A missão Euclid da ESA conta com um grupo de cientistas portugueses do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) a cargo do planeamento de rastreios do céu, em colaboração com mais de 20 cientistas de várias instituições. Agora, a equipa que ajuda o telescópio Euclid a observar o lado escuro do Universo recebeu o prémio Euclid STAR 2020 pelo seu contributo para o sucesso da missão.
O grupo de rastreios (ECSURV) onde está a equipa de cientistas nacionais é responsável por produzir o calendário de mapeamento do céu com as cerca de 40.000 observações do telescópio Euclid. O objetivo é definir qual a região do céu que será observada a cada momento dos mais de seis anos de duração da missão.
Segundo Ismael Tereno, investigador do IA, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e coordenador da equipa portuguesa do ECSURV, o planeamento levado a cabo pelo grupo é fundamental. O investigador explica em comunicado que o trabalho toca em quase todos os aspetos da missão, sendo um “produto de grande visibilidade na comunidade do Euclid”.
Para João Diniz, investigador do IA e da FCUL, e membro do grupo de rastreios, o projeto tem sido desafiante, mas que é recompensador ver todo o trabalho reconhecido. “Há uma miríade de constrangimentos que o satélite tem de obedecer e que condicionam o plano de observações: os seus movimentos e rotações são limitados, e cada campo de calibração tem de ser observado de forma específica”, explica o investigador.
Já António da Silva, investigador do IA, da Ciências ULisboa, membro da Direção do Consórcio Euclid e do grupo de rastreios, reconhece que para a participação da equipa portuguesa foi essencial o apoio dos institutos e das agências de financiamento, FCT e da PT SPACE.
Uma missão ao lado escuro do Universo
O telescópio Euclid tem como missão estudar a forma e a posição tridimensional de milhões de galáxias com a ajuda de dois instrumentos: uma câmara na luz visível, e outra câmara/espectrómetro no infravermelho próximo. Os cientistas esperam conseguir mapear a distribuição espacial da matéria escura, que constituirá cerca de 23% do Universo, e foram já escolhidas as três regiões onde serão aplicadas as capacidades especiais do Euclid.
O Euclid vai observar mais de um terço do céu, mas 10% do tempo de observação será utilizado para analisar a fundo as três regiões especiais. Em conjunto, equivalem a 200 vezes a área da Lua cheia e situam-se perto dos polos da eclíptica, por serem zonas que o Euclid poderá observar durante praticamente todo o ano sem a interferência do Sol.
Cada uma destas regiões será visitada, no mínimo, 40 vezes, esperando-se encontrar objetos extremamente ténues escondidos nas "janelas" do passado cósmico. Os dados obtidos pelo Euclid vão poder ser utilizados em várias áreas da Astronomia e podem permitir aos cientistas sondar o Universo até às suas primeiras épocas.
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