A saúde é um dos mercados onde tecnologias emergentes como a inteligência artificial, a realidade virtual ou a sensorização podem ter mais impacto e na verdade em algumas áreas isso já acontece. Estas tecnologias podem ajudar a melhorar processos de diagnóstico, a facilitar a colaboração entre profissionais, a tirar melhor partido dos dados produzidos pelos sistemas de informação. O potencial é gigantesco, mas na verdade pode começar ainda mais cedo, logo na formação.
O Centro de Simulação do Hospital da Luz Learning Health, que é o maior do género em Portugal e um dos maiores da Península Ibérica, reflete isso mesmo. Concentra num mesmo espaço várias destas tecnologias que ajudam profissionais de saúde, estudantes e investigadores a replicar ambientes reais, explorando metodologias de simulação clínica.
O espaço dedica-se à formação, investigação e inovação e trabalha com ciência de dados, inteligência artificial, realidade aumentada ou realidade virtual, muito em breve potenciadas por uma rede 5G que já está a ser implementada. Também acolhe projetos de investigação que utilizam robótica e sensores.
“Na formação, existem inúmeras evidências de que a simulação é uma metodologia fundamental para uma aquisição mais rápida e eficaz de conhecimento e para a prática deliberada”, explica Francisca Leite, diretora do Hospital da Luz Learning Health.
“No entanto, a simulação não é ainda muito utilizada em Portugal para o treino de competências clínicas e não clínicas, uma situação que temos vindo a mudar organizando cursos em que a simulação é, de facto, o foco da formação”.
Num mundo onde o ritmo de criação de novo conhecimento é acelerado e os profissionais de saúde têm de estar constantemente a atualizar-se. E onde a própria forma de prestar cuidados de saúde se tem alterado, as novas metodologias de formação são uma forma de acompanhar este ritmo acelerado de mudança, agilizar o desenvolvimento de novos conhecimentos e conseguir rapidamente pô-los em prática.
“Todas as metodologias que colocam o formando num ambiente formativo imersivo, como a simulação, a RV ou RA, contribuem para a criação deste ambiente, potenciando imensamente a eficácia da aprendizagem”, explica Francisca Leite.
“Adicionalmente, permitem a simulação de ambientes e procedimentos que anteriormente eram muito difíceis ou impossíveis, como o treino de técnicas cirúrgicas complexas, a visualização de estruturas em 3D de diferentes ângulos, ou até mesmo a colocação do profissional num ambiente realista de forma remota, entre outras”, acrescenta a responsável.
O centro tem por exemplo, simuladores de realidade virtual para o treino de ultrassonografias, laparoscopias, endoscopias, neurocirurgias, entre outras intervenções, distribuidos por 11 salas de simulação avançada.
Na investigação e na inovação a simulação permite testar novos produtos, procedimentos ou processos. Neste centro tem-se explorado a utilização de técnicas de IA no desenvolvimento de novos produtos, que permitam a deteção precoce de patologias, melhorar a qualidade do diagnóstico ou a eficiência dos serviços prestados e Francisca Leite garante que os resultados já alcançados são promissores.
Uma das grandes vantagens da metodologia, quando estão em causa desenvolvimentos que vão refletir-se diretamente nos doentes e nos profissionais de saúde, está no facto de de permitir experimentar e desenvolver “num ambiente seguro, sem qualquer risco para os doentes, contribuindo assim para a redução do erro médico que é, ainda hoje, no mundo desenvolvido a terceira causa de morte”.
Outro papel importante da simulação, explica também Francisca Leite, é na testagem da utilidade e adequação de novas soluções às necessidades de quem as vai usar: “é fundamental pensar desde o início em como estas soluções podem ser integradas nos workflows dos profissionais de saúde, para serem verdadeiramente úteis”.
É importante referir aliás que as experiências feitas no centro de simulação não ficam apenas no centro de simulação. Como explica Francisca Leite “temos vindo a colaborar tanto com centros de investigação de referência, como com startups, e temos já soluções desenvolvidas e testadas aqui que permitem melhorar a qualidade e a segurança do serviço prestado”.
Recentemente a NOS anunciou que está a montar uma rede 5G no Hospital da Luz, uma infraestrutura que acabará por ter um impacto importante em muitos projetos destes projetos, graças à maior capacidade de transmissão de informação da tecnologia e à menor latência, que “abrem novas possibilidades no treino e feedback on-time de profissionais, tanto a nível técnico e individual, mas principalmente ao nível do trabalho em equipa”, reconhece Filipa Leite.
A responsável acredita por exemplo que o impacto do 5G na qualidade da comunicação entre profissionais de saúde pode ser muito elevado, recordando que 80% dos erros médicos se devem a falhas de comunicação entre e dentro das equipas. Também destaca a importância deste upgrade em áreas como a formação remota.
Este artigo integra o Especial Saúde Digital: O que a tecnologia traz de mais valor para o combate à Covid-19
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