Comecei numa relação complicada com o HP Pavilion Gaming 15-ak005np. É como se as imagens no seu perfil do Facebook - entenda-se, as imagens oficiais no site da marca - não correspondessem ao primeiro impacto que tive na vida real.

Nas fotografias parecia ter linhas mais recortadas, mais delgadas, mas quando o tirei da caixa senti que tinha um aspeto grosseiro. Não no sentido de ser feio, deixem-me esclarecer. Mas afinal que esperava eu? É um portátil de gaming potente e a espessura dos equipamentos é o que sofre mais a favor das especificações acima da média.

Olhando bem para o quadro geral, não fazia sequer muito sentido que a HP apostasse forte também no design. Para isso já tem outro ‘maquinão’, o HP Omen se bem se recordam.

E por que razão estou tão insistente com a questão do aspeto? É que este modelo de Pavilion Gaming da HP custa 1.399 euros e por este preço os consumidores têm direito a exigir algo mais composto, trabalhado e visualmente marcante.

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Mesmo não fazendo furor neste sentido, compensa e bem na parte prática. Isto é, desempenho quase irrepreensível. Mesmo não trazendo a mais potente das placas gráficas móveis, traz-lhe uma muito capaz e que permitirá jogar a esmagadora maioria dos títulos que estão a ser lançados para PC.

Infelizmente não terá capacidade para suportar os principais sistemas de realidade virtual, ainda que fique lá perto.

Mas ao fim de duas semanas deixei-me convencer pelo HP Pavilion Gaming 15-ak005np. Afinal está mais perto de um portátil normal que muitos outros portáteis de gaming e tem especificações melhores que muitos outros portáteis que tentam ‘infiltrar-se’ no segmento do jogo.

Se a HP estivesse disposta a baixar um pouco o preço - ou a melhorar um pouco a qualidade de construção que ajude a criar equilibrio na justificação do valor - então podia ter aqui um caso de sucesso já que os consumidores portugueses tendem a procurar a melhor relação qualidade-preço, mas já dentro do segmento de gama média-alta.

Os consumidores saberão no entanto que este pode ser um portátil mais ‘charmoso’ em determinadas campanhas protagonizadas pelas cadeias de retalho.

Da nossa parte ficam aqui os apontamentos sobre o Pavilion Gaming 15-ak005np para que cada um possa perceber se esta é ou não a máquina pela qual tem procurado.

Insuficiência alienígena

É notório que a HP tenta criar uma imagem futurista, moderna e de certa forma até alienígena neste portátil. O problema é que este ADN especial resume-se aos pormenores e não à totalidade da linguagem do equipamento.

É sabido que os gamers têm uma queda para equipamentos visualmente fortes - basta pensar por exemplo nos periféricos que são produzidos por empresas como a Razer -, mas é como se os designers da HP tivessem tido medo de arriscar.

Um dos elementos que mais gosto no Pavilion Gaming é o design do sistema de som Bang e Olufsen. É um pequeno pontilhado na parte superior da base do portátil, muito discreto, mas sem comprometer a eficácia. Os bons sistemas de som são assim: ouve-se, sente-se a sua presença e não é visualmente intrusiva.

Este foi o primeiro portátil que testei da HP com sistema de som Bang e Olufsen e a qualidade geral é boa. Penso que não está ao mesmo nível do que já ouvi em portáteis da concorrência como os V Nitro da Acer, mas tem corpo e volume suficientes para sessões de jogo espontâneas.

Se o sistema de som passa despercebido, nota-se com mais facilidade o padrão verde em formato de favo que existe à volta do teclado e que combina com o teclado retroiluminado - as luzes são apenas e só verdes, algo que pode ser visto como um ponto fraco ao nível da personalização, mas que acaba por ajudar a manter uma imagem coesa em toda a máquina.

O próprio lettering do teclado aponta para um cenário de filme de ficção científica, o ‘A’ alienígena ou as teclas de função cujo nome está escrito numa tipografia quadrada e espalmada, tal como a tipografia dos cartazes do Alien.

