A 418km acima da Terra há muitos prazeres de que os astronautas têm de abdicar. A partir de agora, o café deixa de ser um deles, graças à primeira máquina de café capaz de funcionar no espaço.



Dan Hartman, da agência espacial norte-americana, explicou que o desenvolvimento do dispositivo faz parte de um programa que tem como objetivo ajudar os astronautas a sentirem-se mais perto de casa durante as missões.



A máquina de café junta-se às chamadas telefónicas, ao acesso ao email e à transmissão de jogos desportivos em direto, que já estavam disponíveis e que amenizam as saudades da Terra. Mas o projeto está também ligado a outra experiência, que tem acompanhado várias missões da NASA na ISS: estudar o comportamento dos fluidos num ambiente sem gravidade.



Como funciona?

Assim como a máquina de café que temos em casa, a ISSpresso funciona através de um sistema de cápsulas. A diferença é que esta foi adaptada à dinâmica de gestão de fluídos no espaço, ultrapassando desafios que na Terra se resolvem facilmente, como o facto de o líquido ter de atingir uma temperatura elevada e a uma pressão elevada.



Para funcionar esta máquina de café espacial usa um sistema em que a água é aspirada e pressurizada antes de ser aquecida. O café mistura-se com a água quente e é canalizado para um saco preso ao equipamento.



Parece simples mas é bom não esquecer que o cenário é de microgravidade, o que torna as mais simples ações num desafio sem igual. E foi por isso mesmo que a Argotec demorou dois anos até conseguir dominar a tecnologia. "Desenvolvemos o nosso hardware com base nos parâmetros necessários para criar um bom café, considerando algumas medidas de segurança", afirmou Valerio DiTana, engenheiro da empresa italiana num artigo que detalha o tema.




O café expresso que os investigadores já podem beber no espaço pode ser consumido de forma mais tradicional (para um ambiente sem gravidade) ou em chávenas, graças aos resultados de uma investigação sobre a ingestão de líquidos por capilaridade, explicada num vídeo publicado pela NASA.




Como se demonstra, o design da chávena permite que o líquido vá direto à boca do astronauta, favorecendo uma ligação por capilaridade, um processo semelhante àquele que faz com que as folhas dos rolos de cozinha absorvam a água.



A primeira chávena de café espacial

Nascida em Milão, a astronauta italiana Samantha Cristoforetti foi a primeira pessoa a beber uma chávena de café no espaço. "Expresso fresquinho na nova chávena de gravidade zero!", publicou no Twitter.



Porém, mais do que permitir à italiana saborear o seu primeiro café em muitos meses, esta tecnologia foi uma "experiência muito séria sobre a física de fluídos", sublinha Roberto Battiston, presidente da Agência Espacial Italiana (AGI). Battiston frisou que até àquela data "não sabíamos exatamente como os fluídos quentes reagiam sobre alta pressão. Agora sabemos".



E pensar que o que levou ao desenvolvimento deste feito foi uma confissão do astronauta italiano Luca Parmitano, em 2013, numa entrevista. Quando lhe perguntaram do que sentia mais falta no espaço, Parmitano respondeu: "uma boa chávena de café expresso".


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