Hoje assinala-se o Dia Mundial do Cérebro e há muito ainda para descobrir sobre a forma como funciona e as doenças que o afetam e para as quais não existe tratamento. Esclerose Múltipla, Alzheimer, Parkinson ou Atrofia Muscular Espinhal são patologias que têm um peso cada vez mais relevante no sistema de saúde e que representam ainda um grande desafio.
Esta é uma área onde a investigação tem ajudado a trazer novos desenvolvimentos, e onde a tecnologia é também aliada para a recolha e avaliação da informação que é depois usada pelos cientistas para desenvolver novas soluções. Mesmo os equipamentos que usamos no dia a dia, como smartwatches, smartphones ou tablets.
A Biogen é uma das empresas que se dedica à área das neurociências e Rita Lau Gomes, Diretora Médica da Biogen Portugal e EU 19, explica que existe uma elevada necessidade médica não preenchida nas neurociências, cujas patologias associadas têm muito poucas ou nenhumas opções de tratamento. “A própria compreensão desta área ainda não é total, havendo ainda muitas incógnitas e mecanismos por descobrir, o que é de facto um grande desafio”, indica, em entrevista ao SAPO TEK.
A empresa foi fundada em 1978 por um grupo de cientistas, dois dos quais vencedores de Prémios Nobel, e está centrada na descoberta e inovação e no objetivo de encontrar soluções terapêuticas para doenças neurológicas, atuando em Portugal há 19 anos onde tem um centro que conta com 36 colaboradores.
A diretora médica lembra que a “Biogen, na sua missão de pioneira nas Neurociências, foi já responsável pelo principal portefólio de medicamentos direcionados para o tratamento da Esclerose Múltipla, assim como pela introdução do primeiro medicamento aprovado para a Atrofia Muscular Espinhal, e ambiciona continuar a trazer respostas terapêuticas e uma melhor qualidade de vida para as pessoas com doenças neurológicas”.
O futuro da inovação tecnológica nesta área tem vários cenários possíveis, sendo que um deles passa pela aceleração e adoção do papel da tecnologia na Neurociência, defende Yacine Hadjiat, Head of Digital Health Solutions da Biogen Digital Health. “Por adoção, entenda-se por parte dos pacientes, através da aceleração da propriedade dos seus próprios cuidados de saúde, bem como da utilização dos cuidados de saúde, profissionais de saúde e reguladores – pagadores com a maturidade do ecossistema”, afirmou em declarações ao SAPO TEK.
Mas, para que isso seja possível, é necessária a adoção em larga escala de todo o ecossistema por parte de todos os stakeholders, tornando os cuidados através das Neurociências e da tecnologia algo normal e aplicável no dia a dia, sublinha.
“No futuro, poderíamos também antecipar uma normalização das tecnologias, incluindo-as como parte da jornada de prestação de cuidados a um doente, e não apenas associadas a uma condição ou componente complementar”, sublinha Yacine Hadjiat.
Na sua visão, as tecnologias fazem parte de um pacote de cuidados maior e mais completo, que pode ser oferecido ao paciente e/ou à Investigação & Desenvolvimento. Os equipamentos que já transportamos no dia a dia, como smartphones e smartwatches, são aliados na recolha de informação, e fazem parte dos dispositivos que são cada vez mais utilizados nos cuidados de saúde e na neurociências. “Estes dispositivos já são utilizados para medição, avaliação e acompanhamento, especificamente em doenças neurológicas. E isto é apenas o começo”, afirma.
A Biogen tem várias soluções que tiram partido de tecnologia disponível, como a app Cleo e a plataforma myBiogen. O responsável de soluções digitais da Biogen Digital Health refere também a Konectom, uma app para smartphones que aproveita os sensores do equipamento, biomarcadores digitais, e a capacitação dos pacientes para melhorar a forma como são avaliadas e monitorizadas as doenças neurológicas. “Esta solução avalia funções neurológicas-chave tais como a cognição, controlo motor fino e bruto, marcha e mobilidade em estudos clínicos, em contexto clínico ou remotamente”, refere.
“É graças à tecnologia e à grande quantidade de dados recolhidos que somos capazes de obter uma quantidade muito maior de informação com uma resolução muito mais granular. Isto abre horizontes extraordinárias em termos de como avaliamos, monitorizamos, prevemos e atuamos, especificamente sobre patologias neurológicas”, sublinha o Head of Digital Health Solutions da Biogen Digital Health.
