A Apple lançou esta terça-feira um serviço de subscrição de música que vai marcar a maior transformação no seu ADN desde que a iTunes Music Store foi apresentada como uma alternativa à pirataria de ficheiros e aos serviços de subscrição da época, como o Pressplay e o Rhapsody.

No entanto, este modelo de distribuição e negócio não teve a aprovação do ex-CEO da empresa. No evento de lançamento do iTunes, em 2003, Steve Jobs afirmou que as subscrições de música eram o “caminho errado”.

“Uma das razões é porque as pessoas compram a sua música desde sempre”, afirmou Jobs no Apple Special Event. “Quando compramos a nossa música ela nunca desaparece. Quando se possui uma música tem-se um amplo conjunto de direitos de uso pessoal – pode-se ouvir a música quanto se quiser”, continuou.

No mesmo ano, o antigo CEO da tecnológica afirmou ainda que “as pessoas têm-nos dito vezes sem conta que não querem alugar a sua música”. De facto, na altura o iPod era o dispositivo rei e as pessoas não estavam interessadas em serviços de streaming, mas muito mudou em 12 anos.

O que não mudou foi a capacidade de tornar os serviços de subscrição num negócio vantajoso para os artistas. Veja-se a recente polémica entre a cantora Taylor Swift e o Spotify e, mais recentemente, com o Apple Music.

Numa clássica entrevista dada à Rolling Stone em 2003, Steve Jobs afirmou que “o modelo de subscrição de compra de música está falido". "Eu penso que se se disponibilizasse Jesus num modelo de subscrição, até este podia não ser bem-sucedido”.

Atualmente, o Spotify tem 20 milhões de subscritores e outros 55 milhões no modelo gratuito. Fica ainda a nota de que em 2014 o Spotify gastou 882,5 milhões de dólares - uma grande parte das receitas, leia-se - no pagamento dos direitos de autor e de distribuição.

 

iPad Mini: demasiado pequeno
Mas não foi apenas o modelo de subscrição de músicas que foi apontado como uma má aposta por Steve Jobs. Os tablets de sete polegadas não convenceram o já falecido CEO da marca da maçã.

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“Este tamanho [sete polegadas] não é suficiente para criar boas aplicações para tablets, na nossa opinião”, afirmou Steve Jobs, como citava a Fortune. Para o então "patrão" da Apple, havia “limites claros do quão próximo se pode colocar fisicamente os elementos num ecrã sensível ao toque” sendo essa “uma das razões pela qual pensamos que o tamanho do ecrã de 10 polegadas é o tamanho mínimo requerido para criar ótimas aplicações para tablets”.

No entanto, o dispositivo quando lançado em 2012 foi muito bem-recebido a uma escala mundial. e surgiu como resposta a uma tendência de mercado que ganhou força no ecossistema Android. Atualmente já vai na terceira geração e a versão original deixou de ser comercializada apenas este mês.

 

iPhone com mais de 3,5 polegadas: demasiado grandes
Porém não foi só no tamanho dos iPad de pequeno porte que Steve Jobs se enganou. O lançamento do iPhone 6 e do iPhone 6 Plus, em 2014, trouxeram ecrãs maiores e provaram que Jobs estava errado quando disse que “ninguém” iria comprar telemóveis com um grande ecrã.

 

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Numa conferência em 2010, o antigo CEO respondeu a uma pergunta da audiência a dizer que não gostava dos smartphones da Samsung pelo tamanho. “Não se consegue meter a mão à sua volta”, acrescentando ainda que “ninguém os vai comprar”, como defendeu na altura, citado na Bloomberg.

No entanto, um estudo indicou que a Apple pode ter aumentado as vendas do iPhone em 18 milhões de unidades nos últimos três meses do ano passado graças às novas versões do seu smartphone – perfazendo um total de 69 milhões de unidades vendidas.

 

Canetas eletrónicas: “ninguém quer”
Por fim, outro produto que não teve a aprovação de Steve Jobs e que acabaram por resultar em para a Samsung foram as canetas eletrónicas para dispositivos móveis: a linha Galaxy Note já vendeu milhões de unidades e é uma das mais bem sucedidas da tecnológica sul-coreana.

No entanto, ao contrário dos outros produtos descritos, este ainda não foi produzido pela Apple apesar de esta já ter registado uma patente.

"Quem quer uma stylus? Temos que a tirar, temos que a guardar... Perdemo-las…”, declarou Steve quando apresentou o primeiro iPhone, em 2007, como citado no Entrepreneur. “Ninguém quer uma stylus", reforçou.

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Em vez disso, o primeiro smartphone da marca da maçã e os seus sucessores seriam controlados pelo que Steve Jobs chamou “o melhor dispositivo apontador no mundo”: os dedos das mãos.

Assim, como se verificou pelo lançamento do Apple Music, nem todos os dogmas de Steve Jobs são à prova do tempo. Agora, resta esperar para ver se outros ideiais do cofundador da Apple vão cair por terra.

Mas simpatizando-se ou não com Steve Jobs, é justo reconhecer que embora nem todas as suas previsões estivessem certas, muitas estiveram e ditaram tendências que mudaram o mercado. As suas ideias marcaram os primórdios da computação pessoal (Apple II), ajudar a pôr a música no bolso (iPod), as mãos no ecrã do telemóvel (iPhone) e o computador na palma das mãos (iPad).