A conferência “Inovação em Saúde: O Impacto dos Dados Hoje e no Futuro”, organizada pela APDSI, reuniu especialistas e responsáveis de diversos setores para debater o papel dos dados na transformação do sistema de saúde. Durante o evento, destacaram-se os debates sobre a interoperabilidade dos sistemas e os projetos inovadores que Portugal está prestes a implementar já em janeiro, com vista a modernizar e otimizar o acesso aos cuidados de saúde.
A interoperabilidade dos dados em saúde foi um dos principais temas abordados pelos intervenientes, nomeadamente a importância de utilizar os dados de forma ética e transparente. “A interoperabilidade desses dados para os atos médicos é essencial, mas devemos garantir que essa interoperabilidade não põe em risco a privacidade dos seus utilizadores”, começou por alertar Jorge Costa, vice-reitor do ISCTE.
Essa preocupação reflete-se na complexidade do panorama atual. A secretária de Estado da Gestão da Saúde, Cristina Vaz Tomé, sublinhou a transformação em curso no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que envolve a criação de unidades locais de saúde e a uniformização de sistemas previamente desconectados.
“Estamos num processo de transformação que ainda está em curso. Os dados eram recolhidos com conceitos diferentes, e neste momento, o processo vai ser todo uniformizado. Este é o grande desafio: garantir a interoperabilidade dos sistemas”, referiu Cristina Vaz Tomé.
A interoperabilidade não é apenas técnica, mas também organizacional, abrangendo um ecossistema que vai além das instituições hospitalares, como destacou Filipa Fixe, da direção da APDSI. “O interface alargado da saúde não pode ser visto só dentro dessas instituições. Temos de incluir dispositivos médicos, a área farmacêutica e novas tecnologias que já estão ao nosso dispor em casa”, sublinhou.
Projetos prontos para lançar já no início de 2025
Durante a conferência foi anunciado o lançamento, em janeiro de 2025, de dois projetos estruturantes para o sistema de saúde português. Sandra Cavaca, presidente do Conselho de Administração dos SPMS (Serviços Partilhados do Ministério da Saúde), revelou que o novo Portal Tempos será uma ferramenta crucial para a transparência e eficiência no SNS.
“O Portal Tempos permitirá saber a disponibilidade dos serviços de urgência em tempo real, a capacidade instalada em cirurgia ou as listas de espera de consultas de especialidade. É essencial que o cidadão saiba o que estamos a fazer”, afirmou Sandra Cavaca.
Outro projeto em destaque foi a Plataforma Nacional de Partilha de Informação da Saúde, que também deverá entrar em funcionamento no início do ano. Esta plataforma irá disponibilizar aos fornecedores de serviços os requisitos técnicos necessários para garantir a interoperabilidade dos sistemas. “Definir uma estratégia clara e alinhar o que queremos fazer é fundamental para o sucesso da interoperabilidade,” enfatizou Sandra Cavaca.
Esses esforços somam-se ao já estabelecido Registo de Saúde Eletrónico Único, que coloca Portugal no décimo lugar europeu em transmissão de dados digitais para a saúde, conforme apontado por Filipa Fixe. “Estamos muito bem posicionados, mas a recomendação é usar cada vez mais os dados e procurar soluções inovadoras, como a inteligência artificial”, acrescentou a vogal da APDSI.
Porque os dados são o novo petróleo da era digital
A metáfora dos dados como “o novo petróleo” foi amplamente usada durante a conferência, refletindo a sua importância estratégica. Paulo Sousa, coordenador do Grupo de Missão “Saúde” da APDSI, reforçou esta ideia, comparando a gestão dos dados à refinaria do petróleo: “Se os dados não forem tratados, não servem para nada. O SNS tem imensos dados, mas temos de passar ao patamar seguinte: o que é que podemos fazer com esses dados?”
Filipa Fixe, citando dados do World Economic Forum, lembrou que apenas 3% dos dados globais na área da saúde são utilizados atualmente. “Estamos a falar de 2,3 zetabytes produzidos anualmente na saúde, mas apenas 3% são usados. Este é um desafio global: como aproveitar os dados que produzimos dentro e fora dos hospitais para cuidados de saúde mais personalizados e participativos.”
A sustentabilidade do SNS foi outro tema recorrente. Cristina Vaz Tomé destacou que o objetivo não é investir mais dinheiro, mas usar os recursos existentes de forma mais eficiente.
“Com o mesmo dinheiro, precisamos de chegar a mais pessoas e melhor. É este o conceito de sustentabilidade que temos de implementar”, afirmou a secretária de Estado.
Dos pontos convergentes de visões sobre o futuro da saúde em Portugal que saíram da conferência está o consenso de que os dados e a interoperabilidade são o caminho para uma saúde mais eficaz, personalizada e sustentável. Com uma transformação estrutural em curso e uma aposta na inovação tecnológica, Portugal quer posicionar-se como um exemplo na transição digital da saúde, mostrando que é possível construir um sistema mais eficiente e centrado no cidadão, sem comprometer a privacidade ou a qualidade dos cuidados prestados.
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