Júpiter é um planeta escuro e tempestuoso, pelo que a sua observação sempre foi pautada por algumas dificuldades. As imagens obtidas até à data não eram particularmente detalhadas, mas um projeto recente permitiu captar uma fotografia que revela mais pormenores do que nunca.
É a visão mais clara que alguma vez tivemos do planeta. A imagem dá-nos uma visão das tempestades que ribombam na sua atmosfera e Amy Simon, astrónoma da NASA, explica que é agora possível "aprender mais do que nunca sobre a meteorologia de Júpiter.
Avistamentos desta qualidade são possíveis graças a uma rede de projetos espaciais que, interligados, permitem trazer até à agência espacial norte-americana este tipo de imagens. Tudo começa na sonda Juno, que orbita o planeta desde 2016; o ponto intermediário é o telescópio espacial Hubble; e a estação final é o observatório Gemini, no Havai.
Esta rede é "o nosso satélite meteorológico, dado que nos permite olhar para os ciclos meteorológicos dos planetas", comenta Simon em conversa com a Space. E há muitas tempestades para observar em Júpiter. Embora a Grande Mancha Vermelha seja o foco do maior fenómeno identificado, a astrónoma sublinha que todas as tempestades que envolvem o planeta são "impressionantes", uma vez que já foram observados relâmpagos três vezes mais fortes do que os raios mais poderosos registados na Terra.
Neste momento, o Gemino, o Hubble e a Juno trabalham sincronizados para analisar Júpiter através de diferentes sensores, fornecendo dados que permitem desenhar um cenário mais completo daquilo que se passa na atmosfera do planeta.
Por esta altura, graças à articulação de funcionalidades estabelecida entre os três pontos, o observatório consegue identificar fenómenos, ao detalhe, numa área com 500 quilómetros de comprimento. O laboratório esclarece que, à escala terrestre, isto seria o mesmo que detetar os faróis de um carro em Miami, a partir de Nova Iorque.
A equipa responsável pelas observações está neste momento a comparar os padrões meteorológicos de Júpiter com os da Terra, sendo que os relâmpagos são um ponto de orientação para a investigação. "Os cientistas monitorizam a luz dos relâmpagos porque são um marcador de convecção, o processo turbulento de mistura que transporta o calor interno de Júpiter até à zona superior e visível das nuvens", explica Michael Wong, astrónomo da Universidade da Califórnia e que faz parte da equipa envolvida no estudo. "Esta análise vai deixar-nos compreender como é que a convecção em Júpiter é diferente ou semelhante à que acontece na atmosfera terrestre", acrescenta.
Apesar de a equipa estar ainda à procura de respostas neste território, há uma descoberta que já lhes permitiu chegar a uma conclusão importante acerca da Grande Mancha Vermelha. Sobre este ponto em específico, os astrónomos inquiriam-se, há várias décadas, sobre o que seriam os focos negros que surgem, amiúde, sobre a Mancha. A investigação e, sobretudo, as imagens obtidas com infravermelhos através do Gemini, permitiram concluir que estes pontos são causados pelos aglomerados de nuvens que se formam nesta zona.
Os cientistas estão também a recorrer aos dados obtidos para analizar ventos, ondas atmosféricas, tempestades convectivas, vórtices ciclónicos e fenómenos polares atmosféricos.
As descobertas mais recentes estão descritas num paper publicado a 1 de abril no The Astrophysical Journal Supplement Series.
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