Acrónimo para Jupiter Icy Moons Explorer, a Juice começa na próxima quinta-feira, dia 13 de abril, uma longa jornada até Júpiter. A sonda da ESA tem como intenção principal recolher o máximo de informação possível acerca do gigante gasoso, tentando perceber se tem ou já teve vida e considerando a hipótese de o seu sistema reunir condições de habitabilidade.

Faz por isso parte dos objetivos da missão o estudo pormenorizado de três das suas quatro maiores luas: Europa, Ganimedes e Calisto. Há fortes indícios de que Europa e Ganimedes – e possivelmente também Calisto – sejam luas-oceano, ou seja, tenham oceanos de água salgada debaixo das suas crostas geladas.

Com um impressionante conjunto de sensores, aquela que é a primeira iniciativa europeia de exploração de Júpiter, o maior planeta do sistema solar, vai tentar descrever esses oceanos e quem sabe até encontrar possíveis assinaturas bioquímicas, que apontem para a possibilidade de vida.

As três luas geladas terão atenções diferentes, até pelas suas caraterísticas. Europa é a mais ativa e intempestiva, com sinais claros de renovação constante da crosta de gelo, com evidências de atividade vulcânica subaquática, o que aumenta a possibilidade de vida. Estima-se que contenha o dobro da água dos oceanos da Terra.

Por ser a mais estudada até agora - e ser alvo de uma missão específica por parte da NASA, denominada Europa Clipper, a lançar em 2024 -, Europa será a lua a quem a Juice prestará menos atenção, concentrando apenas dois dos 35 sobrevoos planeados para os quatro anos que deverá durar a missão.

Calisto, por sua vez, representa um testemunho do que foi o sistema Júpiter no início da história do Sistema Solar. Com uma superfície escura, antiga e muito marcada por crateras, também pode ter um oceano “escondido”.

Já a Ganimedes aponta-se um oceano mais salgado do que os oceanos da Terra. O seu potencial e características únicas farão com que seja o alvo que vai tomar mais tempo de observação a Juice, que lhe dedicará nove meses inteiros.

Ainda assim, dos 35 sobrevoos previstos, a maioria será em redor de Calisto, "sobrando" 12 sobre Ganimedes, a maior lua do Sistema Solar. Com 5.268 km de diâmetro, Ganimedes é maior do que o planeta Mercúrio e é a única a ter um campo magnético próprio, um dos muitos itens que Juice estudará em detalhe.

Para fazer tudo isso, a sonda europeia construída pela Airbus foi equipada com os maiores painéis solares já lançados numa missão interplanetária. Ao todo são 85 metros quadrados de placas fotovoltaicas, cuidadosamente dobradas para o lançamento, aguardando ordem para a abertura no espaço. Os grandes painéis justificam-se pela necessidade de fornecer energia à sonda em quantidade suficiente enquanto orbita Júpiter, que está cerca de cinco vezes mais distante do Sol que a Terra.

Ao todo, a Juice leva 10 instrumentos de última geração, que formam o mais poderoso conjunto de análise sensorial remota, de análise geofísica e “in situ” alguma vez enviado para o Sistema Solar externo.

O conjunto de ferramentas sensoriais (JANUS, MAJIS, UVS, SWI) inclui recursos de imagem e imagem espectral, do ultravioleta aos comprimentos de onda submilimétricos. Para análise geofísica existe um altímetro a laser (GALA) e uma sonda de radar (RIME) para explorar a superfície e a subsuperfície das luas, e uma experiência científica de rádio (3GM) para sondar as atmosferas de Júpiter e as suas luas e medir os respetivos campos de gravidade. Para análise “local” há instrumentos dedicados ao estudo do ambiente de partículas (PEP), um magnetómetro (J-MAG) e um instrumento de rádio e ondas plasma (RPWI), incluindo sensores de campos elétricos e magnéticos e quatro sondas Langmuir.

A sonda europeia está, neste momento, encapsulada e colocada no topo de um foguetão e Ariane 5, “pronta para largar” na próxima quinta-feira, dia 13 de abril, salvo imprevistos técnicos ou meteorológicos. O lançamento é feito a partir do centro de Kourou, operado pela ESA na Guiana Francesa.

Será o início de uma longa jornada de oito anos, que vai envolver o recurso à gravidade da Lua, da Terra e de Vénus para ganhar impulso até Júpiter, onde Juice só deverá chegar em julho de 2031. A partida está marcada para as 13h15 de Portugal Continental e pode ser acompanhada numa transmissão em direto, pela ESA Web TV.