“Hoje em dia, podemos captar padrões que antes não conseguíamos identificar. Agora podemos prever mudanças que antes não conseguíamos prever”, afirma.
Um futuro com mais tecnologia
O desenvolvimento da tecnologia está avançar para a integração cada vez mais aprofundada de dispositivos médicos, permitindo que cegos possam voltar a ver, membros artificiais sejam controlados pelo cérebro, ou até implantar chips que permitem comunicar pensamentos, como os desenvolvidos pela Neuralink de Elon Musk ou a Synchron.
Yacine Hadjiat admite que no futuro podemos ter dispositivos implantados no nosso corpo que nos permitam recolher dados que possam melhorar a monitorização, a prevenção e a previsão, e que em certa medida já este o caso, como acontece com a diabetes e as patologias cardiovasculares.
“Será que amanhã teremos chips implantados no cérebro? É difícil de dizer - há investigação em curso sobre isto e empresas a trabalhar nesse sentido. Se serve um propósito significativo e é feito de forma apropriada, sim, eu gostaria de o ver”, afirma o Head of Digital Health Solutions da Biogen Digital Health
“A minha visão do futuro da Digital Health, espero que mais cedo do que tarde, é que estas tecnologias, na sua diversidade e na sua utilidade, sejam totalmente integradas nos cuidados e que não sejam algo para os poucos felizes ou algo "hype"", diz Yacine Hadjiat.
Para o investigador, um dia as intervenções tecnológicas nos cuidados de saúde vão tornar-se um dos muitos vetores normalizados. “Há setenta anos atrás, fazíamos moléculas grandes; há dez anos atrás, falávamos de terapia genética; agora estamos a falar de mRNA”, explica, dizendo que todos estes desenvolvimentos têm gerado muitas fantasias e que estão agora completamente integrados nos cuidados de saúde. “Talvez daqui a dez anos, ou mesmo muito mais cedo, estaremos a fazer intervenções tecnológicas como fazemos hoje com os antibióticos, as vacinas. Naturalmente e em escala”, sublinha.
A inteligência artificial entra também nas contas, não como um rival mas um capacitador, ou catalisador, permitindo abrir novas portas e acelerar a neurociência. “Para mim, é um grande "capacitador" e território que permite transformar a tecnologia num elemento de aceleração dos cuidados e da Investigação & Desenvolvimento”, adianta, indicando que a Biogen Digital Health trabalha em aliança com empresas como a Icometrix ou a Therapanacea, especificamente no campo da radiómica e na aprendizagem de máquinas e inteligência artificial para tratamento personalizado e precoce em neurologia.
“Estas não são soluções que competem com a ciência e o trabalho dos médicos. Pelo contrário, estão a ajudar a fazer avançar a ciência”, defende, explicando que a IA não vai substituir os médicos mais vai permitir que se tornem mais eficientes, complementando o trabalho humano e tornando-o mais relevante.
Portugal com potencial para ser um hub nas neurociências
Rita Lau Gomes admite que “ao nível da saúde digital aplicada às Neurociências, Portugal é um dos países europeus que tem tudo para se tornar um hub de excelência”, indicando fatores como o acesso alargado à internet e 5G, um ensino de excelência na área da saúde e tecnológica, que coloca os portugueses como profissionais de excelência em cada disciplina e no cruzamento das mesmas; e a dimensão do país, que permite ser uma incubadora de projetos nestas áreas.
A diretora médica da Biogen adianta ainda que “em Portugal temos centros de investigação experientes e especialistas nas várias áreas das Neurociências, reconhecidos internacionalmente pelo seu conhecimento e investigação desenvolvida”.
“A Biogen aposta fortemente em estabelecer parcerias com estes centros e em trazer estudos clínicos para Portugal (nomeadamente em áreas como a Esclerose Múltipla, a Doença de Alzheimer e Acidente Vascular Cerebral), e desta forma contribuir para o acesso precoce à inovação dos doentes com estas patologias”, acrescenta, referindo ainda que “atualmente, a Biogen tem 29 moléculas em desenvolvimento clínico, nas quais centros portugueses participam em 7 dos seus programas”.
A empresa apoia ainda vários estudos que estão a decorrer em Portugal por iniciativa dos investigadores ou em parceria com os mesmos, num total de 11, e que são desde estudos de fase 4, a registos ou estudos observacionais.
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