Em setembro de 2022, a missão DART, da NASA, demonstrou pela primeira vez a capacidade de desviar um asteroide da sua órbita ao colidir com Dimorphos num teste controlado das capacidades de deflexão de asteroides. Dois anos depois, é lançada a missão Hera, da ESA, para estudar de perto o resultado desse processo.
A missão Hera seguiu viagem esta segunda-feira, 7 de outubro, à boleia de um foguetão Falcon 9, da SpaceX, tendo como destino o sistema binário Didymos, onde só vai chegar em 2026.
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No caminho, passará “de raspão” por Marte, em março de 2025, o que servirá como um teste para os seus equipamentos e também como impulso gravitacional para depois alcançar o sistema Didymos/ Dimorphos, no final de 2026.
Passavam poucos minutos da meia noite do dia 27 de setembro de 2022 quando, pela primeira vez na história, uma sonda chocou de propósito contra um asteroide, a quase 21.000 km/h, explodindo 1.000 toneladas de rocha. A missão DART, idealizada pela NASA, resultou na colisão bem-sucedida com Dimorphos, iniciando aquilo que se pretende que seja uma nova era de defesa planetária.
O momento pôde ser acompanhado em direto, com imagens registadas pela câmara da sonda mostradas, quase em tempo real, à medida que esta se aproximava do asteroide para a colisão. Além da câmara da sonda, houve outras objetivas apontadas ao teste de defesa planetária para registarem o momento, nomeadamente as do Hubble.
O popular telescópio espacial captou uma série de fotos que foram transformadas num vídeo time-lapse, onde são mostrados pormenores surpreendentes do impacto.
Veja o vídeo
O objetivo da Hera é fazer o levantamento detalhado dos efeitos do impacto da missão DART com o objetivo de transformar a experiência numa técnica que permita desviar asteroides sempre que seja necessário.
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A operação de aproximação e navegação em torno de asteroides é um grande desafio devido às gigantescas velocidades e distâncias que o corpo celeste está da Terra. O desafio pode ser comparado a "fazer acertar uma bala disparada a dois quilómetros noutra bala disparada a igual distância”, segundo explicou João Branco SAPO TEK, na altura em que a missão começou a ser preparada.
De acordo com a ESA, a nave espacial está equipada com orientação, navegação e controlo automatizados, para que possa navegar em segurança no sistema binário de asteroides, com funções semelhantes às de um carro autónomo.
Com um corpo do tamanho aproximado ao de uma mesa de escritório, transportará vários instrumentos, como uma câmara ótica de enquadramento de asteroides, complementada por geradores de imagens térmicas e espectrais, bem como um altímetro a laser para mapeamento de superfície.
A Hera é considerada uma espécie de nave espacial “3 em 1”, porque também vai assumir a responsabilidade de colocar o par de CubeSats que transporta nas proximidades de Dimorphos.
Ao Juventas compete realizar a primeira verificação por radar do interior de um asteroide, ao mesmo tempo que integra um gravímetro e um acelerómetro para medir a gravidade ultrabaixa do corpo e a resposta mecânica da superfície. Já o “par” Milani vai ser responsável por registar imagens espectrais de infravermelho próximo e recolher amostras de poeira dos asteroides.
Do tamanho de uma caixa de sapatos, os CubeSat vão manter contacto com a sua nave-mãe Hera, assim como um com o outro, através de um novo sistema de comunicação entre satélites, para reforçar a experiência na supervisão de vários instrumentos espaciais numa exótica quase ausência de peso, antes de finalmente pousarem em Dimorphos, sublinha a ESA.
Recorde-se que entre os principais protagonistas da Hera está também uma antena, denominada High Gain Antenna, que vai “telefonar para casa” para transmitir as primeiras imagens em close-up de Dimorphos, depois que a sua órbita foi alterada pelo choque com a DART.
Defender o planeta com a ajuda de tecnologia portuguesa
A Hera contou com a participação das portuguesas Efacec, GMV e Synopsis Planet, que foram responsáveis pelo desenvolvimento de alguns dos elementos fundamentais para o sucesso da missão de defesa planetária da ESA.
A Efacec desenvolveu um altímetro LIDAR denominado PALT (Planetary ALTimeter), um equipamento baseado em tecnologia laser capaz de medir distâncias até 20 quilómetros com uma precisão de 10 centímetros, que permitirá fazer o estudo do asteroide, assim como recolher dados que serão usados pelo sistema de navegação do satélite.
Para o desenvolver o PALT, a Efacec liderou um consórcio composto por mais uma empresa portuguesa, a Synopsis Planet, duas empresas romenas (Efacec-Roménia e INOE) e uma empresa da Letónia (Eventech).
O spin-off da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Synopsis Planet ficou encarregue de desenvolver o laser microchip do altímetro da Efacec, usado como a fonte de luz do altímetro, além de participar na criação do front-end ótico.
Já a GMV Portugal foi responsável por desenvolver um sistema autónomo de Orientação, Navegação e Controlo (GNC na sigla inglesa), referente ao controlo de manobras orbitais a bordo, incluindo a definição de estratégias de navegação híbrida entre o Segmento de Terra e o sistema de GNC da nave.
Ao todo, as três empresas portuguesas terão ganho contratos de 2,9 milhões de euros.
Refira-se que a ONU estima que existam 16 mil objetos próximos da Terra, conhecidos pela sigla NEO, embora a maioria não represente qualquer perigo. Ainda assim, nas contas da ESA, há mais de um milhar que pode ter consequências catastróficas e daí as estratégias de alerta e defesa planetária em desenvolvimento serem tão importantes.
Nas últimas duas décadas, o Gabinete de Defesa Planetária da ESA tem realizado deteção e análise de NEO potencialmente perigosos, sob uma série de projetos dedicados a melhorar a capacidade de detetar, rastrear e mitigar a existência de asteroides potencialmente perigosos. A missão Hera faz parte do primeiro teste mundial de deflexão de asteroides.
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