Por Francisco Jaime Quesado (*)
Este período complexo e incerto que estamos a viver levanta muitas questões em relação ao futuro. Um futuro onde o digital vai claramente ter um novo papel a desempenhar. O Digital será um enabler de modernidade operativa mas sobretudo uma fronteira positiva entre a aposta na inovação e a realização dum desejado equilíbrio social. No tempo que aí vem, o digital passará a estar presente cada vez mais no nosso dia a dia, ajudando a economia passou a ser confrontada com uma agenda de valor cada vez mais competitiva e global e a sociedade com a necessidade de fazer um compromisso permanente entre o acesso a uma informação sempre disponível e a preservação dum espaço privado sempre importante. Precisamos por isso neste tempo de crise de apostar na criação e consolidação de um Novo Valor Digital.
Uma nova aposta
A consolidação de um verdadeiro Novo Valor Digital é um desafio complexo e transversal a todos os actores e exige um capital de colaboração entre todos. Com o Digital a nossa sociedade será cada vez mais diferente e o grau de liberdade de participação das pessoas passará a ter uma dimensão nunca antes possível – a informação passará a estar disponível a todo o momento e a ser a base de novas plataformas de inteligência estratégica, dinamizadoras de novas redes de colaboração e de novas soluções para os novos problemas que surgiram. O Novo Valor Digital irá acelerar a capacidade e ritmo de execução num contexto de competência cada vez mais exigente.
A aposta num Novo Valor Digital não pode ser feita por decreto. Implica uma ampla mobilização de todos para um percurso conjunto em que teremos que ser capazes de encontrar respostas para questões que serão fundamentais para a construção deste novo tempo que aí vem:
- Qual o caminho a dar às TIC enquanto instrumentos centrais duma política activa de intervenção pública como matriz transversal da renovação da nossa sociedade ?
- Qual a forma possível de fazer das empresas (e em particular das PME) os actores relevantes na criação e valor e garantia de padrões de qualidade e vida social adequados, num cenário de crescente “deslocalização” económica?
- Qual o papel efectivo da educação como quadro referencial essencial da adequação dos actores sociais aos novos desafios da sociedade do conhecimento? Os actores do conhecimento de que tanto se precisa são “educados” ou “formados”?
- Qual o papel do I&D enquanto área capaz de fazer o compromisso necessário entre a urgência da ciência e a inevitabilidade da sua mais do que necessária aplicabilidade prática para efeitos de indução duma cultura estruturada de inovação?
- Qual o sentido efectivo das políticas de empregabilidade e inclusão social enquanto instrumentos de promoção dum objectivo global de coesão social? O que fazer de todos os que pelo desemprego se sentem cada vez mais marginalizados pelo sistema?
O Novo Valor Digital terá que assentar na criação das condições para a qualificação “em rede” dos diferentes agentes que acreditam no futuro e numa verdadeira “agenda de modernidade”, participativa e apostada no novo paradigma da competitividade, essencial para a criação duma oportunidade nacional na economia global. O Novo Valor Digital será a oportunidade da informação se assumir duma vez por todas como a base de uma nova inteligência estratégica que mobilize a sociedade para um novo contrato colectivo de confiança, em que a autonomia individual se assuma como a base de uma nova diferença. E caberá a alguns atores centrais como as Empresas de Base Tecnológica a dinamização da agenda de um Novo Valor Digital.
Novos Exemplos
O caso das Empresas de Base Tecnológica é um exemplo concreto desta situação. O adequado “desenvolvimento estratégico das ambições das EBT liga-se aos problemas habituais de gestão associados a situações de rápido crescimento. O problema da gestão do desenvolvimento ligado a estes contextos especiais implica uma avaliação da qualidade das redes de valor criadas à volta destas empresas e da sua envolvente” (Lofsten, H. Lindelof, P. 2002). As EBT assumem um contexto de importância para a criação de valor digital ligado ao seu nível de performance que é suposto ser muito superior ao das empresas normais. Se o processo de consolidação do valor digital depende muito da qualidade das redes de conhecimento que se conseguem gerar, será com exemplos como os das EBT que se garantirá a execução desse objective.
O processo de “ geração de valor acrescentado através das redes dinamizadas no âmbito de plataformas como as EBT tem que assentar na capacidade formal dos agentes envolvidos se encontrarem disponíveis para fazer do processo de partilha colaborativa uma peça central na reavaliação da sua própria capacidade estratégica de geração de valor” (McAdam, R. ,Keogh, W., Galbraith, B., and Laurie, D. 2005). Isto implica que haja por parte das empresas e também das universidades a demonstração do valor digital criado, de presença numa rede que é muito uma base permanente de avaliação de capacidade endógena mas também de eficácia na cooperação gerada ao longo da cadeia de valor. As redes de conhecimento são assim “contratos formais de apoio ao desenvolvimento que terão que ser capazes de apoiar soluções informais de procura de novos produtos e serviços por parte dos agentes que as dinamizam” (Amatti, A. A., Melasecche, A., Fratini, N., Mancini M. A. 2007)
As Empresas de Base Tecnológica têm sido na maior parte dos casos objecto de forte incentivo público em termos de financiamento e apoio estratégico. A política pública tem estado associada ao entendimento de que “as Empresas de Base Tecnológica são verdadeiros centros activos de colaboração estratégica com efeito de difusão de boas práticas e disseminação de dinâmicas de valor digital com efeito estruturante ao nível das áreas económicas centrais” (Quintas, P., Wield, D., Massey, D. 1992). A dinamização de condições de contexto estruturais facilitadoras do papel das EBT como agentes de dinamização de redes activas de conhecimento entre a universidade e a indústria é o reconhecimento por parte das políticas públicas do papel das EBT é absolutamente estratégico para esta nova agenda global.
Um Compromisso Colaborativo
A avaliação do nível de capital digital próprio na geração de valor acrescentado associado às redes de conhecimento torna-se muitas vezes difícil por causa da divergência existente ao nível das acções e objectivos dos actores que as integram. O processo de “convergência entre o objectivo duma universidade de reforçar a partir das suas EBT os seus indicadores de investigação e das empresas de geraram níveis adicionais de valor e rentabilidade, não se faz por mero contrato formal mas terá que ser o resultado de acções concretas de parceria construidas num contexto de confiança colaborativa sustentada” (McAdam, R. ,Keogh, W., Galbraith, B., and Laurie, D. 2005). A forma como as EBT potenciam esta convergência estratégica a partir do seu papel de “seedbeds” de inovação ditará em grande medida o seu real contributo para a construção de um novo valor digital.
O Novo Valor Digital que importa construir para a nossa economia e sociedade deverá ser suportado por uma verdadeira participação colaborativa, em rede, de empresas, Universidades e Centros de Competência. O seu sucesso dependerá muito do empenho que entidades públicas e privadas colocarem nesta agenda de mudança – importa por isso que o Compromisso Digital seja uma aposta clara com impactos concretos em termos económicos e sociais.
(*) Economista e Gestor – Especialista em Inovação e Competitividade
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