No início de fevereiro, a União Astronómica Internacional (IAU na sigla inglesa) criou um centro dedicado à proteção dos céus noturnos contra a interferência de constelações de satélites. O centro é fruto de um consórcio de diversos laboratórios, observatórios e especialistas, que procura encontrar soluções para a “poluição” do céu noturno que impedem a realização de observações para propósitos científicos.

Apesar da constelação Starlink da SpaceX ser a que mais tem chamado atenção com os lançamentos constantes de satélites ao espaço, outras empresas são também responsáveis pelo acumular de objetos em baixa órbita terrestre, como a OneWeb. “Os satélites vão ser usadas cada vez mais para aplicações comerciais”, diz a IAU, dando o exemplo do acesso à internet através dos satélites de comunicação. Mas embora a criação das constelações de satélites, com dezenas de milhares de aparelhos a voar em órbitas entre os 500 e 1.000 quilómetros, tenha o benefício tecnológico, também tem os seus problemas.

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Fotografia ótica captada pelo Observatório Lowell no Arizona, nos Estados Unidos, que capta o rastro de 25 satélites Starlink, dias depois de terem sido lançados ao espaço. É referido que esta observação dificilmente conseguirá ser utilizada para propósitos científicos. Crédito: Victoria Girgis/Lowell Observatory

O principal problema apontado é o reflexo da luz solar, que transformam os satélites em fontes luminosas em movimento, que podem ser uma fonte significativa de interferência nas observações astronómicas. E não afeta apenas a astronomia profissional, como amadores, que chegam mesmo a ser vistos a olho nu quando circulam a baixas órbitas. Estes também têm interferências em telescópios de radiofrequências.

Com o nome literal de “Protection of the Dark and Quiet Sky from Satellite Constellation Interference”, o centro procura encontrar soluções para proteger o céu da contaminação excessiva das constelações. Tem como objetivo contribuir para que haja uma coexistência entre a inovação dos satélites e a investigação necessária do espaço. O centro, através da equipa internacional que inclui todos os observatórios à volta do planeta, vão investigar soluções técnicas e de software para lidar com a interferência.

Um dos seus papéis será ajudar as próprias empresas, como a SpaceX, a tornar os seus satélites mais “invisíveis”. Por outro lado, terá a tarefa de alertar políticos, legisladores e o público em geral do quão rápido se está a chegar ao problema da contaminação do céu noturno e a necessidade de medidas de proteção, é mencionado no comunicado. Através do centro, é criada uma voz unificada dos astrónomos que querem proteger o céu noturno.

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Simulação das órbitas de 6.400 satélites projetados no céu durante 2.000 segundos de observações, que incluem Starlink e OneWeb. Fonte: Workshop Dark and Quiet Skies for Science and Society, Santa Cruz de la Palma

Ainda na semana passada a empresa de Elon Musk lançou mais 49 satélites ao espaço para a sua constelação Starlink, que já soma mais de 2.000 unidades em órbita. O grupo de satélites desta quinta-feira, denominado Grupo 4-7, é o terceiro carregamento da rede de satélites Starlink do SpaceX deste ano, após duas missões em janeiro.