Por Sara Castro (*)

Imagine que tem um assistente que é capaz de interagir em tempo real com os candidatos, analisar currículos num piscar de olhos e agendar automaticamente entrevistas a um ritmo notável, enquanto o seu foco está apenas em acrescentar valor aos processos de Recrutamento e Seleção. É aqui que a Inteligência Artificial (IA) entra em jogo.

A tecnologia tem evoluído rapidamente, transformando as nossas vidas, e a IA não foi exceção. Este tópico tem sido cada vez mais discutido e diferentes setores têm vindo a reconhecer a IA como uma poderosa aliada para alavancar o negócio e obter vantagem competitiva e, consequentemente, a incorporá-la nas suas metodologias de trabalho. Também na área do Recrutamento e Seleção a IA tem vindo a construir progressivamente o seu caminho.

De forma geral, a IA permite aos profissionais de Recursos Humanos (RH) tornar o processo de Recrutamento e Seleção mais simples, objetivo e eficiente, através da automação de tarefas manuais de elevado volume, repetitivas e demoradas. Assim, torna-se exequível implementar uma abordagem ainda mais rápida, personalizada, data-driven, imparcial e justa, tanto para as organizações como para os candidatos.

Atualmente, existem diversas aplicações práticas de IA nos processos de Recrutamento e Seleção. Uma das utilizações mais comuns é na fase de screening. Estes sistemas permitem rever, rapidamente, um elevado volume de currículos e/ou candidaturas, através do recurso a palavras-chave e a bases de dados e da procura de uma correspondência entre a job description e a experiência e as competências dos(as) candidatos(as). Os dados sociodemográficos são excluídos desta análise, o que, por conseguinte, minimiza os vieses e contribui para a construção de uma cultura mais diversa e inclusiva. Além disso, a IA consegue gerar uma análise preditiva da probabilidade do(a) candidato(a) ser bem-sucedido(a) na função em questão, o que, por sua vez, poderá fornecer informação auxiliar para a tomada de decisão.

Mas o valor da IA vai além das fases iniciais do processo de Recrutamento e Seleção, já que pode estar presente ao longo de toda a jornada do(a) candidato(a). Por exemplo, os chatbots são amplamente usados para este fim e têm potencial para melhorar a experiência do(a) candidato(a), ao responder-lhes em tempo real, informando-os imediatamente acerca de atualizações no processo e próximos passos e, até mesmo, coordenar automaticamente o agendamento de entrevistas.

Apesar de a IA ser uma grande inovação, surgem alguns desafios advindos da sua utilização. Uma vez que esta depende de dados, assegurar a qualidade dos mesmos é essencial para garantir a validade dos resultados. Adicionalmente, não podemos negligenciar os aspetos éticos e legais associados, que, aliás, têm vindo a ser crescentemente incluídos nas atualizações do código do trabalho. Deste modo, ao fazer uso da IA, os profissionais de RH devem manter em mente a importância de atuar de forma justa e transparente e com base nessas mesmas diretrizes legais.

Por fim, tudo isto significa que a IA irá substituir os profissionais de RH? É possível perspetivar que a IA continuará a ser preponderante nos próximos anos e a moldar o panorama do recrutamento. Contudo, os processos humanos continuam a ser indispensáveis, pois a IA deve assumir um papel de suporte, com o objetivo final de melhorar o desempenho através da automação. Ao recorrer à mesma, os profissionais de RH conseguirão libertar as suas agendas para investir em projetos transversais, definir estratégias proativas de contratação e KPIs, providenciar uma experiência excecional ao(à) candidato(a), e estabelecer uma relação de parceria com os Hiring Managers. Só assim, será possível reduzir o tempo e custo de contratação e melhorar a qualidade da mesma.

(*)  Junior Talent Acquisition da New Work Portugal