Um primeiro voo de teste no dia 19 de abril mostrou a capacidade de suster uma aeronave no ar no cenário inóspito de Marte e captou a atenção dos cientistas e fãs de astronomia nas últimas semana. O pequeno helicóptero Ingenuity, que não estava destinado a ser a estrela da missão Mars2020, de repente passou a estar no centro das atenções, conseguindo dar provas na atmosfera fina de Marte e abrindo portas para novas missões no planeta vermelho que não se limitem a investigação feita a partir do solo, como tem acontecido até agora.
A cada novo teste o Ingenuity vai um pouco mais alto, e mais longe, e no último voo realizado, a 25 de abril, atingiu uma altitude de 5 metros e voou a uma velocidade de cerca de 2 metros por segundo, numa distância de cerca de 85 metros do Perseverance, o rover que continua a ser o seu ponto de referência na cratera Jazero, em Marte.
O vídeo partilhado pelo rover mostra o terceiro voo do Ingenuity e a aproximação ao Perseverance.
A NASA confirma que o Ingenuity já atingiu e ultrapassou os seus três objetivos técnicos na missão, conseguindo um voo motorizado e controlado em Marte, e tem agora novos desafios para o helicóptero que está a ser preparado há mais de seis anos para a aventura marciana.
Ainda hoje o Ingenuity levantou voo a partir do "aeroporto" que já foi designado como Wright Brothers Field, para reunir mais informação sobre a capacidade e condições de voo no planeta. Só pelas 18h30 de Portugal se saberá se foi bem sucedido.
“A milhões de quilômetros de distância, a Ingenuity completou todas as validações técnicas que tínhamos na NASA sobre a possibilidade de voo motorizado e controlado no Planeta Vermelho”, disse Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da NASA. “As futuras missões de exploração de Marte podem agora considerar com segurança a capacidade adicional que uma exploração aérea pode trazer para uma missão científica.”
O engenheiro chefe que acompanha o Ingenuity a partir do JPL admite que quando terminou o terceiro voo a equipa já tinha acumulado dados mais do que suficientes para ajudar a projetar as futuras gerações de helicópteros de Marte, mas ninguém quer ficar por aqui. “Agora planeamos estender o nosso alcance, velocidade e duração para obter mais informações sobre o desempenho”, justifica J. Balaram.
Quarto voo de teste e ainsa mais possibilidades de "brilhar"
O helicótero já terá feito o quarto voo às 12h3o, horário de Marte, cerca das 15 horas em Portugal, e os primeiros dados são esperados daqui a pouco no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA no sul da Califórnia, às 18h21 de Portugal continental. Mas a NASA só vai partilhar mais informação amanhã, tendo marcado uma conferência de imprensa para o início da manhã.
O Ingenuity tem mostrado resistência numa tarefa que não é fácil. A atmosfera fina de Marte dificulta a sustentação de qualquer objeto, já que é 99% menos densa que a da Terra, obrigando a uma engenharia que fez com que o Ingenuity tivesse de ser leve, com pás de rotor muito maiores e que giram muito mais rápido do que seria necessário para um helicóptero com a mesma massa na Terra.
O frio é outro dos obstáculos que foram enfrentados, uma vez que a cratera de Jezero, onde o rover Perseverance "amartou" com o Ingenuity anexado à sua base, pode atingir temperaturas de 130 graus Fahrenheit negativos (90 graus Celsius negativos) durante a noite. Mas o aparelho suportou estoicamente todos os desafios.
O mini-helicóptero pesa apenas 1,8 kg e é composto por quatro pés, um corpo e duas hélices sobrepostas, medindo apenas 1,2 metros de uma ponta à outra de uma hélice. As hélices giram a uma velocidade de 2.400 rpm (rotações por minuto), cerca de cinco vezes mais rápido do que um helicóptero normal, como mostra o vídeo de testes simulado que a NASA tinha partilhado antes das imagens reais.
Para recarregar as baterias, o Ingenuity está equipado com painéis solares, sendo grande parte da sua energia utilizada para se manter quente na temperatura negativa de Marte, e também pode captar fotografias e vídeos.
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