Apesar de haver estrelas mais ativas, o Sol é uma estrela do tipo solar completamente normal. Esta é a conclusão de um estudo conduzido por uma equipa liderada pela investigadora do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) Ângela Santos, que poderá deitar por terra a ideia de que o Astro-Rei não seria uma estrela normal, do “tipo solar”.

O debate sobre se o Sol é ou não uma estrela do tipo solar não é novo entre a comunidade científica. Sobre a sua atividade magnética, em particular, vários estudos sugeriam que estrelas semelhantes ao Sol seriam significativamente mais ativas, mas na opinião de Ângela Santos, investigadora da equipa “Rumo a um estudo abrangente de estrelas” do IA, o problema parece estar antes nas estrelas que são classificadas como do tipo solar, pois existem várias limitações e viés nos dados observacionais e nas propriedades das estrelas que são inferidas.

Veja o vídeo da fotosfera do Sol, fotografada numa época de máximo solar

Para a investigação, a equipa liderada por Ângela Santos escolheu estrelas com propriedades muito semelhantes às do Sol, recorrendo a um novo catálogo de propriedades de estrelas, provenientes de observações do satélite Kepler, além de alguns dados do satélite Gaia e ainda do catálogo de períodos de rotação e índices de atividade magnética da própria equipa.

Os dados destas estrelas foram comparados com a atividade dos últimos dois ciclos de atividade do Sol, obtidos pelo instrumento VIRGO/SPM, a bordo do telescópio espacial solar SOHO.

Uma das estrelas estudadas, escolhida do catálogo do Kepler, foi carinhosamente apelidada de “Doris” pelos astrónomos. Num trabalho anterior, a equipa já tinha observado que a amplitude do ciclo de “Doris” era mais de duas vezes maior do que os ciclos solares mais recentes, isto apesar de “Doris” ter propriedades muito semelhantes às do Sol. A diferença era a metalicidade, explica Ângela Santos, citada em comunicado

“A nossa interpretação é que o efeito da metalicidade, que torna a zona de convecção mais profunda, levando a um dínamo mais eficaz, o que implica um ciclo de atividade mais forte”

Neste trabalho mais recente, cujos resultados foram publicados hoje na revista Astronomy & Astrophysics, quando a equipa selecionou estrelas semelhantes a “Doris”, sem considerar a metalicidade na seleção, encontrou um excesso de estrelas com elevada metalicidade.

“Na nossa seleção, o único parâmetro que poderia levar a este excesso é o período de rotação. Em particular, Doris tem um período mais longo do que o Sol. E encontramos de facto evidências para uma correlação entre o período de rotação e a metalicidade”, refere a investigadora.

Os resultados dos dois trabalhos são consistentes, pois a atividade magnética mais forte significa que o processo de travagem magnética leva a um período de rotação mais lento, o que explica porque é que “Doris” tem uma rotação mais lenta do que o Sol, apesar de ser muito semelhante e ligeiramente mais nova do que o Sol.

“O que descobrimos é que, apesar de haver estrelas mais ativas do que o Sol, o Sol é uma estrela do tipo solar completamente normal”, rematou Ângela Santos.

Existem estrelas com uma massa 100 vezes superior à do Sol, um milhão de vezes mais luminosas e 30 vezes mais quentes. Estas estrelas, comummente designadas por Wolf-Rayet, morrem cedo, uma vez que a sua atividade as obriga a consumir a sua reserva de hidrogénio a um ritmo acelerado. É o caso da nebulosa Roseta, destacada no projeto Astronomy Picture of the Day ao longo do passado mês de fevereiro.

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