A Organização Europeia para a Investigação Nuclear, conhecida como CERN (antigo acrónimo para Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) vai expulsar centenas de cientistas afiliados a instituições russas no final de novembro, a menos que se transfiram para outras instituições fora da Rússia.

A decisão do fim da colaboração do laboratório com a Federação Russa já estava tomada e prende-se com o corte de relações com o país na sequência da invasão da Ucrânia em 2022. Na ocasião, algumas organizações científicas de países ocidentais terminaram rapidamente as ligações com a Rússia, incluindo apoios financeiros de recursos e de colaboração com cientistas russos.

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No entanto, há tensões entre os cientistas, avança a revista Nature, porque o CERN continuará a trabalhar com cientistas russos através de um acordo com o Instituto Conjunto de Investigação Nuclear (JINR), um centro intergovernamental em Dubna, perto de Moscovo. Este acordo CERN é independente do com a Rússia e a decisão de não o terminar dividiu os investigadores. Borys Grynyov, diretor do Instituto de Materiais de Cintilação em Kharkiv, Ucrânia, que representa a Ucrânia como membro associado na direção do Conselho CERN, considera esta decisão “um grande erro”.

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A Nature tentou contactar o JINR e o ministro da ciência russo, mas não obteve comentários. O porta-voz do CERN, Arnaud Marsollier, diz, por seu lado, que “a convenção do CERN é muito clara quanto ao facto de fazermos investigação fundamental pacífica”.

O CERN foi fundado no rescaldo da Segunda Guerra Mundial e tem sede em Genebra, Suíça. O objetivo é unir as nações em torno procura pacífica de ciência. A colaboração com a União Soviética começou em 1955, tendo-se sempre mantido como membro observador, estatuto agora suspenso.  Em 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

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Nessa altura, o Conselho CERN condenou as mortes e o “uso ilegal da força” no conflito. O laboratório introduziu restrições à deslocação de cientistas e ao transporte de materiais entre a Rússia e o CERN. E comprometeu-se a pôr termo aos acordos com a Rússia e a Bielorrússia quando estes expirarem, uma decisão formalizada em dezembro de 2023. O acordo do CERN com a Bielorrússia expirou a 27 de junho, pondo termo aos contratos de cerca de 20 investigadores. E, a partir de 1 de dezembro, os cientistas filiados na Rússia deixarão de poder aceder às instalações do CERN e deverão entregar as autorizações de residência francesas ou suíças de que são titulares.

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As experiências poderão ser comprometidas pelo afastamento dos investigadores russos, dizem alguns cientistas, enquanto outros referem que a transição será suave por haver dois anos para preparar a saída dos cientistas. A maioria já encontrou novas instituições fora da Rússia para colaborar e apenas 20 continuam à procura, diz a mesma notícia da Nature.

As agências e instituições de financiamento russas contribuíam com cerca de 4,5% do orçamento conjunto das experiências do Large Hadron Collider (LHC). A perda da contribuição prevista da Rússia para o LHC de alta luminosidade, uma atualização de alta intensidade prevista para 2029, custará ao CERN mais 40 milhões de francos suíços (42,8 milhões de euros).

O LHC do CERN é do conhecimento geral, por ser o local onde se descobriu o bosão de Higgs ou partícula de Deus, há 11 anos. O site do CERN sobre a descoberta científica e o impacto na investigação da origem do Universo é de consulta obrigatória para quem quer saber mais sobre o tema.