O primeiro Google Chromecast era bom. Ainda é. Por 35 euros transforma por completo um televisor que tenha uma entrada HDMI. Dá-lhe funcionalidades de smart tv, mesmo que não seja uma. Dá-lhe acesso a dezenas de aplicações e conteúdos, mesmo que nativamente não lhes consiga aceder.

O dispositivo original foi lançado em 2013 e a Google pode ter sentido que o apelo dos consumidores já não era o mesmo. A solução passava por uma nova geração do Chromecast. A questão que se coloca é: como mexer num dispositivo que já parecia bem afinado?

O resultado é o Chromecast de segunda geração, um equipamento que foi apresentado no final de setembro e que chegou a Portugal cerca de um mês depois.

Do ponto de vista do marketing, o facto de o dispositivo ter um aspeto visual diferente é importante, garante-lhe um sentido de novidade. Só que o mais valioso é o ponto de vista da utilizção. No final de contas, o Chromecast foi feito para estar ‘escondido’ atrás dos televisores. A forma como funciona e permite o utilizador ‘escalar’ o potencial do seu televisor é o verdadeiro ‘cerne’ da questão.

Mas antes de responder à questão se vale ou não a pena comprar o novo Chromecast, ficam aqui algumas impressões sobre o equipamento. No curto período de tempo que o TeK teve o dispositivo para testes fica a sensação de que tudo está - e bem - quase da mesma forma. O dispositivo é fácil de emparelhar precisando apenas de dois minutos para ter o sistema em funcionamento. A experiência de utilização também é boa, mas não traz grandes melhorias relativamente à geração passada.

O segredo para a nova geração? Ah! O segredo não está no Chromecast em si, mas na aplicação que o faz funcionar.

Uma razão para o design redondo

O Chromecast de primeira geração era na prática uma pen gorda que na extremidade tinha uma ligação HDMI para conexão com os televisores. Apesar de prático, este design tinha um problema: podia não encaixar bem em todas as TVs, já que a disposição das portas HDMI varia de modelo para modelo.

Para resolver esta questão a Google decidiu transformar o Chromecast numa circunferência com o tamanho de um biscoito. E em vez de ter a ligação HDMI integrada no hardware principal, o mesmo está acessível na extremidade de um curto cabo maleável.

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Deverá ser possível ligar este Chromecast virtualmente em todos os televisores com uma entrada HDMI, sem tapar o acesso a entradas adjacentes - este era o grande problema da primeira geração. Para não ficar com o Chromecast ao penduro - literalmente - a Google incluiu um íman que permite colar o periférico à componente HDMI. Um sistema engenhoso, mas que não deixo de considerar um pouco rebuscado.

Admito que não acho este design muito atrativo. Percebo que o design minimalista está em linha com o que está a ser feito pela restante indústria tecnológica, mas acho que é um conceito menos direto. Não sou fã daquele cabo maleável e por isso ainda considero o primeiro Chromecast mais coeso, mais ‘direto’. Mas neste ponto de vista a opinião mudará certamente de utilizador para utilizador.

Reconheço no entanto que a Google fez um bom trabalho ao tornar o Chromecast um dispositivo mais apelativo, disponibilizando-o em várias cores. Isso acabará por destacá-lo de outros cabos e equipamentos que possam estar ligados ao televisor. Em 95% do tempo passará despercebido ao olhar pois está escondido, mas não deixa de ser uma boa representação da filosofia na qual não importa só o que se vê, o que não se vê é igualmente relevante.

Não devia ser Chromecast, mas antes Appcast

No Google Chromecast é tudo sobre as aplicações - e nesta perspetiva a tecnológica norte-americana parece estar em sintonia com a Apple, já que a marca da maçã acredita ser este o futuro da televisão.

A utilidade que dará ao Chromecast está intimamente ligada à utilidade que dá a alguns serviços. Tenha os seguintes nomes em consideração: YouTube, Spotify, Netflix, Google Play Filmes, Ted Talks, DailyMotion, Eurosport Player, CrunchyRoll, Plex e Twitch.

É utilizador assíduo de um ou mais dos serviços referidos? Se sim, parabéns pois está dentro do grupo de utilizadores para quem faz sentido ter um Google Chromecast.

O dispositivo é sobre o consumo de conteúdos no grande ecrã, isto é, poder ver no televisor aquilo que por norma consome no telemóvel, mas com todas as vantagens associadas dos tamanhos mais generosos. E ao dar ao seu televisor a possibilidade de executar todas as apps referidas - são apenas os nomes mais sonantes -, está a transformá-lo numa Smart Tv.

