O valor do software, v. 1.0
Por Paulo Trezentos (*)
Na comunidade Open Source / Software Livre existe uma vontade permanente de corrigir uma funcionalidade que não funciona através da submissão de uma correcção. Em relação ao artigo com o mesmo título, recentemente publicado no Tek SAPO, torna-se difícil fazer apenas uma correcção pelo que proponho uma nova versão.
Nenhum dos modelos, proprietário ou aberto, responde hoje a todas as necessidades de uma empresa ou entidade da administração pública (AP). Da mesma forma, é fácil encontrar de ambos os lados, sucessos e insucessos, software bom e software mau, profissionalismo e falta dele.
A discussão deve centrar-se assim na proposta de valor que o modelo pode trazer para a economia portuguesa e para o estado português enquanto grande consumidor de software.
Exportamos mais licenças de software do que importamos? Devemos posicionar-nos como um país exportador de licenças de software ou centrar-nos em novos modelos de Software-as-a-Service porventura assente em componentes Open Source ou acrescentar valor na integração de componentes existentes?
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Será possível poupar custos de licenciamento da AP? Como o portal da transparencia-pt.org nos permite verificar, os grandes custos de licenciamento na AP não são de software proprietário português, muitas das vezes de qualidade e com bom suporte local. Os grandes custos são dos "silos" que se mantêm à custa de formatos de ficheiros não interoperáveis e posições dominantes.
O risco para quem implementa está do lado do Open Source? Por definição, se quem compra tem o código, então está mais imune a posições dominantes de quem fornece e mais facilmente troca de fornecedor.
A inovação não é um exclusivo do software proprietário. A inovação é um movimento natural na tentativa de diferenciação. Havendo competição, existe sempre a tendência para tentarmos inovar e nos diferenciarmos, seja qual for o modelo. Para sermos rigorosos, a indústria TI têm cada vem mais evoluído através de um modelo de pequenos blocos onde integramos bibliotecas e componentes de outros. Não estamos na indústria farmacêutica onde se faz uma descoberta fruto do trabalho de 10 anos mas inova-se dia a dia, componente a componente. Daí a importância de nos sentarmos aos "ombros de gigantes", utilizarmos e contribuirmos para esses blocos.
Finalmente, não julgo que o software open source viva da "parasitagem de pessoas que trabalham em empresas".
O software open source vive do mais inato do ser humano: se temos objectivos comuns, colaboramos para que a soma das partes enriqueça o final de que ambos beneficiamos.
Não nos enganemos pela dinâmica ingénua, pois ela permite os mais ricos e complexos ecosistemas de negócio e de geração de valor. O software open source é comercialmente "sexy".
Centrando-nos no mercado dos smartphones, talvez o de maior crescimento da indústria, não é por acaso que a plataforma Android (baseada em Linux, software "num plateau de estagnação tecnológica" sic) é a que apresenta maior crescimento. Ou que a Apple, a empresa mais fechada de que alguém possa imaginar, tenha largas partes do browser e sistema de impressão baseada em componentes open source.
Talvez coincidência, o artigo original chega num momento da maior actualidade: discute-se na Comissão de Trabalho e Administração Pública da Assembleia da República a utilização de normas abertas. As Normas Abertas podem ser implementadas tanto por software proprietário como open source pelo que poderia parecer que a discussão é pacífica.
Seria, se concordássemos na seguinte premissa: uma norma aberta tem de ser implementável por qualquer agente do mercado, livre de licenças, royalties ou outros custos associados e sem necessidade de autorização expressa.
E, suspeito, este ponto nunca será aceite por quem faz vingar a sua posição no mercado precisamente pela falta de interoperabilidade.
Mais do que nunca, o momento actual não é propício a discussões centradas em medo, incerteza e dúvida.
Sejam empresas portuguesas que desenvolvam software proprietário, sejam empresas portuguesas centradas em open source, é mais o que nos une do que o nos separa: aprender com os nossos erros, ser persistente e ter a ambição de que podemos contribuir para uma sociedade mais desenvolvida e próspera.
(*) Docente e Investigador ISCTE-IUL.
Co-fundador da Caixa Mágica Software.
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