É a primeira vez que os satélites CubeSat embarcam numa missão para o espaço profundo, e por isso a ESA mostra a satisfação com o sucesso da comunicação. Cada um dos CubeSat que seguem a bordo da missão Hera foi ligado por cerca de uma hora, numa sessão que permitiu validar o funcionamento e que é conhecida como o teste "estão vivos", como explica o engenheiro Franco Perez Lissi.
“A dupla está atualmente armazenada nos Deep Space Deployers, mas conseguimos ativar todos os sistemas de bordo, incluindo os aviónicos da plataforma, os instrumentos e os links intersatélites que utilizarão para falar com Hera, bem como rodar e baixar as rodas de reação que serão usadas para o controlo de atitude”, adianta o engenheiro.
A missão Hera foi lançada a 7 de outubro e tem um objetivo de defesa interplanetária, seguindo ao encontro do asteroide Dimorphos que já teve o primeiro embate com a missão DART em 2022. Já partilhou as primeiras imagens quando se afastava da Terra, usando os seus próprios instrumentos.
O objetivo da Hera é fazer o levantamento detalhado dos efeitos do impacto da missão DART com o objetivo de transformar a experiência numa técnica que permita desviar asteroides sempre que seja necessário.
No caminho, passará “de raspão” por Marte, em março de 2025, o que servirá como um teste para os seus equipamentos e também como impulso gravitacional para depois alcançar o sistema Didymos/ Dimorphos, no final de 2026.
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Dois CubeSats com missões específicas
A bordo da missão Hera viajam dois pequenos satélites do tamanho de uma caixa de sapatos, os CubeSats que seguem um design normalizado e que tem sido usado por várias universidades e equipas de desenvolvimento para fazer as primeiras experiências no espaço. É o caso do nanosatélite do IST que já seguiu a bordo do foguetão Ariane 6.
Com a missão Hera viajam o Juventas, produzido pela GOMspace do Luxemburgo que tem como missão ser a primeira sonda radar num asteroide e estudar a estrutura interna. O seu companheiro é o Milani, fabricado pela Tyvak International em Itália, que vai fazer prospeção mineral multiespectral no Dimorphos.
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Segundo os dados partilhados, o Juventas foi ativado a 17 de outubro, a 4 milhões de quilómetros da Terra, enquanto o Milani só foi "ligado" a 24 de outubro, já a 7,9 milhões de quilómetros de distância. Para receberem o sinal de volta a equipa teve de contar com o atraso das comunicações, de 32,6 segundos no caso do Juventas e de 52 segundos para o Milani.
Os CubeSats estão preparados para enfrentar as dificuldades do espaço, com temperaturas baixas até serem ativados em 2026 numa manobra arriscada devido à baixa gravidade do asteroide, que pode não ser suficiente para "prender" os satélites que se podem perder no espaço.
O vídeo da ESA mostra como funcionam os satélites
Durante o caminho até ao Dimorphos os CubeSat vão ser ligados regularmente, de dois em dois meses, para fazerem algumas operações de rotina, como verificações de condição da bateria e atualização de software.
Defender o planeta com a ajuda de tecnologia portuguesa
A missão Hera contou com a participação das portuguesas Efacec, GMV e Synopsis Planet, que foram responsáveis pelo desenvolvimento de alguns dos elementos fundamentais para o sucesso da missão de defesa planetária da ESA.
A Efacec desenvolveu um altímetro LIDAR denominado PALT (Planetary ALTimeter), um equipamento baseado em tecnologia laser capaz de medir distâncias até 20 quilómetros com uma precisão de 10 centímetros, que permitirá fazer o estudo do asteroide, assim como recolher dados que serão usados pelo sistema de navegação do satélite.
Para o desenvolver o PALT, a Efacec liderou um consórcio composto por mais uma empresa portuguesa, a Synopsis Planet, duas empresas romenas (Efacec-Roménia e INOE) e uma empresa da Letónia (Eventech).
O spin-off da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Synopsis Planet ficou encarregue de desenvolver o laser microchip do altímetro da Efacec, usado como a fonte de luz do altímetro, além de participar na criação do front-end ótico.
Já a GMV Portugal foi responsável por desenvolver um sistema autónomo de Orientação, Navegação e Controlo (GNC na sigla inglesa), referente ao controlo de manobras orbitais a bordo, incluindo a definição de estratégias de navegação híbrida entre o Segmento de Terra e o sistema de GNC da nave.
Ao todo, as três empresas portuguesas terão ganho contratos de 2,9 milhões de euros.
Refira-se que a ONU estima que existam 16 mil objetos próximos da Terra, conhecidos pela sigla NEO, embora a maioria não represente qualquer perigo. Ainda assim, nas contas da ESA, há mais de um milhar que pode ter consequências catastróficas e daí as estratégias de alerta e defesa planetária em desenvolvimento serem tão importantes.
Nas últimas duas décadas, o Gabinete de Defesa Planetária da ESA tem realizado deteção e análise de NEO potencialmente perigosos, sob uma série de projetos dedicados a melhorar a capacidade de detetar, rastrear e mitigar a existência de asteroides potencialmente perigosos. A missão Hera faz parte do primeiro teste mundial de deflexão de asteroides.
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