Por António Brisson (*)
A primeira vez que me convocaram para uma demonstração de pré-venda fiquei a tremer. O meu espírito de engenheiro pensava coisas como: “mas estão a pedir-me para demonstrar uma coisa que ainda não foi testada”, “há tanta coisa para melhorar”, “vou perder imenso tempo a configurar tudo”, “e se no final, não for bem isto que o cliente quer?”. Com alguma dedicação extra e com algumas horas de esforço acima do desejável, consegui satisfazer o perfeccionismo e embarcar com confiança num script à prova de bala. Foi um desastre. Apesar do esforço para liderar o ritmo e rumo da demonstração de acordo com o script, toda a dedicação e todas as horas investidas na preparação esfumaram-se assim que a conversa derivou.
Porquê? A demonstração estava excelente. Respondia a todos os requisitos e cenários que me tinham sido passados, no entanto, como sempre acontece, a deriva da conversa trouxe novos requisitos que já não iam a tempo de ser incorporados no meu script à prova de bala e que me obrigaram a encaixar um tiro certeiro na minha falta de agilidade.
Esta história real passou-se num contexto de pré-venda, no entanto podemos facilmente transportá-la para um cenário de projeto ou suporte evolutivo. Os requisitos mudam, as prioridades mudam e acima de tudo os negócios mudam. Longe vai o tempo em que eu poderia sair daquela reunião de pré-venda e culpar o briefing comercial ou a falta de tempo. Numa era de abundância de ferramentas e plataformas codeless, a expectativa do cliente já não está no "como?" mas sim no "quando?".
A chave para o sucesso nestas situações é a entrega rápida de novas funcionalidades em que o sucesso é definido não só pela qualidade da resposta, mas também pelo tempo de resposta. O que o cliente procura é que a sua estrutura de IT seja capaz de responder às exigências de um universo de trabalhadores que já não têm qualquer pudor em procurar fora do ecossistema da sua organização as soluções e ferramentas que lhes permitam ser mais produtivos na persecução dos seus propósitos.
Uma resposta rápida implica a adoção de tecnologias ágeis. Soluções de fácil reconfiguração, capazes de se adaptar a múltiplos cenários. Assim como as organizações ágeis requerem uma estrutura bastante robusta no seu núcleo que zele pelos seus princípios e dê empowerement às sua linhas da frente para os concretizar [1], as soluções de IT disponíveis em qualquer organização devem partilhar da mesma robustez que permita garantir requisitos de segurança e desempenho ao mesmo tempo que oferecem alta disponibilidade e rapidez na adaptação a novos cenários. Nos últimos anos temos assistido a uma proliferação de soluções que procuram de formas diferentes chegar a estes resultados.
Soluções Code Less - Quantas melhorias de negócio esbarram na complexidade do IT criando longos projetos internos e gerando mais ruído às análises de custo-benefício entre a evolução do negócio ou o investimento na transformação do IT?
Uma forma de atingir esta agilidade passa por quebrar as barreiras entre o negócio e as soluções tecnológicas mais clássicas. O IT clássico requer altos níveis de conhecimento e especialização para desenvolver ou incorporar novas funcionalidades. Ao longo dos últimos anos temos assistido a um aumento significativo da oferta de soluções de IT que procuram reduzir ao mínimo a dependência da escrita de código. Estamos a falar de soluções que implementam diferentes versões do paradigma “If this -Than that” e que consistem em disponibilizar ao utilizador uma interface gráfica fácil de usar que permite programar cenários e regras de negócio sem que de certa forma este se aperceba de que o está a fazer.
A programação mantém-se, mas é transportada para a linguagem do utilizador. São exemplo desta aproximação a plataforma OutSystems que oferece a capacidade de desenvolver múltiplas aplicações de negócio em modo low-code, assim como as mais variadas soluções para Office 365 que vão desde a automatização de workflows (Flow, Nintex) à dinamização de formulários (K2, Flowforma) e criação de aplicações (PowerApps).
Soluções prontas a usar – Quando o desafio não é tecnológico, a melhor solução é não reinventar a roda.
O advento da Cloud e do paradigma SaaS (Software as a Service) criou as condições perfeitas para a aceleradíssima disseminação de aplicações e produtos prontos a usar que tem ocorrido nos últimos anos. Porquê desenvolver de raiz quando existem soluções especializadas nas mais variadas dimensões de negócio?
Uma destas dimensões é a comunicação interna. A necessidade de criar canais de comunicação internos é comum em qualquer organização. Implementar esses canais é um desafio que à partida terá tanto de tecnológico no que diz respeito à implementação da solução, como de humano ao trazer para cima da mesa questões como a adoção de utilizadores e a exposição de problemas internos de comunicação na própria organização.
Quando nestes cenários optamos por soluções prontas a utilizar como Slack, Workplace, DiggSpace ou Valo, que se destacam pela fácil configuração/instalação (quando necessário) e pelo poder de integração com outros sistemas, estamos a retirar quase por completo o esforço de desenvolvimento da equação. Estamos a transformar projetos que tradicionalmente impunham uma grande complexidade de IT em projetos de verdadeira transformação digital, que colocam o foco naquilo que é mais importante: as pessoas.
Esta realidade veio para ficar e está a transformar os projetos de implementação de intranets e não só. Hoje temos as plataformas, as aplicações e as ferramentas. Temos a responsabilidade de as saber escolher e integrar de forma a responder diretamente e com agilidade às necessidades de cada organização. De preferência logo a partir do dia 0 e sem scripts.
(*) Consultor Funcional da Create IT
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