Um grupo de neurocientistas norte-americanos desenvolveu um novo sistema que consegue descodificar os impulsos cerebrais associados à escrita. A tecnologia, que combina machine learning com implantes cerebrais e uma interface computacional, permite a alguém que esteja paralisado escrever com a mente.
A equipa de cientistas, que publicou as conclusões do seu estudo no artigo na revista científica Nature, trabalhou com um voluntário de 65 anos que estava paralisado do pescoço para baixo devido a uma lesão na medula espinal. À medida que o participante do estudo imaginava o ato de escrever determinadas letras, a sua atividade cerebral foi traduzida em tempo real por um algoritmo, apresentando o texto num ecrã.
De acordo com os especialistas, o voluntário conseguiu escrever mentalmente a uma velocidade recorde de 90 carateres por minuto, o que corresponde aproximadamente ao ritmo de alguém com a mesma idade a escrever num smartphone. Em outros testes realizados anteriormente, a velocidade máxima atingida tinha sido de 40 carateres por minuto.
Segundo Krishna Shenoy, investigador no Howard Hughes Medical Institute e coautor do estudo, já existem métodos de descodificação com machine learning que permitem gerar um conjunto máximo de 50 palavras diferentes. Por contraste, o sistema desenvolvido, que permite captar os sinais de centenas de neurónios individuais, permite gerar qualquer letra ou palavra, aumentando o vocabulário que pode ser usado.
A tecnologia desenvolvida poderá ajudar pacientes em condições semelhantes à do voluntário a comunicar mais facilmente. A equipa de neurocientistas pretende agora trabalhar com participantes que tenham esclerose lateral amiotrófica, a mesma condição que o físico Stephen Hawking tinha.
Recorde-se que a Neuralink, a empresa de Elon Musk dedicada à investigação de implantes cerebrais, também está a desenvolver uma tecnologia semelhante e que será usada principalmente para ajudar pessoas com problemas do foro neurológico a terem melhores condições de vida.
Desde que foi anunciado oficialmente em 2017, o projeto tem vindo a fazer progressos. Em agosto do ano passado, a empresa fez uma demonstração ao vivo de como funciona o seu “Fitbit para o cérebro” com um conjunto de três porcos. Uma das cobaias foi apresentada como um caso de sucesso, demonstrando que um ser vivo consegue sobreviver sem problemas cerebrais depois da implantação e remoção do implante.
Mais recentemente, a Neuralink demonstrou que conseguiu usar a sua tecnologia para colocar um macaco a jogar Pong com a mente. Ainda em outubro de 2019, a empresa tinha conseguido pôr um macaco a controlar um computador com o seu cérebro. Ainda no mesmo ano, a Neuralink avançou que estava a testar cerca de 1.500 elétrodos em ratos.
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