Mas dentro deste ecossistema de aplicações a novidade do Chromecast 2 está na própria app do sistema desenvolvida pela Google. Foi uma aplicação que a Google atualizou quando lançou a segunda versão do periférico e por estão intimamente associados - ainda que também seja compatível com a primeira versão do Chromecast.

Na prática a Google dá mais destaque aos conteúdos e divide a aplicação em três grandes áreas: o conteúdo que está em exibição e quais as aplicações instaladas que podem tirar partido do Chromecast; quais os dispositivos que existem na casa e que estão disponíveis para emparelhamento; e um terceiro separador onde são sugeridas mais aplicações que podem ser usadas com o Chromecast.

A app está muito melhor que a antecessora, mas a Google podia ser mais ambiciosa. Se por acaso a aplicação do Chromecast conseguisse puxar informação específica de cada aplicação - perceber que conteúdos os utilizadores consomem - para depois fazer sugestões personalizadas de filmes, séries e músicas, então a empresa teria aqui um caso sério entre mãos.

Talvez os dias que passei com o Chromecast não tenham dado tempo suficiente para que a aplicação conhecesse melhor os meus gostos. Talvez a Google venha a afinar esta componente numa futura atualização.

Mas a experiência geral foi boa. Apesar de o Wi-Fi do equipamento ter sido melhorado para conseguir melhores transmissões, confesso que a versão anterior do periférico já cumpria muito bem esta tarefa. Neste campo vai depedender mais a velocidade de Internet contratada por cada utilizador e respetivo router, do que o próprio Chromecast.

Pareceu-me no entanto que os tempos de carregamento são ligeiramente mais rápidos, mas nada de muito significativo. A transmissão entre o smartphone e o televisor continua bastante fluída, possivelmente a melhor herança da geração anterior.

Em resumo: o Chromecast per si evoluiu, mas nada de muito especial, tendo a maior evolução sido feita ao nível da app, algo que também pode ser aproveitado por que tem a primeira versão do periférico.

Considerações finais

Antes de começar a escrever esta análise, fui ler o que tinha escrito sobre o primeiro Chromecast. E sabe que mais? Tirando uma linha ali, reescrevendo um parágrafo acolá, trocando as imagens, bem que o artigo do ano passado podia valer para o modelo deste ano.

Isto porque o modo de funcionamento base é o mesmo. E isso é bom. A instalação do Chromecast é fácil e rápida, a comunicação entre o smartphone e o periférico continua fluída e a Google já consegue assegurar um bom número de aplicações compatíveis.

Desta vez não tive tempo para me perder à procura de aplicações compatíveis e descobrir que ferramentas estão os programadores a criar para tirarem proveito do Chromecast, o que também inclui jogos. Mas pelas voltas que dei pelo Google Play, o catálogo de aplicações compatíveis parece ser maioritariamente igual, à exceção do Netflix que agora já pode ser usado em Portugal.

Dadas as semelhanças ao nível de funcionamento relativamente à geração anterior do Chromecast, a nova versão do periférico é para todos os que sempre quiseram o dispositivo, mas nunca o compraram. Os 40 euros pedidos pela Google - cinco euros mais caro que o modelo de 2013 - justificam-se pela ligação Wi-Fi melhorada e pelo design mais flexível. Avaliando tudo o que o dispositivo pode dar e o seu ecossistema, então sim, é um investimento seguro e nesta altura até já se pode dizer que daria uma boa prenda de Natal.

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À semelhança do primeiro modelo, o ‘Chromecast II’ é uma escolha a ter em consideração para todos os que têm um televisor com uma entrada HDMI e o querem transformar em Smart TV. Netflix, Twitch, YouTube e muitos outros serviços na TV à distância de alguns cliques e em apenas alguns segundos? Com o Chromecast é possível.

Os concorrentes diretos do Chromecast - Apple TV, Firestick, Fire TV, Matchstick - são mais caros ou não apresentam um ecossistema de aplicações tão forte. O dispositivo da Google continua a ser uma alternativa fortíssima no segmento dos conteúdos sobretudo por causa do preço: são 40 euros para esta nova geração.

Tendo tudo em perspetiva, continua a ser um investimento relativamente baixo sabendo que pode dar toda uma nova vida ao seu televisor.

Rui da Rocha Ferreira