
É a primeira vez que os astrónomos descobrem fortes indícios de um “planeta polar” a orbitar um par de estrelas, e por isso o entusiasmo é elevado. "Esta descoberta foi realmente inesperada, uma vez que as nossas observações não foram recolhidas para procurar um tal planeta ou configuração orbital", defende Amaury Triaud, professor na Universidade de Birmingham, e um dos autores do estudo agora divulgado.
Usando o telescópio Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), os astrónomos revelam que descobriram um exoplaneta que orbita um sistema binário de anãs castanhas jovens, num ângulo de 90º em torno deste par de estrelas. Nos últimos anos, foram descobertos vários planetas a orbitar duas estrelas em simultâneo, e o estudo faz o paralelo com o cenário do planeta Tatooine, onde morava Luke Skywalker a personagem principal dos filmes de ficção científica Star Wars.
“Penso que isto nos mostra, tanto a nós astrónomos como ao público em geral, o que é possível encontrar no Universo fascinante em que vivemos” destaca Amaury Triaud.
No artigo “Evidence for a polar circumbinary exoplanet orbiting a pair of eclipsing brown dwarfs”, publicado hoje na revista da especialidade Science Advances, os astrónomos lembram que os planetas que orbitam duas estrelas ocupam normalmente órbitas que se alinham aproximadamente com o plano em que as suas "estrelas hospedeiras" orbitam em torno uma da outra. Já existiam indícios de que podiam estar em órbitas perpendiculares, ou polares, mas até agora não havia provas claras da sua existência.
Em teoria estas órbitas são estáveis e foram detectados discos de formação planetária em órbitas polares em torno de pares de estrelas. “Estou verdadeiramente entusiasmado por estar envolvido na detecção de indícios credíveis que apontam para a existência desta configuração”, sublinha Thomas Baycroft, estudante de doutoramento na Universidade de Birmingham, Reino Unido, que liderou o estudo.
Segundo os dados, o exoplaneta 2M1510 (AB) b, orbita um binário de anãs castanhas jovens, que são maiores que planetas gigantes gasosos mas demasiado pequenos para serem estrelas propriamente ditas. As duas anãs castanhas eclipsam-se uma à outra quando observadas a partir da Terra, e por isso são designadas pelos astrónomos como um binário eclipsante.
Os astrónomos observaram a trajetória orbital das duas estrelas do 2M1510 a ser "empurrada e puxada de forma invulgar", o que os levou a inferir a existência de um exoplaneta com este estranho ângulo orbital. “Revimos todos os cenários possíveis e o único consistente com os dados obtidos corresponde à existência de um planeta numa órbita polar em torno deste binário,” diz Thomas Baycroft.
Binários e "especiais"
A informação partilhada pelo ESO indica que este sistema é bastante raro. "Para além de ser apenas o segundo par de anãs castanhas eclipsantes conhecido até à data, descobrimos agora que acolhe também o primeiro exoplaneta jamais encontrado numa trajetória perpendicular à órbita das suas duas estrelas hospedeiras", refere o comunicado.
”Um planeta em órbita não só de um binário, mas de um binário de anãs castanhas, e numa órbita polar, é realmente algo incrível", afirma o coautor do estudo, Amaury Triaud.
Para a identificação do sistema foram usados vários instrumento ligados ao ESO, o UVES (Ultraviolet and Visual Echelle Spectrograph) montado no telescópio VLT, no Observatório do Paranal, no Chile.
Este mesmo par de anãs castanhas, conhecido por 2M1510, foi visto pela primeira vez em 2018 por Triaud e outros investigadores, que utilizaram o SPECULOOS (Search for habitable Planets EClipsing ULtra-cOOl Stars), outra instalação do mesmo observatório.
Veja as imagens do VLT no Observatório do Paranal
No mês passado uma análise técnica detalhada conduzida pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) revelou que o megaprojeto industrial INNA, planeado para ser construído próximo do Observatório do Paranal, no Chile, terá impactos devastadores e irreversíveis nas condições de observação astronómica do local.
De acordo com o relatório, o INNA aumentará a poluição luminosa em mais de 35% sobre o Very Large Telescope (VLT), localizado a 11 quilómetros da área projetada, e em mais de 50% sobre o Cherenkov Telescope Array Observatory (CTAO-Sul), situado a apenas cinco quilómetros. E isso pode impedir o desenvolvimento de descobertas como a que foi hoje revelada.
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