Apesar de ainda não haver fim à vista para o leilão do 5G em Portugal, que se tem prolongado há mais de 100 dias, as operadoras continuam a preparar o terreno para a sua chegada aos serviços e cidadãos. Depois de equipar o Estádio da Luz com a rede 5G, a NOS deu um “salto” ao vizinho Hospital da Luz, que passa também a beneficiar da quinta geração móvel nos seus serviços. A saúde será uma das áreas onde o 5G vai ter maior impacto, desde o acesso à tecnologia no diagnóstico e tratamento, às cirurgias remotas, entre outras perspetivas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas.
De forma a antecipar o futuro dos cuidados de saúde, a NOS e o Grupo Luz Saúde realizaram uma demonstração no Hospital da Luz, naquele que se afirma como o primeiro hospital 5G em Portugal. Com a rede instalada, o hospital já pode começar a usufruir das vantagens da tecnologia, mesmo antes do lançamento oficial do 5G comercial, sobretudo na área da formação.
Através de um headset de realidade aumentada, os futuros médicos podem assistir a demonstrações e formações mais detalhadas, em vez de ficarem passivos na assistência. A possibilidade de assistir um paciente remotamente, com instruções dadas à distância pelo médico, é outro aspeto onde vai ser possível inovar.
Isabel Vaz, CEO do Grupo Luz Saúde, destaca que a introdução da tecnologia acontece porque é necessária, e não porque “é giro”, salientando as vantagens do uso de monitorização remota dos pacientes, “é o hospital que tem de ir ter com os doentes e não estes ao hospital”, possibilitando estar a vigiar 24/7 os mesmos. Refere que é importante na prevenção da doença, mas também no acompanhamento de caos crónicos. E isso vai também diminuir os custos para SNS.
Destaca mesmo o exemplo da Anatomia de Gray, na formação, em que os futuros médicos estão isolados atrás de uma vitrine, "isso acabou, porque o 5G vai permitir uma maior interação". A formação e a escola é uma das áreas onde se pretende usufruir do 5G. A nova ala do Hospital da Luz, refere a sua CEO, é o único do país que pode manter-se operacional em caso de sismo, algo que foi pensado desde a sua construção. E é também um hospital "inteligente", graças aos aparelhos de monitorização do edifício. E também controla a iluminação ao longo do dia, com sensores que permite gerir a luz. Com o 5G será também possível controlar doentes paliativos, e permitir às famílias acompanhar em tempo real. Cirurgias robóticas, terapias alternativas, ambulâncias mais inteligentes, são outros aspetos a salientar com a introdução do 5G.
Manuel Ramalho Eanes, administrador da NOS, salienta a tecnologia do primeiro hospital equipado com 5G, pronto para o novo paradigma digital. "O mundo precisa de 5G", destacando o seu papel na saúde, e como pode beneficiar do mesmo. Citando um estudo da Accenture, as doenças crónicas tem subido 5/6%, e sem tecnologia, em 2030 haveria uma grande escassez de profissionais de saúde, algo que a tecnologia pode vir a colmatar, para além do aumento das receitas que podem surgir com a introdução do 5G.
A sensorização e monitorização dos doentes em casa e assistência médica à distância são outras vantagens da tecnologia 5G. Manuel Ramalho Eanes diz que a NOS está pronta, tem as suas infraestruturas preparadas para o início da comercialização do 5G e assume o compromisso com os portugueses na inovação. O administrador da NOS entregou a placa comemorativa do "primeiro hospital com 5G em Portugal".
No final da apresentação foi feita uma demonstração, utilizando um robot anatómico a representar uma criança de 5 anos, o Domingos. Uma médica está no local a assistir a criança, equipada com um sistema HoloLens, e uma outra médica, remotamente, via através dos seus olhos, dando instruções em tempo real para assistir o paciente. Entre as instruções remotas de como proceder, a médica foi manuseando os instrumentos na assistência à criança. A médica remota foi dando instruções precisas sobre a área de inserção de um berbequim para perfuração numa zona da perna do jovem paciente, ajustando o respetivo ângulo. O objetivo da demonstração foi mostrar a interatividade entre os médicos em locais diferentes no socorro ao paciente, através de uma ligação rápida e sem latência.
