Por Inês Maia (*)

Desde cedo, somos questionados sobre a orientação académica e a trajetória profissional que desejamos seguir e essa é uma tarefa complexa que exige reflexão sobre as soft e hard skills que possuímos, bem como aquelas que ambicionamos desenvolver. Mais tarde, é comum chegarmos à conclusão de que não nos sentimos inteiramente realizados e que não encontramos aquilo pelo qual almejávamos, o que pode gerar uma crescente necessidade de mudança e a busca por novas oportunidades.

Uma mudança de carreira nunca é uma decisão fácil: exige coragem e uma luta constante contra as vozes internas que nos fazem questionar padrões, o medo do fracasso, as normas sociais e, por vezes, a superação de barreiras impostas pelo mercado. No setor de Tecnologia da Informação, a reconversão profissional tem-se tornado uma realidade cada vez mais notória, trazendo para as empresas perfis diversos, com experiências ricas e visões inovadoras.

Tenho acompanhado de perto esse movimento. O que antes parecia um caminho restrito a quem tinha formação em tecnologia, hoje revela-se uma porta aberta para pessoas das mais diversas áreas. A transição para este domínio exige determinação e essa atitude reflete-se no mercado de trabalho, contribuindo para a criação de equipas de desenvolvimento de software com um maior compromisso e motivação. A diversidade de perfis não é apenas uma questão de inclusão, mas também um fator determinante para o sucesso dos projetos, trazendo perspetivas correntes e soluções criativas para novos, desafiantes e complexos desafios.

A diversidade nas equipas de software é um fator crucial para impulsionar a inovação e a criatividade. Quando membros de diferentes áreas e experiências se cruzam, trazem consigo uma variedade de óticas que enriquecem e facilitam a resolução de problemas. Essa abordagem abrangente permite que as equipas identifiquem, prontamente, obstáculos e incrementem soluções mais eficazes, refletindo a complexidade e a diversidade dos clientes e utilizadores finais. Equipas que abraçam a diversidade estão melhor preparadas para enfrentar mudanças e desafios, tornando-se mais resilientes e capazes de se adaptar, de imediato, a novas realidades.

As empresas procuram também, cada vez mais, desenvolvedores de software que vão além da escrita de código – profissionais que compreendem os desafios do negócio, propõem soluções e melhorias e influenciam o produto e a organização. Investir na diversidade não só combate preconceitos, como também potencializa a capacidade das equipas para inovar e criar produtos que atendam verdadeiramente às necessidades de um público amplo e heterogéneo.

A ideia de que uma carreira em TI exige, imperiosamente, um background técnico é um mito. Existem inúmeros exemplos de pessoas que migraram para a área e se tornaram excelentes profissionais, desenvolvendo software, liderando equipas e inovando nos mais variados projetos. Pessoalmente, já tive a oportunidade de integrar e liderar equipas compostas por pessoas provenientes de programas de reconversão e os resultados falam por si: o talento, a dedicação e a resiliência desses profissionais superam qualquer barreira inicial de conhecimento técnico, tendo sido evidenciados vários casos de sucesso.

Nos dias de hoje, vemos empresas mais ágeis, diversas e inclusivas, que procuram não só entregar valor, mas fazê-lo com qualidade e inovação. Contudo, segundo dados do relatório Global Talent Shortage Survey 2025, do ManpowerGroup, a escassez de talento nas TI ainda atinge os 76%, tornando uma necessidade abrir portas para novos perfis e investir em soluções que estimulem a capacitação e o desenvolvimento de profissionais. Apesar do bias de género na educação e em setores como as TI ainda subsistir, observamos uma mudança nesse paradigma, com a crescente presença de exemplos e representatividade a ampliar oportunidades e atrair perfis mais diversificados para esta área.

Deste modo, promover a reconversão de carreira não é apenas uma questão de equidade, mas também uma estratégia inteligente para os negócios. O mercado só terá a ganhar com essa diversidade de vivências e prismas. Cabe às empresas e aos líderes do setor dar o mote para a abertura na aceitação desses talentos e contribuir para um futuro mais inclusivo e inovador.

(*) vice presidente da Porto Tech Hub