O telescópio europeu recebeu o nome do matemático grego Euclides e tem 1,2 metros de diâmetro, sendo a sua missão estudar a forma e a posição tridimensional de milhões de galáxias com a ajuda de dois instrumentos: uma câmara na luz visível, e outra câmara/espectrómetro no infravermelho próximo. Os cientistas esperam com este telescópio mapear a distribuição espacial da matéria escura, que constituirá cerca de 23% do Universo, e foram já escolhidas as três regiões onde serão aplicadas as capacidade especiais do Euclid.

A participação portuguesa na missão é coordenada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), que refere que Portugal está envolvido no planeamento de rastreios do céu com uma equipa de mais de 20 cientistas de várias instituições. Estas regiões, uma no hemisfério celeste norte e duas no hemisfério celeste sul, foram anunciadas no encontro anual do Consórcio Euclid, em Helsínquia, Finlândia, e divulgadas pela ESA na semana passada.

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O Euclid vai observar mais de um terço do céu, mas 10% do tempo de observação será utilizado para analisar a fundo três regiões especiais, cuja localização e forma de observar foram agora anunciadas. Em conjunto, equivalem a 200 vezes a área da Lua cheia e situam-se perto dos polos da eclíptica, por serem zonas que o Euclid poderá observar durante praticamente todo o ano sem a interferência do Sol, refere o instituto no seu site. Cada uma destas regiões será visitada, no mínimo, 40 vezes, esperando-se "encontrar objetos extremamente ténues escondidos nessas janelas escuras do passado cósmico.

“Estes ʻcampos profundosʼ foram cuidadosamente escolhidos para conter o mínimo de luz de estrelas da Via Láctea, de poeiras do meio interestelar, e de brilho de poeiras do Sistema Solar, tudo componentes que obscurecem a luz de fontes ténues, ou afetam a sensibilidade das observações”, explica Ismael Tereno, do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), e membro do grupo de rastreios do consórcio. O  consórcio reúne 1.500 cientistas de 14 países europeus, Estados Unidos e Canadá.

O Instituto de Astrofísica nota que, observadas a olho nu, estas regiões parecem desinteressantes, porque são praticamente desprovidas de fontes de luz da nossa galáxia. Prevê-se porém que os atuais catálogos de galáxias longínquas e de núcleos ativos de galáxias sejam aumentados de milhares destes objetos com o Euclid.

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João Dinis, do IA e da FCUL, e membro do grupo de rastreios do Consórcio Euclid lembra que “observar repetidamente estes campos profundos colocou um enorme desafio e requereu uma grande dose de criatividade e perseverança, dado que, ao longo da órbita do telescópio, dois dos campos têm janelas de visibilidade muito reduzidas.”

Os dados obtidos pelo Euclid vão poder ser utilizados em várias áreas da Astronomia e podem permitir aos cientistas sondar o Universo até às suas primeiras épocas.

Segundo o IA, as atividades nacionais nesta missão estão enquadradas num acordo multilateral assinado em 2012 pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)  e a recém criada agência espacial portuguesa, Portugal Space, assumiu o papel da FCT como  agência nacional e participa no comitê de direçã, composto por representantes de agências nacionais e da ESA.