Uma análise técnica detalhada conduzida pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) revelou que o megaprojeto industrial INNA, planeado para ser construído próximo do Observatório do Paranal, no Chile, terá impactos devastadores e irreversíveis nas condições de observação astronómica do local.

O estudo confirma que o projeto, proposto pela AES Andes, uma subsidiária da americana AES Corporation, ameaça os céus escuros e límpidos, considerados os melhores do mundo para a astronomia.

De acordo com o relatório, o INNA aumentará a poluição luminosa em mais de 35% sobre o Very Large Telescope (VLT), localizado a 11 quilómetros da área projetada, e em mais de 50% sobre o Cherenkov Telescope Array Observatory (CTAO-Sul), situado a apenas cinco quilómetros.

“As alterações comprometeriam gravemente a qualidade das observações, limitando a capacidade de detetar exoplanetas semelhantes à Terra, monitorizar asteroides e explorar galáxias distantes”, sublinha o ESO.
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Outro fator preocupante é a turbulência atmosférica gerada pelas turbinas eólicas do INNA, que poderá degradar em até 40% o "seeing", ou seja, a estabilidade atmosférica necessária para observações de alta precisão.

O Observatório do Paranal tem contribuído para muitas observações e descobertas astronómicas feitas no âmbito do ESO, como algumas das apresentadas na galeria de imagens.

O relatório técnico também alerta para o impacto das vibrações geradas pelo projeto. Estas podem afetar gravemente o funcionamento de equipamentos delicados como o Interferómetro do VLT e o Extremely Large Telescope. Além disso, a poeira levantada durante a construção poderá contaminar os espelhos dos telescópios, reduzindo ainda mais a capacidade de observação.

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Com uma área de mais de 3.000 hectares, o INNA equivale ao tamanho de uma pequena cidade e inclui diversas instalações de energia e processamento. A proximidade do complexo industrial ao Paranal é a principal causa dos problemas. Segundo o ESO, relocalizar o projeto seria a única solução viável para proteger os céus da região.

O relatório completo será apresentado às autoridades chilenas no final deste mês, no âmbito do Processo de Participação Cidadã, que decorre até 3 de abril. O ESO espera que as autoridades considerem os resultados da análise e protejam os céus insubstituíveis do Paranal.

“Estamos comprometidos em trabalhar em conjunto para salvaguardar esta janela única para o Universo”, assegura o diretor geral do ESO, Xavier Barcons. Para o responsável, o Chile não deveria ter de escolher entre projetos de energia verde e observatórios astronómicos. “Ambos são prioridades estratégicas e podem coexistir, desde que localizados a uma distância suficiente uns dos outros” declara.

Refira-se que o ESO mantém em funcionamento três observatórios: La Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large Telescope e o Interferómetro do Very Large Telescope, assim como telescópios de rastreio, tal como o VISTA.

Veja o vídeo sobre como estão a ser mapeados os céus do sul a partir do Paranal.

Ainda no Paranal, o ESO acolherá e operará o Cherenkov Telescope Array South, o maior e mais sensível observatório de raios gama do mundo. Juntamente com parceiros internacionais, o ESO opera o APEX e o ALMA no Chajnantor, duas infraestruturas que observam o céu no domínio do milímetro e do submilímetro. Em Cerro Armazones, próximo do Paranal, está a construir “o maior olho do mundo voltado para o céu” - o Extremely Large Telescope.