Por Gonçalo Hall (*)

O nomadismo digital tornou-se uma tendência mundial com a implementação generalizada do trabalho remoto dentro das empresas nos últimos anos, mas está longe de ser novidade para empreendedores e freelancers que já desfrutam deste estilo de vida há bastantes anos.

Como alguém que abraçou esta forma de viver há 5 anos e lidera vários projetos na área como a Digital Nomad Village na Madeira, tenho uma perspetiva única sobre o futuro do movimento, das maiores tendências e de como o mundo se está a adaptar a este novo estilo de vida.

Para quem não está familiarizado com a expressão, um nómada digital é um indivíduo que trabalha remotamente e viaja por um período constante de tempo. A estadia média na Madeira tem sido de dois meses com um gasto médio de 1800 euros por mês nas empresas locais e foca-se muito nas épocas baixas dos destinos onde encontram preços mensais mais acessíveis no alojamento.

As maiores tendências do nomadismo digital estão ligadas ao futuro da forma como vivemos, mais conectados com outras pessoas, com mais atenção à nossa saúde e sustentabilidade.

Estas 7 tendências são chave no futuro do movimento e dos destinos:

  1. Os nómadas vão cada vez mais viajar entre comunidades. Ser nómada pode ser um estilo de vida bastante solitário, viajar pelo mundo de local em local, mudando constantemente de amigos e hábitos pode ser duro. A criação de comunidades de nómadas digitais facilita o processo de integração dos nómadas na comunidade local, criam eventos para que os nómadas interajam, ajudam na pesquisa de informação e alojamento e garantem que os nómadas têm um impacto local positivo.
    O Governo Regional da Madeira foi o primeiro governo a ser bem sucedido na criação de uma comunidade de nómadas digitais, mas a verdade é que outras comunidades foram criadas por privados, como é o caso de Bansko na Bulgária, Canggu em Bali, Chiang Mai na Tailândia e muitas outras um pouco por todo o mundo.
  2. Vilas e aldeias que sofrem com a perda de população vão entrar na competição para atrair nómadas digitais como a chave de uma estratégia de repovoamento que até hoje não tinha as ferramentas necessárias para ser bem sucedida. A Ponta do Sol é a vila mais famosa dentro da comunidade nómada, mas vamos ver várias aldeias a criarem as condições perfeitas. Do espaço de coworking, passando pelo alojamento e comunidade, para receber estes nómadas.
    Os nómadas têm a capacidade de dinamizar a economia, criar emprego e ter um importante impacto direto na economia local, mas o seu impacto pode ir muito além disso, tornando as estas localidades trendy e famosas, atraem população residente que vêm esta dinâmica social internacional com bons olhos quando procuram um novo local para se fixarem.
    Em Portugal espero ver as primeiras aldeias a fazerem parceria com a Digital Nomad Association Portugal ainda este ano para lançar o primeiro projeto piloto no nosso país.
     
  3. Os nómadas vão procurar comunidades onde possam aprender e desenvolver capacidades físicas e novos desportos como o surf, kitesurf, dançar salsa e outras âncoras. Cada vez mais vemos mais procura de nómadas que querem aprender uma competência enquanto viajam. Ser um destino atrativo tem de incluir atividade física além da estrutura certa para trabalhar e socializar. 
  4. Novos projetos de coworking e coliving vão ser desenvolvidos tanto nas áreas rurais como nos grandes centros urbanos como forma de solucionar o desafio habitacional que todo o mundo enfrenta. Partilhar espaço de trabalho e alojamento com qualidade é algo a que os nómadas estão habituados e procuram com frequência como forma de facilitar a sua integração na comunidade e conhecerem pessoas rapidamente. 
  5. Sustentabilidade. Se é verdade que todo o mundo está a acordar para a necessidade de vivermos de forma mais sustentável, este tema já está na comunidade nómada há vários anos. Alojamento sustentável, reciclagem, desperdício alimentar, alimentação vegetariana e vegana estão na agenda sendo algo que os nómadas se preocupam frequentemente. Todos queremos ter um impacto positivo no nosso planeta.
  6. Criação de uma economia de médio prazo para este novo público. A nossa economia está otimizada para o longo prazo, quer sejam os contratos de 24 meses dos serviços de internet ou os contratos dos ginásios. Do outro lado temos o turismo, que consome apenas no curto prazo, como o alojamento, diárias nos ginásios, museus, etc.
    Estamos finalmente a ver a flexibilização destes contratos. O nómadas não quer nem pode ter contratos de fidelização, procuramos diversidade, opções de escolha e acima de tudo flexibilidade. Alojamento mensal, ginásios com preços ao mês sem contratos e passe mensal nos transportes públicos sem burocracia são apenas algumas das áreas onde vamos ver enormes desenvolvimentos nos próximos anos. 
  7. Workations. Nem todos querem ser nómadas a tempo inteiro, mas porque não experimentar por um ou dois meses? A oferta de workations em que tudo é preparado por uma empresa, do alojamento às atividades vai ser cada vez mais comum, estes produtos têm a duração de uma semana a três meses vai crescer muito para que este estilo de vida esteja ao dispor de mais pessoas, mesmo que por um período mais limitado de tempo. 

O trabalho remoto vai permitir que mais pessoas possam escolher o seu estilo de vida e cada vez mais pessoas estão a escolher a liberdade de viajar enquanto trabalham. Temos já centenas se não milhares de nómadas digitais portugueses em todo o mundo, com uma tendência para continuar a aumentar em 2023.

(*)  CEO da NomadX

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