de qual deve ser o foco que deve ser colocado do ponto de vista estratégico em termos de investimento e fixação de capital e de pessoas. Por isso, exemplos como o Projeto de Pólo de Inovação Digital DIH 4 Sm@rt Regions são um exemplo de como a Inovação Inteligente é crítica para garantir um interior mais competitivo.

As políticas públicas de aposta no desenvolvimento estratégico do território, muito associadas à dinâmica dos fundos comunitários e ao trabalho em rede protagonizado pelas áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais, em articulação com universidades e associações empresariais, têm sido importantes para reforçar os níveis de inteligência coletiva das diferentes áreas regionais e acompanhar as tendências estratégicas produzidas e disseminadas por entidades de referência como a Comissão Europeia e a OCDE. Os Pólos de Inovação Digital são um lab para essa agenda – no caso do  DIH 4 Sm@art Regions a articulação entre municípios, institutos politécnicos, centros de competência, empresas e outras entidades de referência – num amplo território do interior com uma dimensão transfronteiriça bastante consolidada.

Quando se analisam, contudo, as apostas estratégicas em termos de especialização económica assumidas pelas diferentes áreas do território vem ao de cima a falta de coordenação e articulação, absolutamente centrais para poder assumir opções claras em termos de captação de investimento e fixação de capital social. De Trás-os-Montes ao Alentejo, passando pela zona da Serra da Estrela, existe uma falta evidente de aposta no capital e no talento como os enablers estratégicos essenciais para o desenvolvimento de uma nova agenda competitiva com efeito global. E também aqui este projeto DIH pretende ser uma plataforma dinâmica e colaborativa de atração de talento e de investimento para dar uma nova dinâmica estratégica ao desenvolvimento do interior.

Impõe-se a aposta num novo contexto e conceito de comunidades inteligentes, focadas na inovação e criatividade – esse é o caso de muitos membros deste DIH, como a dinâmica de Bragança, com o Instituto Politécnico e os seus centros de competência,  da enologia e floresta em Vila Real,   dos investimentos tecnológicos no Fundão, da mobilização inovadora dos vários Politécnicos e clusters presentes ( recursos minerais e agroalimentar). Exemplos de clara articulação colaborativa em rede entre os principais atores locais, focados na criação de valor e melhoria da qualidade de vida das comunidades.

Mas importa reforçar esta aposta estratégica e o papel de projetos como este DIH é absolutamente crítico.  Nunca como agora foi fundamental que se definisse uma coordenação clara entre poderes públicos e entidades privadas em sede da especialização assumida para cada território e a partir daí sinalizar um programa claro de criação de condições de contexto positivo para a captação de investimento e a fixação de talentos no interior, O caso francês, com os pólos de competitividade e de Itália com os distritos industriais é absolutamente exemplar nesta área.

É preciso perceber que a aposta no Interior não se faz por decreto. O papel das políticas públicas é central na orientação estratégica das opções que devem ser feitas e terá que haver por parte dos diferentes atores do território – municípios, universidades e institutos politécnicos, associações empresariais, centros de inovação, entre outros – uma definição clara das áreas de especialização estratégica para as quais devem ser sinalizados os esforços colaborativos de captação de investimento e fixação de recursos humanos e talentos. Se esta não for a estratégia, continuaremos a assistir a uma competição desenfreada e sem qualquer racionalidade ao longo do território pela mesma especialização estratégica. Por isso é que a inovação inteligente será a grande pedra de toque para um interior mais competitivo.

(*) Economista e Gestor – Especialista em Inovação e Competitividade