O balanço feito não deixa grandes margens para dúvidas. Paula Panarra, diretora geral da Microsoft, partilhou os números do Building the Future - Ativar Portugal que decorreu entre os dias 28 e 30 de janeiro, com 12.500 espectadores, 4.500 pessoas que passaram pelo Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa, 7 mil online e mil nos eventos paralelos que decorrerem em sete cidades em Portugal, quarenta parceiros, mais de uma centena de oradores das mais diversas áreas e indústrias. Tudo para a transformação digital que a Microsoft quer ajudar a impulsionar em Portugal.
Mas este movimento sentiu-se claramente entre quem esteve nos últimos dias no Pavilhão Carlos Lopes, totalmente transformado para acolher sete palcos, em modelo de “silent Conference” (no qual a audiência utilizava auscultadores para escutar as apresentações e debates que decorriam no palco), e com muitas iniciativas a decorrer em paralelo. Tantas que era impossível acompanhá-las a todas.
Parceiros como a NextBITT, a CapGemini e a GFI mostraram também ao SAPO TEK o seu entusiasmo por esta iniciativa e pela possibilidade de mais uma vez se associarem à Microsoft num evento desta dimensão, e executivos de todas as áreas da economia, mas especialmente da tecnologia, mudaram agendas para participar nos debates e em ações mais disruptivas como “desafios” em palco lançados pela apresentadora Filomena Cautela, ou entrevistas dentro de carros estacionados à frente do pavilhão.
No encerramento do segundo dia de conferências, Paula Panarra lembrou que esta iniciativa é feita com os parceiros, sem os quais “não tinha sido possível fazer o que fizemos”, e com o conselho consultivo, construído com agentes do mercado com vários sectores, de várias áreas funcionais. Estes ajudaram a definir o caminho, e a estratégia para prolongar a iniciativa.
“Se queremos em dois dias ativar portugal e manter esta energia depois, [temos de definir] quais são os temas de que precisamos para contruir o futuro”, explica.
A ideia é conseguir uma economia e uma sociedade mais competitiva, e a diretora da Microsoft sublinhou as quatro ideias que saíram das mais de 100 horas de debates: a intensidade da utilização da tecnologia, é ou não verdade que todas as empresas são tecnológicas; a economia inclusiva, com a ideia de que o crescimento económico só vai acontecer se tivermos capacidade de ser para todos; a segurança e se é é ou não segura e confiável a tecnologia; e como asseguramos que vai ser sustentável para o futuro que estamos a construir.
Todas as empresas são tecnológicas?
“Quanto mais introduzimos as tecnologias e as transformações digitais na nossa vida, a tecnologia é mais omnipresente, permite criar oportunidades de novas soluções que permitem a aceleração de todos os negócios de todos os sectores" afirmou Paula Panarra, apontando a agricultura, saúde, retalho, as pequenas, médias e grande empresas e também o sector público.
"Não sei se todas as empresas vão ser empresas de tecnologia, mas sei que a tecnologia vai permitir a todas as empresas inovar, serem mais produtivas, mais competitivas, ter processos mais eficientes e melhores serviços nesta economia digital”, sublinhou Paula Panarra.
Pedro Siza Vieira afirmou que o ministério da Economia está a preparar a estratégia de transformação digital para o país, que está assente em três pilares: pessoas, empresas e Administração pública, mas defendeu que é nas pessoas que está o maior desafio. “Se as pessoas não estiverem mobilizadas não conseguiremos”, alertou o ministro de Estado, Economia e Transformação Digital.
Esta ideia da transformação digital e do envolvimento das pessoas esteve sempre presente em muitas das apresentações e debates que passaram pelo Building the Future nos dois primeiros dias, com muitos exemplos trazidos pelas tecnológicas e consultores, mas também contados na primeira pessoa por empresas como a Delta, a EFACEC, a EDP, a Altice, a Galp ou a Unilever, entre muitas outras.
O sector dos Media é um dos que está a ser transformado pela tecnologia, qapontada como "a palavra chave" nesta mudança por Ricardo Costa, diretor de informação do Grupo Impresa, acompanhado num dos principais painéis de debate por Gonçalo Reis, presidente da RTP, Nuno Reis Ferreira, CEO da Sport TV e Pedro Ribeiro, diretor de programação da Rádio Comercial, que entretanto foi confirmado como diretor de programação da TVI.
As vantagens do 5G e a urgência das empresas começarem a pensar nos casos de utilização da nova rede de comunicações móveis, que este ano será uma realidade no terreno em Portugal, esteve também em destaque, enquanto nas demonstrações que os parceiros da Microsoft levaram ao evento a análise dos dados com inteligência artificial, realidade aumentada e realidade virtual dominaram os exemplos de aplicação da tecnologia.
E a responsabilidade e ética da tecnologia? O tema foi também abordado em várias talks, mas em especial na intervenção do Padre Paolo Benanti, professor na Universidade Pontifícia de Roma que lembrou as transformações que estamos a introduzir na nossa sociedade e as mudanças éticas que temos de fazer, algumas das quais de forma urgente.
Citando Galileo Galilei, sim, o mesmo físico, matemático e astrónomo que foi condenado pela Igreja, e séculos mais tarde absolvido, Paolo Benanti pede a todos para "olharmos" porque há mudanças que têm de ser observadas. "A ética não é alguma coisa que pode vir à posteriori", avisa, "tem de ser integrada no sistema porque o sistema pode fazer erros". E por isso, para introduzir o sentido da análise da informação e para evitar os erros, é preciso colocar os humanos na equação.
O padre deixa ainda uma questão provocadora: a ética é amiga e inimiga do negócio, e responde com vários exemplos, defendendo que as empresas que mais cedo adotarem valores éticos podem trazer mais valor para o seu negócio e evitar custos elevados de "remendos" à posteriori no design das suas soluções.
Competências, novas formas de trabalhar e de liderar
A necessidade de reforçar as competências dos trabalhadores e de mudar a forma como se ensina nas escolas, mas também como se trabalha e se lideram as equipas e projetos, foram igualmente temas abordados nos vários painéis da conferência Building the Future.
O ministro Pedro Siza Vieira afirmou que nas escolas é preciso levar a tecnologia para a sala de aula, mas também abrir a possibilidade de requalificação aos trabalhadores que saem de uma empresa, para poderem procurar um emprego melhor, com mais competências digitais.
Os desafios de preparar os jovens, e os adultos, para um novo mundo onde a mudança é permanente, estiveram também em foco num painel onde Daniel Traça, da Nova SBE, defendeu que é preciso mudar o ensino nas universidades mas também nos graus do ensino básico, trazendo a ideia do propósito e da aprendizagem contínua para o mundo da escola.
O terceiro dia do Building the Future foi precisamente dedicado à educação, com a iniciativa Build Brighter Futures, que juntou no Pavilhão Carlos Lopes gestores, professores, investigadores e alunos.
Durante o evento cerca de 400 candidatos a emprego aceitaram o desafio de participarem em entrevistas rápidas dentro dos carros estacionados à porta do pavilhão, num Job Pitch Challenge onde se sujeitaram às perguntas de 150 executivos e CEOs de várias empresas.
Nota da redação: A notícia foi atualizada com mais informação e imagens
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