Universidade, Tecnologia & Valor


Por Francisco Jaime Quesado *




A Universidade em Portugal vai entrar num Novo Ciclo. Na Nova Economia Global do Conhecimento, compete à Universidade um papel central na injecção no tecido social de uma dinâmica de insatisfação permanente com a criação de valor e aposta na criatividade. Num tempo de mudança, em que só sobrevive quem é capaz de antecipar as expectativas do mercado e de gerir em rede, numa lógica de competitividade aberta, a Universidade não pode ficar à espera. Tem que se assumir como actor "perturbador" do sistema, induzindo na sociedade e na economia um capital de exigência e de inovação que lhe conferirá um desejado estatuto de centralidade e sobretudo de inequívoca liderança no processo de mudança em curso.


A Universidade tem que se assumir como o ponto de partida e de chegada de uma nova dimensão da competitividade no país. Assumido o compromisso estratégico da aposta na inovação e conhecimento, estabilizada a "ideia colectiva" de fazer do valor e criatividade a chave da inserção das empresas, produtos e serviços no mercado global, compete à Universidade do Porto a tarefa maior de saber protagonizar o papel simultâneo de actor indutor da mudança e agregador de tendências. Ou seja. Há um ponto de partida na necessidade da Universidade vir ao mercado libertar conhecimento aproveitável na consolidação de valor, mas há também um ponto de chegada no estatuto da Universidade como actor socialmente reconhecido na articulação cooperativa entre os diferentes protagonistas e as diferentes tendências.



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A Universidade tem que se assumir como um Actor Global, capaz de transportar para a nossa matriz social a dinâmica imparável do conhecimento e de o transformar em activo transaccionável indutor da criação de riqueza. Para isso, a Universidade tem que claramente, no quadro dum processo de reorganização interna em curso, assumir na sua plenitude a pertinência duma aposta consolidada nos três T que configuram a sua distinção estratégica - Tecnologia, Talentos e Tolerância. São estas as variáveis em que a Universidade, no seu processo de reorganização estratégica, deverá claramente apostar, fazendo delas o motor da reafirmação do seu papel no seio do país.



A Universidade não se pode confinar a um mero Estabelecimento Administrativo de Especialização Técnica. Tem que fazer convergir efectivamente sobre si a capacidade de, através duma aposta cruzada permanente entre o Conhecimento e a Cultura, ser responsável pela formação de verdadeiros Cidadãos Globais, os tais de que o país precisa para afirmar a sua dimensão estratégica e competitiva a nível internacional. Não se pretende que a Universidade se concentre na formação de Tecnocratas (amplos detentores de Conhecimento) ou de meros Ideólogos (protagonistas maiores na Cultura). Quem está e quem sai da Universidade tem que dominar de forma activa o capital comum do conhecimento e da cultura como peças centrais da formação de cidadãos capazes de actuar com segurança e criatividade num mundo em permanente mudança.


A reorganização da Universidade é um desafio à capacidade de mudança da Nação. Porque a Universidade é um elemento central decisivo na nossa matriz social, o sucesso com que a Universidade assumir este novo desafio que tem pela frente será também em grande medida o sucesso com que a região será capaz de enfrentar os exigentes compromissos da Globalização e do Conhecimento. A Universidade tem que assumir dimensão global ao nível da geração de conhecimento, valor, mas também de imposição de padrões sociais e culturais. A Universidade tem que ser o grande Actor da Mudança que se quer para Portugal.


* Especialista em Estratégia, Inovação e Competitividade