Por Paulo Renato Oliveira (*)
A Inteligência Artificial (IA) emerge como uma força revolucionária em diversos setores - e não é diferente na cultura e no design. A interseção entre criatividade humana e os algoritmos avançados está a moldar uma nova era, desafiando paradigmas estabelecidos e explorando territórios inexplorados. Será que passaremos a ser mais consumidores do que produtores de conteúdos?
Nos últimos anos, testemunhamos uma revolução sem precedentes na produção
cinematográfica. Enquanto a grande mudança no setor do cinema estava centrada na distribuição, com o aparecimento de serviços de streaming como a Netflix e Amazon Prime, agora verificamos uma transformação na própria produção cinematográfica. Hoje, com o avanço da tecnologia e a introdução da inteligência artificial, o que costumava levar meses a ser produzido, agora pode ser realizado numa questão de horas e, o que antes era considerado pós-produção, agora é incorporado em tempo real durante as filmagens.
Um dos aspetos mais impressionantes desta revolução é a forma como os cenários interagem em tempo real com os atores. Estes não estão mais limitados às telas verdes, agora os atores podem interagir efetivamente com personagens geradas por inteligência artificial, que reagem de forma autêntica e dinâmica.
Esta tecnologia não acelera apenas o processo de produção, mas eleva também o nível de imersão e autenticidade nas produções cinematográficas.
No universo do design, a influência da IA também se tem feito sentir. A automação de tarefas rotineiras permite que os designers dediquem mais tempo à expressão criativa e à conceptualização. Ferramentas baseadas em IA ajudam a acelerar o processo criativo, sugerindo ideias e otimizando layouts com base em padrões identificados em grandes conjuntos de dados.
Por outro lado, a criação visual está a tornar-se cada vez mais livre de obstáculos externos à própria visão artística. Historicamente, a capacidade motora do artista limitava a sua expressão criativa, mas, agora, com o auxílio de softwares e interfaces intuitivas, os artistas podem materializar as suas visões de uma maneira mais eficiente e precisa. Além disso, com a inteligência artificial generativa, os artistas não precisam ser especialistas em técnicas representativas, físicas ou digitais, como aquarelas ou photoshop. Em vez disso, podem descrever a sua visão artística e deixar que a IA a materialize. Conforme as interfaces melhoram e a IA se torna mais sofisticada, essa capacidade interpretativa só tende a melhorar, proporcionando aos artistas uma liberdade sem precedentes para explorar novas fronteiras criativas.
Contudo, é importante reconhecer que o impacto da inteligência artificial generativa não se limita a simplesmente apoiar designers e artistas. A tendência, a longo prazo, é que a quantidade de produtos culturais (filmes, designs, arte) realizados por IA seja maior do que a realizada por humanos (mesmo que apoiados por IA). É fácil notar que esta tendência é inevitável se considerarmos que estas plataformas trabalham muito mais rápido que um humano. Neste contexto, podemos considerar que, no futuro, poderemos ser mais consumidores do que produtores destes conteúdos. É, no entanto, necessário um diálogo ético para orientar o desenvolvimento e a implementação da IA na arte e no design. Questões relacionadas com a autoria, responsabilidade e a preservação da originalidade devem ser cuidadosamente consideradas, assim como, as questões relacionadas com a remuneração destes profissionais.
A Inteligência Artificial está, de facto, a desempenhar um papel fundamental na redefinição da arte e do design. É, por isso, importante aceitar esta nova realidade e aprender a colaborar com estas novas ferramentas, olhando para elas como aliadas e como uma forma de potenciar a arte e a criatividade humana. A contínua evolução dos algoritmos de IA, combinada com o pensamento humano, abrirá, certamente, portas para possibilidades inexploradas.
(*) CEO Global da Action Labs
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