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O teclado per si é muito bom. Apesar de as teclas não terem uma grande área, têm um bom feedback, não só tátil como também sonoro. E inclui o teclado numérico dedicado na parte direita, o que é bom para comandos rápidos em alguns jogos.

Mesmo com o teclado a ocupar uma grande área da base do portátil, as teclas de função do lado esquerdo não são mjuito generosas. Há jogos em que o Shift e o Control servem como teclas de apoio e neste portátil as teclas obrigam a uma maior ginástica na jogabilidade.

As teclas de seta também não são boas: são muito discretas e as direcionais ‘cima’ e ‘baixo’ são quase impossíveis de carregar à primeira. Por fim um outro apontamento negativo: no teclado há demasiado espaço entre as teclas e o chassis do portátil, ou seja,  ao longo dos meses de utilização vai haver uma grande acumulação de pó, migalhas e outros ‘restos’.

Os pormenores aqui referidos trazem alguma alma ao portátil, mas não chegam para apagar a falta de ‘garra’ no design. O Pavilion Gaming tem uma construção muito tosca, em plástico cinzento baço, tem um perfil de espessura considerável, dobradiças grossas e linhas pouco vincadas no chassis. O peso também faz-se sentir, mas nada de exagerado dentro do segmento do gaming.

Justiça seja feita: é um portátil banal com algus bons apontamentos.

Coração de ouro

O aspeto não é o mais importante, o interior é o que conta mais. É ou não é, Pavilion Gaming?

Claro que é. Processador Intel Core i7-6700HQ de quatro núcleos a 2.60GHz com possibilidade de atingir os 3.5GHz em overclock, placa gráfica GTX 950M com 4GB dedicados, 16GB de memória RAM, 128GB de armazenamento SSD e 1TB em HDD. Parece-lhe bem?

Os 1.399 euros pedidos pelo modelo 15-ak005np servem para pagar - parte - destas especificações. O processador é bastante rápido, uma marca da geração Skylake, a 6ª e mais recente da Intel, o que vem garantir um desempenho fluído e irrepreensível, mesmo no processamento de ferramentas exigentes como o Adobe Premiere ou no stream de vídeos em Ultra HD no YouTube.

Quanto à placa gráfica não é a mais potente mesmo em ambiente móvel, mas é muito acima da média. O primeiro jogo que experimentei no Pavilion Gaming foi ‘simbólico’, o português Sebastian Frank, mas aí não houve grande desafio.

Depois demos um salto gráfico de gigante e experimentámos o Mortal Kombat X, um jogo de 2015 e que tem um nível gráfico bastante maduro e apurado. Nas definições mais elevadas executou maioritariamente bem, com pequenas travadas, mas perfeitamente jogável.

No YouTube e para a mesma placa gráfica vi exemplos de jogabilidade para títulos como The Rise of Tomb Raider ou Fallout 4 - dois dos jogos mais badalados dos últimos meses. Cumpriu - não nas definições Ultra -, mas isto para dizer que terá aqui uma placa gráfica que dará para os próximos dois a três anos em bom rendimento. Conforme os trimstres vão passando, vai ter de abrir mão das melhores resoluçõs e renderizações, mas não deixará de jogar os títulos AAA do futuro.
 

O portátil já traz de origem o painel de controlo da Nvidia que permite ajustar automaticamente as melhores definições de cada jogo ao computador. Atualizações de software específicas entregues através desta plataforma podem fazer a diferença na melhoria da jogabilidade.

Nas especificações técnicas há ainda a considerar o ecrã de 15,6 polegadas com resolução Full HD. A análise a este painel é ‘morna’. Comparando com outros ecrãs Full HD está longe de ser aquele que mais cativou: cumpre, mas não espanta; tem bons níveis de brilho, mas perde pelo facto de nem sempre ter a melhor  satuação - os tons azuis e laranjas são os que mais surgem esbatidos.

