Os atrasos nas comunicações entre a Terra e a Estação Espacial Internacional (ISS) são praticamente inexistentes, mas pensar em Marte, a muito maior distância, muda as coisas: o delay pode rondar de cinco a 20 minutos, dependendo das posições dos planetas.

Será importante que os astronautas sejam mais autónomos na resolução de qualquer questão que possa surgir, não dependendo tanto das equipas de apoio em Terra, e é nesse sentido que estão a ser testadas várias ferramentas a bordo da ISS, nomeadamente recorrendo à realidade aumentada. É o caso do T2 Augmented Reality (T2AR).

O projeto permite que os membros da tripulação da estação espacial possam inspecionar e fazer a manutenção dos equipamentos científicos e de exercícios essenciais para manter a saúde da tripulação e atingir os seus objetivos sem depender da ajuda da “assistência técnica terrestre”.

O uso da Realidade Aumentada também pode reduzir o tempo dedicado a resolver ou completar as tarefas a bordo. Usando um tablet ou auriculares, as aplicações de RA podem interpretar as imagens registadas pela câmara e atuar como um assistente inteligente, por exemplo sugerindo o passo seguinte correto com sobreposições ou texto animado.

Os testes ao T2AR em órbita começaram em abril, com o astronauta Soichi Noguchi, da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), a ser encarregado da manutenção de um dos principais equipamentos de exercício da tripulação: a passadeira.

O procedimento de inspeção está normalmente disponível como documento PDF que pode ser acedido a partir de um computador ou tablet, que podem ser difíceis de segurar ao mesmo tempo que é preciso pegar em ferramentas ou lanternas ou examinar o equipamento num espaço reduzido.

Desta vez, não houve qualquer instrução extra  ou comunicação com as equipas em terra, já que a informação estava totalmente “à vista”. Usando os óculos de realidade aumentada Microsoft HoloLens e munido de um novo software de monitorização desenvolvido pela NASA, Soichi Noguchi obteve a orientação e dicas passo a passo necessárias para concluir a tarefa sem ter de consultar um outro ecrã.

O T2 Augmented Reality é o primeiro projeto de uso operacional no espaço dos HoloLens em combinação com software RA customizado, que permite a um astronauta inspecionar ou fazer a manutenção de equipamentos sem assistência “externa”. A investigação baseia-se na experiência Sidekick que o ex-astronauta da NASA Scott Kelly conduziu em 2016.

Depois da atividade realizada com o astronauta japonês, também o astronauta Thomas Pesquet da ESA e a astronauta Megan McArthur da NASA usaram a aplicação de AR a bordo da ISS. O resultado dos testes forneceu informações sobre como a tecnologia funciona e não funciona para auxiliar nos procedimentos de inspeção e manutenção. Entretanto há mais nove sessões de teste previstas no plano de demonstração de tecnologia.