Por Rodrigo de Alvarenga (*)
Esta é a frase que mais ecoa pelos “corredores” do LinkedIn – para muitos, Portugal pode ser hoje considerada a Silicon Valley da Europa, um eldorado para todos os nómadas digitais e para investidores em futuros unicórnios, mas será que queremos mesmo ficar-nos por estas alcunhas?
No mundo das start-ups, estamos habituados a falar de financiamento, por isso vamos analisar as duas faces desta moeda.
Analisando de uma perspetiva externa, ou seja, para todos aqueles que acompanham os inúmeros artigos em jornais nacionais e internacionais sobre o nosso país e estando atento às tendências que se instalam nas redes sociais, sim, é possível afirmar que Portugal “explodiu” no cenário mundial no que toca ao investimento em start-ups.
O montante aplicado em start-ups por fundos de capital de risco nacionais aumentou 42% em 2022 para mais de 1,2 mil milhões de euros! Segundo os dados da indústria publicados anualmente pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), os valores alcançados no ano passado foram os mais elevados de sempre, alcançando um valor equivalente a quase o dobro da média anual dos cinco anos anteriores.
A par destes números, são inúmeros os programas de apoio a empreendedores que surgem em Portugal, sendo que acompanho e lidero um destes exemplos na primeira pessoa, o Corporate Start-up Programme, que decorre até novembro na Porto Business School em conjunto com prestigiadas organizações e oradores internacionais, com o objetivo de explicar a empresas e start-ups como podem trabalhar unidas para uma economia inovadora e verde.
Vamos, agora, atirar a moeda ao ar e analisar a outra face. Deixo até de parte o debate sobre a burocracia, o sistema fiscal ou a emigração e todos os desafios que destes pontos surgem para as empresas que se pretendem instalar em Portugal ou lançar-se ao mercado. Falo, sim, de como deveremos ter como objetivo ser mais do que uma mera moda na Europa, durante alguns breves meses.
Portugal deve olhar para o crescimento das start-ups como uma oportunidade brutal para o futuro do país! Perante este contexto, a chave para verdadeiramente apoiarmos todos aqueles que pretendem lançar uma ideia (e todos são capazes de o fazer) é através de princípios estruturais sólidos, que superem qualquer moda, como a sustentabilidade.
Apostar nas áreas da biotecnologia, descarbonização ou em soluções baseadas na natureza é criar valor sustentável e com os olhos postos no futuro, em especial num país que se depara com clusters únicos em torno destes temas.
Felizmente, o rumo dos apoios estatais segue esta lógica. Em setembro, foram aprovados apoios a 808 projetos no âmbito dos "Vouchers para Startups" e "Vales para Incubadoras" integradas na componente C16 do Plano de Recuperação e Resiliência – Empresas, sendo que o Governo português destaca o contributo positivo para a transição climática.
Em simultâneo com os investimentos empresariais, deixo o meu apelo para que estas ajudas continuem, porque o boost inicial de apoio financeiro a start-ups é um passo crucial para a sua consolidação. Desde custos com recursos humanos, certificação tecnológica, aluguer de equipamentos ou subscrição de software, bem como outros custos indiretos, há um conjunto de “dores” a superar para implementar um projeto no terreno.
Como sabemos bem no ecossistema empresarial, uma janela de oportunidade que se abre não fica aberta por muito tempo. São diversos os “ventos” que se colocam à nossa frente, fazendo com que só seja possível ganhar pela inovação e pela destreza. Vamos aproveitar enquanto sopra a favor.
(*) Managing Partner at HAG Ventures & HAG PartnersManaging Partner at HAG Ventures & HAG Partners
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