Aquilo que parece é que este é um ecrã pensado para ser ponderado na riqueza dos recortes e das cores para não cansar muito os olhos dos utilizadores, o que é bom numa perspetiva de gaming.

Mas não estaria entre as primeiras recomendações para portátil de produção multimédia no sentido de grandes criações visuais no Photoshop - tem ‘estofo’ tecnológico para isso, mas não consegue transmitir as sensações das cores, por exemplo.

Os elementos aos quais ninguém liga, mas que fazem a diferença

Até aqui temos vindo a falar daquilo que pode ser descrito como uma relação analítica, isto é, que tem por base o interesse baseado em números. O Pavilion Gaming tem no entanto alguns aspetos interessantes e que merecem o respetivo destaque.

O sistema de ventilação, colocado na parte direita, é bastante generoso, não só em área como na própria largura dos buracos da grelha. Pode à partida parecer irrelevante, mas é um elemento que vai dar jeito pois quando está a puxar pelo computador as ventoinhas vão disparar e assim tem garantias.

Outro elemento positivo é o facto de a bateria ser removível, algo que é cada vez menos comum nos portáteis no geral e que é um ‘factor mais’ sabendo que numa máquina de jogo os processadores e gráficas exigentes desgastam bastante o tempo de vida útil das baterias. Por isso esta é uma opção de saudar na estratégia da HP para este computador.

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Sobre a bateria propriamente dita, mostrou-se competente e dentro das expectativas: longe das oito horas anunciadas no papel, mais próximo das três horas e meia, quatro horas num modo de funcionamento normal, baixando para cerca de duas horas e meia em modo de jogo.

Um outro aspeto positivo é a placa de rede integrada no portátil que em alguns testes de velocidade conseguiu atingir velocidades de 40Mbps. À partida deve garantir experiências de jogo online sem ‘engasgos’, com o conforto de os mais puristas terem uma porta Ethernet para o melhor desempenho online.

Considerações finais

O HP Pavilion Gaming 15-ak005np é um portátil para jogadores em quase todos os aspetos: na potência, no desempenho, na qualidade do teclado, na boa resposta a ambientes online e também no preço. Apenas não é um portátil de gaming no design.

Tenha em consideração o portátil Asus ROG GX700. O nível de preço é muito superior ao do HP, mas a ideia a reter aqui é que os verdadeiros portáteis de gaming têm elementos de extravagância. O público-alvo deste segmento gosta disso e exibe isso.

O portátil da HP tenta responder a esta procura de dinamismo visual com um teclado retroiluminado e com um estampado no teclado. Não é suficiente.

Ainda para mais olhando para o preço de 1.399 euros é justo que os clientes procurem algo mais. Mas também considerando que há jogadores que procuram portáteis potentes e mais discretos, esta pode ser uma opção a considerar.

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Pois a potência está lá. A gráfica é boa. O disco SSD é rápido. Não há grandes defeitos a apontar em termos de especificações, tirando talvez o ecrã não muito vívido. Se tiver o dinheiro que é pedido, este é um investimento robusto e seguro.

Agora outra questão: será o melhor investimento? Se procura qualquer experiência de gaming, com o mesmo valor consegue construir uma torre poderosa. Mesmo no campo dos portáteis existem outras opções igualmente pojantes de marcas como a Clevo ou a Asus.

Deve ter em conta que este é um segmento de mercado onde uma redução no preço implica o corte em algum dos componentes. Consegue encontrar máquinas mais baratas 100 a 150 euros, mas que: ou têm menos RAM; ou dispensam o disco SSD; ou apresentam um processador de potência inferior; ou mantêm tudo igual, menos a gráfico que é uns furos menos apelativa.

Se dá preferência ao desempenho sobre o design, então deve considerar este modelo da HP quando for às compras. Se procura potência na perspetiva da produção multimédia, também vai bem servido, mas talvez deva procurar algo mais talhado para esse domínio.


Nota de redação: Foi corrigida uma incorreção no texto em relação ao processor do portátil. 

Rui da Rocha Ferreira