A segunda demonstração focou-se na formação. Um simulador permite ao utilizador usar o headset HoloLens para assistir a uma cirurgia remota, permitindo acompanhar em tempo real e de forma remota o que se está a passar num bloco de operações. A sala tem um espaço limitado, logo remotamente podem estar 200 ou 300 estudantes a assistir virtualmente à formação. Na demonstração, o utilizador estava a controlar remotamente um robot com uma câmara, que circulava livremente pelo espaço, filmando livremente o bloco operatório.
Foram instaladas 17 antenas, na parte nova do hospital, mas em breve vai abranger todo o espaço, destaca o administrador da NOS. Isabel Vaz salienta que a inteligência artificial será a maior revolução tecnológica na medicina, sobretudo ao nível dos modelos preditivos, para que se possa antecipar sintomas e tratamentos, de uma forma mais precoce, ajudado pela ciência de dados e machine learning. E a tecnologia terá um enorme impacto na redução de custos. "A capacidade de ter um hospital em casa só será possível com a nova geração de telecomunicações, desde a monitorização, a teleconsulta, ou até, embora de evitar, estar hospitalizado na nossa própria casa", reforça a CEO do Hospital da Luz.
Destaca também o impacto que o 5G vai ter na infraestrutura dos hospitais, que acaba por diminuir, considerando que nas casas das pessoas é possível ter uma "ala hospitalar". Ainda assim, destaca a necessidade da literacia, da informação, num processo que irá ser gradualmente introduzido. Em vez de investir em novos clínicas, porque será necessário menos hubs, os investimentos serão feitos em redes de comunicações.
Fugindo às questões sobre a polémica do atraso do leilão 5G em Portugal, Manuel Ramalho Eanes não prevê o fim do processo, mas salienta que o sector está pronto para avançar quando finalizar o "bloqueio". Apesar das iniciativas privadas que têm sido feitas, nomeadamente os testes no Hospital da Luz, como anteriormente o Estádio da Luz, "não passam de testes, não podemos avançar com serviços de 5G enquanto o processo não estiver concluído e devidamente regulamentado". Atualmente a NOS encontra-se a testar sete cenários, na preparação da chegada do 5G. E acredita que a agricultura, a produtividade e as estradas são áreas que podem usufruir com o 5G.
Questionada sobre o potencial do 5G em termos práticos para o hospital, Isabel Vaz explicou ao SAPO TEK que obter as latências corretas para uma hospitalização em casa, desde as videoconsultas, até à monitorização de determinados parâmetros em casa até à hospitalização direta. “Outro caso onde vamos apostar é no ensino, na capacidade de podermos melhorar a formação das futuras gerações médicas, numa parceria com a Universidade Católica, e temos a capacidade de moldar a forma como os alunos entram nos nossos hospitais, mais rápida e eficaz”.
A experiência melhorada dos doentes vulneráveis que não podem ir a casa, ter maior contacto com a família através de realidade virtual. As cirurgias e intervenções remotas ligando melhor os profissionais, quebrando as barreiras da dimensão. Isabel Vaz considera que uma vez entrada na rotina, depois da tecnologia estar disponível, os médicos vão adaptar-se rapidamente.
No entanto, não considera que o 5G venha a substituir as consultas presenciais, mas sim complementar o processo. “A medicina digital é o complemento seamless perfeito com o offline, que vai ser implementado nos roteiros clínicos que já existem. O físico não substitui o digital e vice-versa”, salientando que o segredo é juntar as duas coisas de forma harmoniosa. “Um paciente que esteja longe não vai precisar vir ao hospital todas as vezes, tal como acontecia antes”. E acredita que a tecnologia vai permitir aos médicos terem um maior acompanhamento dos seus pacientes e aproximá-los dos cuidados de saúde.
Nota de redação: Notícia atualizada com mais informação e declarações de Isabel Vaz ao SAPO TEK. Última atualização: 13h01.
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